domingo, 31 de maio de 2015

Um Homem Bom




Em O Evangelho segundo o Espiritismo encontramos a informação de que os homens de bem ignoram que são virtuosos.
Eles deixam-se ir ao sabor de suas aspirações e praticam o bem com desinteresse completo e inteiro esquecimento de si mesmos.
Pessoas assim existem muitas espalhadas por esse imenso mundo de Deus. Em todas as épocas, em todas as nações.
Longe, muito longe. E bem perto de nós. Por isso, prestemos atenção para não perdermos a chance de nos mirarmos em seu exemplo.
Assim era com Hans. Um pintor de paredes no século XX. Um homem simples que morava numa rua pobre, perto de Munique, na Alemanha.
Ele fora convocado para a Primeira Guerra Mundial. E voltara para casa, ileso.
Agora, a Segunda Guerra Mundial batia às portas e apertava o cerco a cada dia. Como uma megera que avançasse, penosamente se movimentando, entre as brumas do medo e da insegurança.
Quando a perseguição aos judeus se estabeleceu, ele perdeu muitos clientes. Afinal, os judeus tinham posses e, até há pouco, eram seus melhores clientes.
Agora, eles eram os indesejados sobre a face da Terra. Ao menos naquele pedaço de terra governado pela loucura daqueles dias.
Então, veio o aviso de que as bombas estavam chegando sempre mais próximas. Havia quem não acreditasse que aquela cidadezinha dos arredores de Munique pudesse constituir um alvo.
Mas os abrigos foram marcados e as janelas tinham que passar pelo processo de escurecimento para as horas noturnas.
Para Hans, foi uma oportunidade de trabalho. As pessoas tinham venezianas que precisavam ser pintadas. De preto.
Verdade que a tinta logo se esgotou. Mas ele pegou pó de carvão e foi misturando. Foram muitas as casas de todas as regiões de Molching das quais ele confiscou dos olhos inimigos a luz das janelas.
Muitas vezes, na volta para casa, mulheres que nada tinham além de filhos e miséria, corriam para ele e imploravam que pintasse suas janelas.
Ele poderia sugerir que elas utilizassem cobertores para pendurar nas janelas.
No entanto, sabia que eles seriam necessários quando chegasse o inverno.
Desculpe, não me sobrou tinta preta. – Dizia ele. Amanhã bem cedo. – Marcava.
E lá estava ele, na manhã seguinte, pintando as tais janelas. Por nada. Ou por um biscoito e uma xícara de chá quente.
Por vezes, uma conversa, no degrau da frente dessa ou daquela casa. E o riso se erguia da conversa, antes de partir para o trabalho seguinte.
Um homem bom. Pobre, servia a quem mais pobre fosse. E servia com alegria.
A bondade é assim: Espalha a sua graça, deixa as suas benesses, enquanto o doador segue adiante, para continuar a distribuí-la a mãos cheias.


Redação do Momento Espírita

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Perante o Mal




A Lei de Talião representou um progresso nos costumes da Humanidade.
Em decorrência dela, a vingança passou a ter limites.
Antes, por conta de uma ofensa, considerava-se justo dizimar toda a família do ofensor.
Depois, passou a ser olho por olho e dente por dente.
Ou seja, o mal que se retribuía não podia ser maior do que o recebido.
Jesus Cristo veio trazer a contribuição definitiva nessa seara.
Assentou que não se deveria resistir ao mal.
Que se alguém batesse na face direita, era preciso oferecer também a esquerda.
Que se alguém tomasse a vestimenta, convinha deixar também a capa.
Que se alguém obrigasse a andar uma milha, era para andar com ele duas.
São palavras fortes e plenas de simbolismo.
Por certo não significam se deva permitir que a agressividade e a violência tomem conta da Terra.
Não constituem autorização ou incentivo a que os fracos se transformem em besta de carga dos fortes.
Seu significado profundo parece ser o de que apenas o amor é eficiente no enfrentamento com o mal e os maus.
O revide, o ressentimento e o desejo de vingança apenas prolongam os desequilíbrios humanos.
Sob a égide do Cristo, deve instalar-se uma nova ordem de paz e generosidade.
O discípulo de Jesus é pacífico e pacificador.
Ele é manso, compreensivo, ordeiro e confiante na Justiça Divina.
Perante uma ofensa, em geral três condutas são possíveis: revidar, fugir ou oferecer a outra face.
O revide implica a continuação da luta e do desequilíbrio.
A fuga transfere o clima de ódio para solução futura e denota fraqueza moral, que estimula o violento.
A última alternativa é, sem dúvida, a mais difícil.
Perante a ofensa, oferecer a face contrária, a do perdão.
Esse ato de grandeza, consistente na imediata compreensão do desequilíbrio que há em qualquer ato mau, desestabiliza o agressor.
De repente, ele se vê lamentável como é, perante a serenidade do ofendido.
A violência tende a morrer asfixiada no algodão da paz que envolve quem ama.
É impossível vencer alguém com grandeza moral.
Em face dele, toda vitória é aparente e com sabor de cinzas.
Alguém em paz e pronto a desapegar-se da manta e da capa.
Que tem paciência e caminha mais do que o solicitado ao lado de quem lhe impõe o esforço.
Certamente não é fácil adotar esse gênero de conduta.
Entretanto, Jesus não apenas ensinou, como exemplificou.
Soube doar-Se em holocausto e Sua proposta vitoriosa segue transformando lentamente a Humanidade.
E é dEle o convite que ressoa através dos séculos:
Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!


