sábado, 28 de fevereiro de 2015

A Montanha e a planície


O que devo dizer sobre Seu discurso? Talvez algo sobre Sua pessoa conferir poder a Suas palavras e embalar aqueles que O ouviram.
Pois Ele era gracioso, e o brilho do diaencontrava-se em Seu semblante.
Ele contava uma história ou narrava uma parábola, e o conteúdo de Suas histórias e parábolas nunca fora ouvido na Síria.
Ele parecia tecê-las com o sabor das estações, como o tempo tece os anos e as gerações.
Ele começava uma história assim: “O lavrador encaminhou-se ao campo para plantar suas sementes.”
Ou: “Havia um homem muito rico que possuía diversos vinhedos.”
Ou: “Um pastor contou suas ovelhas ao cair da noite e descobriu que faltava uma.”
E essas palavras conduziam Seus ouvintes ao ser mais simples dentro de si e aos mais remotos de seus dias.
*   *   *
No coração, somos todos lavradores e todos amamos os vinhedos. E, nos pastos de nossa memória, há um pastor e um rebanho e a ovelha perdida.
E há a relha do arado e a prensa do lagar e a eira.
Ele conhecia a fonte de nosso ser mais remoto e o persistente fio do qual somos tecidos.
Os oradores gregos e os romanos falavam para seus ouvintes da vida como ela parecia à mente. O Nazareno falava de um anseio que se alojava no coração.
Eles viam a vida com olhos apenas um pouco mais claros do que os vossos ou os meus. Ele via a vida à luz de Deus.
Costumo pensar que Ele falava às multidões como uma montanha falaria à planície.
*   *   *
Jesus é a montanha e todos nós, Espíritos em evolução, somos a imensa planície terrestre.
Dentre nós, temos aqueles que, ainda de cabeça baixa ao longo das eras, nem vislumbramos a cordilheira exuberante.
Outros, que já a encontramos no horizonte, permanecemos em estado de contemplação constante e distante.
A montanha não existe apenas para ser contemplada pela gigantesca planície, ela está lá para ensinar a planície a alcançar as nuvens.
E finalmente, temos aqueles que desejam ser montanha