Redação do Momento Espírita

terça-feira, 26 de maio de 2015

Normose



A palavra normose foi criada na França pelo escritor e conferencista Jean-Ives Leloup para designar, em síntese, essa forma de comportamento visto como normal mas que, na realidade, não é normal.
Transportando esse conceito para observação da sociedade atual verificamos que as pessoas se pautam por padrões estabelecidos por alguém ou um grupo, em algum momento.
Por exemplo, segundo padrões da moda atual, ser normal é ser magro e bonito.
Para isso, vale dieta e, a cada dia surge uma diferente, ditada por essa ou aquela celebridade que afirma ter conseguido o peso ideal em um tempo mínimo.
Para alcançar as medidas ideais da dita normalidade vale a frequência a academias, com rigorosos exercícios físicos, massagens e tudo o mais que possa permitir atingir o idealizado.
E depois vêm as cirurgias para modificar o que seja possível alterar.
Não escapam os dentes, que devem ser perfeitos e brancos e, para isso, submetem-se as pessoas a aplicações de laser, porcelana e o que mais seja necessário.
Não importa se algo faz mal à saúde. O importante é ser normal que inclui, ao demais, estar sempre na moda, vestir a roupa do momento, custe o que custar.
Gastam-se verdadeiras fortunas com cabeleireiros, maquiagem, produtos de beleza.
Porque não se pode perder festa alguma. Nem evento importante. Isso logo nos desqualificaria como um ser normal.
Naturalmente, é louvável o cuidado com o corpo, a atenção ao parecer bem, à elegância. Faz parte da evolução da criatura cultivar o belo, o bom.
Mas daí aos exageros, aos excessos vai uma distância que prima pela insensatez.
Gasta-se o que não se tem, finge-se o que não se é. Tudo para parecer normal... como os demais.
Que padrão de normalidade, afinal, estamos elegendo? Algo totalmente físico, exterior, passageiro, em detrimento de valores reais?
Será isso que desejamos para os nossos filhos, a Humanidade do amanhã?
Desejaremos uma Humanidade de pessoas esquálidas, bulímicas, estressadas e vazias de conteúdo?
Cabe-nos pensar um pouco, antes que nossos filhos, por não atenderem aos padrões ditados por alguns se lancem no fundo poço da depressão, perdendo as oportunidades de progresso nesta vida.
Estamos na Terra para angariar sabedoria, ilustrar a mente, dulcificar o coração, ascender à perfeição.
A mente se ilustra com estudo, reflexão, esforço. O coração se dulcifica no exercício do bem ao próximo, entendendo que as diferenças existem para permitir realce à verdadeira beleza.
Invistamos nisso. E, em vez de nos esgotarmos em horas e mais horas de trabalho para conseguir mais dinheiro para atender a necessidades tolas, reservemos tempo para conviver com a família, com os amigos.
Reservemos tempo para leituras, alimentando as ideias; para a reflexão, a fim de nos enriquecermos interiormente.
Tempo para olhar o nascer do sol e seu desaparecer no poente, para ouvir a sinfonia da chuva em dias quentes, o agradecimento da terra pela água que sorve, com sofreguidão.
Tempo para amar, para viver, para ser um humano de valor, para ser feliz.

Pensemos nisso.


Redação do Momento Espírita

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Considerações Sobre a Vingança




A vingança é uma espécie de justiça bárbara, de tal maneira que quanto mais a natureza humana se inclinar para ela, tanto mais deve a Lei exterminá-la.
Porque a primeira injúria não faz mais que ofender a Lei, ao passo que a vingança da injúria põe a Lei fora do seu ofício.
Estas são algumas considerações do filósofo e ensaísta inglês Francis Bacon sobre esse movimento de revide do mal, que ainda tem tanto poder em nós.
Ele acrescenta: De certo, ao exercer a vingança, o homem iguala-se ao inimigo; mas, passando sobre ela, é-lhe superior; Porque é próprio do príncipe perdoar.
O que passou, passou, e é irrevogável; Os homens prudentes já têm bastante que fazer com as coisas presentes e vindouras; não devem, portanto, preocupar-se com bagatelas como o trabalhar em coisas pretéritas.
Porque hei-de ficar ressentido com alguém, apenas pela razão de que ele mais ama a si próprio do que a mim? E se alguém me fez mal, apenas por pura maldade, então, esse é unicamente como a roseira e o cardo que picam e arranham apenas porque não podem de outra forma proceder.
Destas sábias colocações, que refletem igualmente o pensamento cristão, retiramos reflexões muito importantes:
Você sabia que quando se vinga, torna-se igual, ou mais baixo que seu ofensor?
Você sabia que quando não aceita uma ofensa, ou um mal qualquer, este mal permanece com quem o criou e não o atinge?
Você sabia que quando gasta seu tempo, suas energias, planejando e cultivando sentimentos de vingança, deixa de produzir o bem?
Por isso, é tempo de tomarmos o controle de nossas emoções, de domarmos nossos sentimentos inferiores, percebendo que só temos a ganhar se deixarmos de odiar.
Este é o início do perdão.
Talvez você ainda não esteja preparado para perdoar certas coisas que lhe aconteceram, por serem recentes ou mesmo muito traumáticas. Não se preocupe.
O perdão é um processo. Um passo de cada vez. E o primeiro passo trata da autopreservação, isto é, de cuidar da sua saúde, física e mental, pois quem guarda mágoa está se envenenando, diariamente, sem saber.
Assim, o primeiro passo é: deixe de odiar.
Conforme tão bem disse o pensador citado:
Porque hei-de ficar ressentido com alguém, apenas pela razão de que ele mais ama a si próprio do que a mim? E se alguém me fez mal, apenas por pura maldade, então, esse é unicamente como a roseira e o cardo que picam e arranham apenas porque não podem de outra forma proceder.
Sim, há pessoas num estado de desequilíbrio tão avançado, enfermos da alma, que só conseguem agir dessa forma, infelizmente.
Ainda irão despertar, ainda terão que se corrigir e arcar com suas responsabilidades, mas, não será o ódio, nem a vingança, que irão conseguir esse intento.
Por isso, siga adiante... Você é maior do que tudo isso.Você não merece viver encarcerado no ódio. Pense em sua saúde, pense em sua família, nos que o amam verdadeiramente. Esses lhe querem ver bem, e não adoecido.
É preciso ser maior do que a vingança, do contrário ela nos consumirá aos poucos.

Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Presente sem igual


Ele era um foragido. Um judeu em meio ao tormento da Segunda Guerra Mundial.
Todos os dias sua consciência o acusava de covardia. Covardia moral por ter abandonado sua mãe, seus primos, quando lhe foi acenada a possibilidade de sobreviver, ocultando-se.
Por que somente ele? – Perguntava-se diariamente.
E todos os dias se desculpava com o casal que o mantinha escondido no porão frio naquele inverno interminável.
Desculpava-se por ter pensado mais na própria vida do que no risco a que expusera ambos, ao pedir asilo.
E havia a criança. Uma adorável menina que acabara de completar doze anos.
Naqueles dias de tanta carestia, ela ganhara do pai um livro usado. Que tesouro!
Ele, o sobrevivente, se desculpara por não lhe dar nada. Afinal, nada tinha de seu.
Liesel, a garota encantadora, se aproximara e enrodilhara os braços em torno do pescoço dele:
Obrigada, Max.
Ela era a aniversariante e ele ganhava o presente.
Ao contato daquele abraço, ele levantou as próprias mãos e as encostou nos ombros de Liesel.
Aquele abraço lhe falava de afeto, família, carinho. Tudo tão distante, perdido na névoa dos meses, do medo e das incertezas diárias.
Nos dias que se seguiram, ele decidiu que lhe daria um presente.
Por isso, tomou do livro escrito por Hitler, que recebera para se instruir e destacou quarenta páginas.
Imaginou que precisaria de treze mas, como deveria cometer alguns erros, resolveu se prevenir com maior número.
Da pilha de latas de tinta que o ocultava, destacou uma, abriu-a e pintou cada uma das páginas, deixando-as a secar em um varal improvisado.
Na sequência da semana, ele desenhou e escreveu a história de um fugitivo. A sua história.
E de seu encontro com uma menina que lhe ofereceu afeição. A ele, um judeu em terreno alemão.
As páginas receberam dois furos na margem, feitos à faca e depois foram unidas com barbante.
Então, numa madrugada silente, ele deixou seu esconderijo, subiu os degraus, foi ao quarto da menina e depositou a preciosidade ao lado da cama.
Ao despertar, vencendo o medo e o frio, ela desceu os degraus da escada. Embora não passasse de alguns metros, a distância pareceu de quilômetros.
O coração lhe batia descompassado no peito. Ela colocou sua mão no ombro dele, que dormia.
Não o despertou. Sentou-se, reclinou a cabeça, dobrando-se sobre si mesma e continuando com a mão no ombro dele, deixou-se ali ficar como quem vela o sono de alguém precioso e inestimável.
Nascia naquele momento uma verdadeira e profunda amizade.
*   *   *
A afeição surge de formas inusitadas, em estranhas situações.
Percebê-la, manifestar gratidão e alimentá-la é decisão pessoal.
Por vezes, gestos pequenos expressam sentimentos profundos.
Pensemos nisso e prestemos maior atenção a detalhes que somente parecem ser insignificantes.
Sobretudo, que haja sempre flores de gratidão no jardim das nossas palavras, no sol do sorriso e nos gestos, em retorno ao doador que nos agracia com sua oferta.
Pensemos nisso...
 

Redação do Momento Espírita, com base na pt. IV do livro A menina que roubava livros, de Markus Zusa

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Um Artista de Imaginação Delirante




Você já observou, alguma vez, um caracol, andando com sua casa às costas?  A concha, em verdade, lhe abriga os órgãos e é uma proteção extra contra a desidratação e os predadores.
Em condições adversas, o caracol recolhe o pé e a cabeça para dentro dela. Sela a abertura com um muco espesso, podendo se colar a superfícies. Por isso, os encontramos presos a troncos, folhas ou muros.
O caracol é um dos moluscos mais comuns. Contudo, existem muitas espécies que, calcula-se, vivam no mar há cerca de quinhentos e cinquenta milhões de anos.
O que encanta, em verdade, nessas criaturas de corpo mole, é exatamente a sua proteção, a concha calcária.
Existem colecionadores que pagam fortunas por algumas dessas preciosidades. As formas, as cores, o brilho são inigualáveis.
A superfície das denominadas conchas cipreas, por exemplo, levou os navegadores portugueses, que as encontravam, de forma abundante, na costa africana, a pensar que era a partir delas que os chineses fabricavam a porcelana. Daí, o seu nome popular de porcelanas.
Uma variação dessa espécie foi definida por um estudioso como uma obra de arte somente concebida por um artista de imaginação delirante. Ela traz, no dorso, um padrão que faz lembrar um delicado mosaico duma antiga civilização, ao qual se sobrepõem misteriosas manchas escuras.
Apresenta, ainda, um mosaico de ladrilhos menores e mais esparsos. Finalmente, a base mostra pintas escuras num fundo quase branco, semelhantes ao que se vê na zona do ventre de muitos felinos, como o leopardo e o jaguar.
Nativa do Oceano Índico, existe também na Austrália e o seu tamanho varia entre dois a oito centímetros.
Existem ainda as conchas em forma de cone, que incluem centenas de espécies distribuídas por todo o mundo. Coloridas por fora, têm o interior raiado de madrepérola.
Maravilhas infindáveis da natureza!
Conchas caprichosas com imagens em alto relevo, que representam um rosto que parece ser de uma mulher, ou a que se assemelha a uma imagem de Cristo, alcançam, no mercado, o valor de até três milhões de euros.
O homem pode tomar dessas belezas e as polir, enaltecendo ainda mais o seu aspecto.
Contudo, as mais de cinquenta mil espécies existentes apresentam sutilezas, detalhes únicos, que extasiam os colecionadores e os fazem desejá-las.
Muitos homens se dedicam a encontrá-las, recolhê-las, classificá-las, estudá-las. Alguns, pelo puro prazer de decifrar e admirar os mistérios da natureza. Outros, pelo valor que podem adquirir no mercado.
E existem aqueles que, admirando tais belezas somente recordam do Artista de imaginação delirante. E erguem louvores ao Senhor da Vida. A Quem idealizou tudo isso, inesgotável em Sua Criação.
Esses cogitam que, enquanto o homem dorme, Deus esculpe arabescos nas conchas e inventa novas cores para as enfeitar.
Em oração, exclamam: Senhor Deus, Pai dos céus e de toda a Terra. Ajuda-nos a entender a Tua grandeza. Permite-nos agradecer a riqueza que nos ofereces, a oportunidade do estudo e o prazer do descobrimento.
Afinal, neste dia que apenas desponta, que maiores maravilhas ainda nos reservas? O que fizestes, Senhor dos mares, enquanto nós dormíamos?


Redação do Momento Espírita

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Num Dia Como o de Hoje



Num dia como o de hoje, crianças desvalidas morrerão sem sonhos e sem pão... Mas, também, almas generosas poderão ser vistas auxiliando os órfãos a se tornarem menos tristes.
Num dia como o de hoje, mães herdarão os troféus de guerras sangrentas... Porém, em algum lugar, uma outra agradecerá a Deus pelo filhinho que respira.
Num dia como o de hoje, um assassino enlouquecido marcará com sangue a sociedade que o repele e o odeia... Porém, não longe da iniquidade, transbordará a graça de milhares de atos silenciosos de renúncia.
Num dia como o de hoje, um convite à corrupção chegará aos seus ouvidos intranquilos... Mas, um olhar amigo chamará você à reflexão.
Num dia como o de hoje, bactérias resistentes trarão medo e desafios difíceis... Porém, no deserto de desilusão, alguém semeará a confiança.
Num dia como o de hoje, você poderá ouvir centenas de inverdades desesperadoras... Mas, bastará enxergar o céu, o sol, a chuva, o mar e a criança dormindo, para que você perceba as mãos do Altíssimo sobre tudo e sobre todos.
Num dia como o de hoje, almas desequilibradas estimularão sua paciência e sua capacidade de exercer o bom aprendizado... Porém, não desista se a recaída da intempestividade se fizer presente.
Num dia como o de hoje, talvez você pense em desistir de um sonho superior, talvez até escute o convite amargo do pensamento suicida... Mas, por favor, espere até amanhã, não desista assim...
Num dia como o de hoje, todos nós estivemos sujeitos a derrapar no caminho, e quem sabe até derrapamos. Porém, já nos propomos a refletir e a gentilmente ouvir mensagens como esta... Portanto, hoje estamos, sem dúvida, melhores do que ontem.
Num dia como o de hoje, ainda há chances de acrescentar uma estrela luminosa em nossa trajetória na escola da vida...
Num dia como o de hoje, poderemos saltar séculos para a felicidade plena, ou atrasar a caminhada com milênios de arrependimento.
*   *   *
São nossas as escolhas.
Escolhemos ver a vida apenas através das lentes do pessimismo, ou escolhemos ver o lado bom de tudo.
São nossas as escolhas.
Escolhemos crescer, aprender, modificar. Ou escolhemos estagnar, conformar, permanecer.
São nossas as escolhas.
Lembremos sempre disso.

*   *   *

Toda escolha que você faça pelos caminhos da sua vida terrena, apresentará aos que o cercam e acompanham o grau da sua maturidade, o nível dos seus ideais, a qualidade de tudo quanto o sensibiliza.
Será consequente que os seus irmãos de jornada passem a conceber imagens suas, caricatas ou não, em função do que você elege para a sua existência.
Sobre o mundo você será sempre o retrato dos seus gostos, dos seus interesses, das suas ações.
Cada gesto seu conduzirá um retrato do que você é, um recorte dos seus comportamentos.
Bom será que esses gestos demonstrem equilíbrio, bom senso, harmonia, para que alcancem a felicidade após serem vistos e observados por incontáveis criaturas.


Redação do Momento Espírita

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Crianças e Nós



Muitos setores das ciências psicológicas asseveram que é indispensável preservar a criança contra a mínima coação, a fim de que venha se desenvolver sem traumas que lhe prejudicariam o futuro. Isso, no entanto, não significa que deva crescer sem orientação. 
Independência desregrada gera violência, tanto quanto violência gera independência desregrada. 
Releguemos determinada obra arquitetônica ao descontrole e teremos para breve a caricatura do edifício que nos propúnhamos construir. 
Abandonemos a sementeira a si própria e a colheita se nos fará desencanto. 
Exigimos a instituição de um mundo melhor. 
Solicitamos a concretização da felicidade comum. 
Sonhamos com o levantamento da paz de todos. 
Esperamos o reino da fraternidade. 
Como atingir, porém, semelhantes conquistas sem a criança no esquema do trabalho a realizar?
Não mergulhará teus filhos nas ondas revoltas da ira quando a dificuldade sobrevenha, e sim não te omitirás no socorro preciso, sem deixá-lo à feição de barco desarvorado ao sabor do vento. Não erguerás contra ele a palavra condenatória nos dias de desacerto, a insuflar-lhe, talvez, ódio e rebeldia nos recessos da alma, e sim procurarás sustentá-lo com a frase compreensiva e afetuosa que desejarias ter recebido em outro tempo, nas horas da infância, quando te identificavas nas sombras da indecisão. 
Sabes conduzir a criança ao concurso da escola, à assistência do pediatra, ao auxílio do costureiro ou ao refazimento espiritual nos espetáculos recreativos. Por isto mesmo não lhe sonegues apoio ao sentimento para que o sentimento se lhe faça correto. 
Concordamos todos em que a criança necessita de amor para crescer patenteando mente clara e o corpo sadio, entretanto, é impossível efetuar o trabalho do amor - realmente amor - sem bases na educação.


Chico Xavier - Emmanuel

terça-feira, 12 de maio de 2015

Pais Muito Especiais




Conta-se que, certa vez, uma mãe procurou um médium, famoso por sua dedicação ao próximo. Levava ao colo sua filha.
A menina devia ter seus sete para oito anos. Podia se perceber o esforço da mãe sustentando a própria filha nos braços.
Ela crescera e pesava. Entretanto, não podia se manter em pé, dadas as dificuldades físicas de que era portadora. Era visível, ainda, a limitação mental da criança, parecendo alheia a tudo, olhando para o nada.
A mãe, entre lágrimas, explicou que grande era o seu sofrimento em ver a filha em tais condições. Doía-lhe a alma constatar que ela, para toda a vida, precisaria ter quem a auxiliasse nas mínimas questões.
Ela não podia se alimentar sozinha, nem fazer a própria higiene, sequer deslocar-se de um para outro lado.
Era extremamente limitada.
Ela e o marido haviam aguardado com grande ansiedade o seu nascimento. Esperavam um anjo. E quando o anjo chegara, perceberam que ele tinha as asas partidas.
Não podia alçar voo. Sequer podia se manter ereto, caminhar.
Naturalmente, entre as lágrimas, uma indagação foi feita ao médium:
Por que Deus me deu uma filha excepcional? Somos um casal sem as condições adequadas para lhe oferecer.
Não temos grandes posses. Somos pessoas simples. As exigências de minha filha impedem que eu possa me dedicar a trabalho remunerado. Com isso, crescem as necessidades no lar.
Ela precisa que eu a leve ao fonoaudiólogo, à fisioterapia, além de necessitar cuidados médicos, que sempre nos surpreendem, dada a sua saúde frágil.
Por que Deus nos concedeu esta filha, sem que a possamos amparar devidamente?
O médium acariciou a cabeça da criança, demoradamente. Ela reagiu como que adormecendo, calma, no ombro materno. Depois, ele se voltou para a mãe sofrida e lhe disse:
Minha filha, acredite. Os pais de crianças especiais são muito especiais.
Se Deus lhe confiou e ao seu marido a guarda deste Espírito, encarcerado em limitações, é porque tem a certeza de que ambos darão conta de atendê-la.
Não é qualquer pessoa que pode aninhar nos braços uma criança que não oferecerá sorrisos às brincadeiras habituais dos pais, que não poderá correr atrás de uma bola, nem vestir bonecas.
Não é qualquer pessoa que tem a capacidade de amar, de forma incondicional, um ser que somente espera carinho, atenção, sem conseguir retribuir, externamente.
Sim, minha filha. Somente a seres muito especiais Deus confere tal missão.

*   *   *

 Um filho especial precisa de uma família especial. Mãe e pais, vocês são especiais. Não desanimem. Prossigam ofertando o seu amor pleno, brotado dos seus corações.
O amor cura todas as dores. O amor supera todos os óbices.
Envolvam em sua ternura a esse filho especial, cantando poemas de esperança aos seus ouvidos.
E, se parecer difícil tudo empreender, superar, oferecer, lembrem-se do Pai Altíssimo e roguem:
Senhor, dai-nos forças para passar por esta provação. Ajudai-nos a nós e a nosso querido filho. Desejamos vencer, juntos.


Redação do Momento Espírita

segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Maior dos Profetas



Uma das obras mais célebres do Século XX, rapidamente traduzida para quase todas as línguas, é a Vida de Jesus, de autoria de Ernest Renan.
Em 1862, o autor foi nomeado professor de hebraico no Collège de France. O governo de Napoleão III suspendeu o curso, após a primeira aula.
Isso porque Renan chamara Jesus de Homem Incomparável. Um Homem acima de todos os profetas, ímpar, sem igual. Mas, um homem.
Para ele, a popularidade de Jesus procedia daquele amor raro que Ele oferecia a todas as gentes, um amor incondicional.
As pessoas não estavam acostumadas a esse tratamento. Acabavam se maravilhando e entregando suas próprias crenças ao serviço da Boa Nova apaixonante.
Também o discurso do Nazareno, de fácil compreensão, cheio de parábolas sábias e ilustrativas, soava aos ouvidos como o mais belo e convincente.
Eram palavras que prometiam uma nova vida, cheia de esperança e livre das dores humanas. Uma filosofia nunca dantes apresentada.
A vida de Jesus é verdadeiramente arrebatadora. Muito a respeito dessa invulgar personalidade já se escreveu.
Seus primeiros biógrafos, os quatro Evangelistas, O retratam como um homem fora do Seu tempo.
Nem poderia ser de outra forma. Conforme os ensinos dos Espíritos, Jesus é o único Espírito Perfeito que habitou a Terra.
Por isso, Suas ações, Seus ensinos extrapolam os conceitos da Humanidade que ainda não alcançou a excelência das virtudes.
Como pedagogo de excepcionais qualidades, Ele viveu o que ensinou.
Disse que se deveria oferecer ao agressor a outra face, ou seja, não revidar o mal recebido.
E, sendo traído por um dos Seus, para ele somente teve gestos de afeto. Quando recebe o beijo da traição, indaga: Amigo, a que viestes? Ou seja, o que você deseja? Por que vem a mim, na calada da noite, com soldados armados?
Senhor do Mundo, Se submeteu ao julgamento do procurador da Judeia, que estava muito mais interessado em manter a sua posição e o seu poder do que, verdadeiramente, julgar com imparcialidade e nobreza.
Tão verdadeiro é esse posicionamento que, mesmo não tendo encontrado nada que devesse ser punido naquele homem, lhe confere a sentença de morte.
E O manda executar da forma terrível que Roma reservava para os revolucionários, os que se erguiam contra o Império.
Contudo, o Pastor das Almas somente teve palavras de perdão. Em meio à agonia da cruz, roga ao Pai que a todos perdoe, pois que não sabem o que fazem.
O supliciado Se preocupa pelo futuro dos Seus algozes.
Arauto da Imortalidade, entregou o Espírito ao Pai, em lacônica mas profunda prece.
E, adentrando a Espiritualidade, retornou glorioso, demonstrando que a morte não Lhe destruíra senão o corpo físico.
Ele estava ali, triunfador da morte, testificando que a vida prossegue, que quem parte não esquece os que permanecem na Terra.
E, aparecendo no cenáculo a portas fechadas, fazendo-Se anunciar por vento brando; ou aguardando na praia os companheiros que vinham da pesca, demonstra estar vivo, presente, atuante.
Sim, tinha razão Ernest Renan ao apresentá-lO como um Homem Incomparável, o maior entre todos os Profetas: Nosso Mestre e Senhor Jesus.

Redação do Momento Espírita

domingo, 10 de maio de 2015

Mulheres de Heróis




Os homens vão para a guerra, alimentam as revoluções com sua coragem e seu sangue. Doam suas vidas por amor à nação, à pátria, à causa que defendem.
Para as mulheres são reservadas as lágrimas, os filhos órfãos, a dor da saudade e, por vezes, o abandono total daqueles mesmos a quem seus maridos deram a própria vida.
Assim aconteceu com Maria José Correia, nascida no litoral paranaense e que se tornou a esposa do Barão do Serro Azul.
Quando da Revolução Federalista, que envolveu em sangue a nação brasileira, com desmandos da parte de governistas e de revolucionários, ele se destacou.
Homem de fibra, o Barão tomou a si o governo da Província, quando o então Governador, covardemente, a abandonou, deixando-a sem nenhum amparo, um único policial.
Com sacrifício de sua saúde e de seus interesses, ele se pôs à frente de uma comissão para estabelecer a ordem e a tranquilidade para uma população temerosa de saques, violações e mortes.
Enquanto Curitiba esteve entregue à revolução triunfante, foi o Barão o elemento principal da grande força que zelou pela escola, pelo comércio, a indústria, a imprensa, sobretudo pela família curitibana.
Tudo fez de coração aberto, sendo o primeiro a abrir os cofres para o acordo que se estabeleceu com os revolucionários.
Alma generosa, teve a seu lado a esposa, que em tudo o apoiou.
Quando as tropas governistas entraram na capital, ele aguardou que representantes do Governo Federal lhe viessem agradecer pelo que fizera.
Quantas vidas preservara, quantos sacrifícios empreendera para que os saques e abusos não ocorressem.
O que recebeu foi a traição, a prisão e uma morte vergonhosa, que permaneceu sem investigação alguma, durante décadas.
A Baronesa, grávida de sete meses, viria dar à luz uma criança morta. Quanta dor naquele coração amoroso!
Como ela mesma escreveu ao Barão de Ladário, em carta que foi lida no Senado Federal, se estabeleceu o luto eterno em seu lar, para sempre deserto das alegrias que eram para seu coração de esposa e para a inocência dos filhos, agora órfãos de pai, o único e grato conforto na vida.
Essa extraordinária mulher, cuja coragem nascia da própria imensidade do seu sofrimento, ficou a enxugar as lágrimas das três crianças órfãs.
Aguardou que a justiça se fizesse. Ela acreditava que o martírio não dormiria eternamente, porque eterna na Terra só há de ser a divina soberania do direito e da verdade.
Era, ademais, uma mulher de fé. Por isso mesmo, continuou a semear generosidade enquanto as posses lhe permitiram.
Um dos exemplos foi a doação de quatro terrenos, situados na Villa Ildefonso, atual bairro do Batel, para a construção de um hospital pela Sociedade Portuguesa Beneficente Primeiro de Dezembro.
Doou ainda mobília à Sociedade, cujo objetivo era o amparo aos imigrantes portugueses e suas famílias.
Nos lotes foram construídas seis casas de madeira, que serviram como ambulatórios e sede para a Sociedade.
O que se deve ressaltar é o desprendimento de um coração ferido, mortalmente, pela mais torpe traição sofrida por seu marido.
Um coração que, angustiado, jamais deixou de amar o seu semelhante. E se o coração se enchia de dolorosa saudade, ainda guardava espaços para sentir a dor do próximo.
Com certeza, um exemplo de alma cristã. Um exemplo a ser seguido.


Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Quando Fala o Amor



Meg não chorou quando o médico lhe disse que sua filha Kristi era portadora de uma deficiência mental.
Não chorou naquele momento, nem nos meses que se seguiram.
Quando Kristi tinha idade para ir à escola, Meg a matriculou no jardim de infância do colégio do seu bairro.
Ela estava com sete anos.
Meg ficou na escola, naquele primeiro dia, vendo sua Kristi numa sala cheia de crianças de cinco anos de idade.
E viu sua filha passar horas e horas brincando sozinha, uma criança diferente entre outras vinte.
Mas nenhuma lágrima saiu de seus olhos.
Com o tempo, algumas coisas positivas começaram a acontecer entre Kristi e seus colegas de escola.
Quando eles se vangloriavam de suas proezas, sempre tinham o cuidado de também a elogiar.
Kristi escreveu todas as palavras certas, hoje. – Diziam.
Os avanços de Kristi eram registrados pela turma, com entusiasmo.
Foi no segundo ano na escola que Kristi precisou enfrentar sua experiência mais desafiante. O grande evento do final do ano era uma competição em atividades de educação física.
Kristi estava muito atrás da turma em coordenação motora. No dia do evento, ela fingiu estar doente.
Meg quase teve vontade de deixá-la em casa. Mas, consciente da importância da filha vencer o medo, a colocou no ônibus da escola.
Depois, foi assistir a competição. Sentada no meio dos outros pais, sentia seu coração bater forte.
Quando chegou a vez de Kristi, Meg entendeu o que a preocupava. A classe estava dividida em times de revezamento. Com suas reações lentas e hesitantes, Kristi iria, com certeza, prejudicar o seu time.
A apresentação foi correndo bem, até chegar a hora da corrida de sacos. Cada criança tinha que entrar em um saco na linha de partida, pular até a linha de chegada, fazer o caminho de volta e sair do saco.
Meg observou a filha de pé, perto do fim da sua fila. Estava visivelmente assustada.
Entretanto, quando se aproximou o momento dela participar da corrida, algo inesperado aconteceu. Uma troca de lugares, em seu time.
O menino mais alto da fila foi para trás de Kristi e a segurou pela cintura. Dois outros meninos ficaram um pouco à frente.
Quando chegou a vez dela, aqueles dois meninos pegaram o saco vazio e o abriram. O menino mais alto suspendeu Kristi e a colocou suavemente dentro do saco.
Uma menina à frente de Kristi a pegou pela mão e a sustentou brevemente, até perceber que ela recuperara o equilíbrio.
E, então, lá se foi ela, pulando, sorridente e orgulhosa.
Em meio às aclamações dos professores, os gritos dos colegas e pais dos alunos, Meg se afastou lentamente.
Agradeceu a Deus por aquelas pessoas calorosas e compreensivas que tinham tornado possível para sua filha deficiente agir como os seus semelhantes.
E, de emoção, pura emoção, Meg finalmente chorou.

*   *   *

O amor não se deixa impressionar pela aparência física ou pelos atributos pessoais de outrem.
Desdobra-se na convivência com as pessoas, jamais diminuindo de intensidade, multiplicando-se largamente em todas as direções.
A chama do amor nunca se apaga, porque nunca se consome. Ela se autossustenta com o combustível da alegria em que se expressa.
Envolvente, é suave como um amanhecer e poderoso como a força da própria vida.


Redação do Momento Espírita

sábado, 2 de maio de 2015

Muda Censura ao Criador




Quando chega a primavera, nos extasiamos ante a variedade de cores e esbanjamento de vida.
Com extraordinária alegria, saudamos a estação das flores, dos perfumes, das bênçãos do sol, da amenidade dos dias, dos cânticos dos pássaros.
Vivemos intensamente a estação primaveril, mesmo sabendo que, em poucos meses, tudo isso desaparecerá, que o inverno chegará com seus dias gélidos, cinzentos.
Mesmo sabendo que as flores fenecerão nos jardins, que as árvores ficarão despidas de folhagens, mostrando seus braços nus.
É de nos perguntarmos por que não ficamos extremamente tristes com essa mutação permanente que se apresenta nos quadros da natureza.
É que todos estamos plenamente cientes de que as estações se sucedem, periodicamente, e que, passado o inverno, com seus mantos de gelo, a primavera retornará a cantar hosanas no mundo.

*   *   *

Se isso acontece na natureza, por que não pode o mesmo acontecer entre os seres humanos, filhos de um Pai amoroso e bom?
Por que ainda insistimos que, depois da morte física, nada mais existe?
Recordamos Jesus, lecionando a respeito da erva do campo, que Deus veste de forma magnífica, a erva que hoje reverdece o campo e logo mais, será lançada ao fogo, por estar seca.
Ele nos indaga, em síntese: Acaso não sois muito mais importantes, filhos do Pai Celeste?
A ciência estabelece que, neste mundo, nem a menor partícula atômica desaparece sem deixar vestígio. Nada se perde, tudo se transforma.
Por que seria diferente com a alma do homem, criada à imagem e semelhança de Deus?
Deus é eterno, a alma é imortal. Semelhança. Por que haveria o homem de estudar tanto, se aprimorar, lutar, amar, se engrandecer na Terra se fosse para acabar no túmulo? Ou como um simples punhado de cinzas, jogado aos ventos?
Seria somente o homem destinado para a finitude, para o se findar, de forma irremediável, depois de cinquenta, setenta ou cem anos sobre a Terra?
Se tudo vive, revive, se transforma, ressurge além, por que deveria ser diferente com o Espírito?
Isso nos remete à forma como encaramos a morte. Quando parte um ser querido, choramos como se fosse perda irreparável.
Alguns nos revoltamos. Acusamos Deus de padrasto, com tudo o que, de forma preconceituosa, julgamos amargo na palavra.
Justa é a tristeza pela separação de alguém que realiza, antes de nós, a grande viagem, rumo ao Além.
Contudo, não devemos chorar demasiadamente os nossos mortos queridos. Como ensinam as almas de luz, tristeza prolongada é censura muda que se faz ao Criador.
Pensemos nisso. Recordemos a noite que sucumbe ante a madrugada de luz. Lembremos da primavera que arrebenta em flores e cores, depois de ter adormecido, durante a estação invernosa.
Recordemos a lagarta que ressurge como alada borboleta.
Somos imortais. Nossos mortos queridos estão de pé. Eles nos veem, prosseguem a ter por nós os mesmos sentimentos. E nos aguardam.
Oremos por eles, enviemos-lhes nossas vibrações de carinho, abracemo-los com nossas preces.
Logo mais, tornaremos a estar juntos, no Além ou sobre esta bendita Terra de Deus.


Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O Senhor das Repostas



Sentou-se na antiga poltrona, ao lado da janela. Lá fora, um entardecer saudoso de outono. O jardim, que sempre lhe fora tão estimado, era por ela contemplado, vivo em cada um de seus detalhes.
Em sua face, a nostalgia, um tímido sorriso, um olhar sereno envolto pelas marcas de seus bem vividos noventa e três anos.
Ao seu lado, o antigo toca-discos. Com um movimento delicado, o colocou para funcionar. Recostou-se na confortável poltrona e se demorou em seus devaneios, ouvindo a famosa intérprete da música popular brasileira:
Mas o tempo é como um rio que caminha para o mar. Passa como passa o passarinho, passa o vento e o desespero. Passa como passa a agonia, passa a noite, passa o dia, mesmo o dia derradeiro.
Eis o tempo, pensou a senhora. Sempre a fluir, inexorável, incansável, preciso, relativo, eficaz, suave, imperceptível, duro, impiedoso, impávido. Por vezes, como melhor amigo. De outras, como pior inimigo.
O tempo e suas contradições, disse para si mesma.
Trouxe a mão à altura dos olhos. Demoradamente, os fixou sobre ela, como se a estivesse vendo pela primeira vez.
O mesmo tempo que me trouxe essas tantas rugas, me trouxe também a sabedoria para que estas mãos guiassem os filhos, os netos, os bisnetos.
Foi ele quem trouxe a destreza para amassar o pão e deixá-lo macio, a desenvoltura para os afazeres da casa, a agilidade para curar feridos durante a guerra.
O tempo e suas contradições, falou a si mais uma vez.
Então, avistou, através da vidraça, uma de suas bisnetas, correndo pelo jardim.
Silenciosa, a senhora riu consigo mesma ao contemplar a bisnetinha de seu coração.
Três anos, apenas três anos, refletiu. Tão jovem, tão cheia de possibilidades. O que lhe reserva o tempo? O que lhe ensinará o tempo? No que a transformará o tempo?
Nesse momento, suave mão pousou sobre o frágil ombro da senhora: No que pensa, minha mãe? Disse-lhe a filha, com sorriso no rosto.
Depois de passar pela guerra, de passar fome, de criar oito filhos, com tamanha dificuldade, de ver tantas pessoas que lhe eram queridas retornarem para junto de Deus... No auge de seus noventa e três anos, quais são os seus pensamentos, minha mãe?
Penso no tempo, filha, respondeu a sábia senhora.
E o que é o tempo, mamãe?
O tempo, minha filha, – e mais uma vez contemplou a bisneta pela vidraça, pensando nas possibilidades que a sequência dos anos lhe reservava, – o tempo é o senhor das respostas!

*    *   *

Quem pode dizer para onde irá nosso caminho? Quando os nossos sonhos se realizarão? Quando o dia de uma vida terminará para, no nascente, recomeçar?
Apenas o tempo.
Quem pode nos amadurecer os ideais, curar a dor de um afeto não correspondido, nos ensinar a lidar com as perdas e ganhos?
Apenas o tempo.
Quem é que retira todo o valor do dinheiro acumulado a tantos sacrifícios e duramente nos ensina que nosso tesouro se encontra onde está o nosso coração?
Apenas o tempo.

*   *   *

O tempo é grande dádiva concedida por Deus. Lembremos: O tempo é como um rio. Um rio que deságua no grande mar de nós mesmos e nos inunda de sabedoria, experiência e serenidade...
Pensemos nisso!



Redação do Momento Espírita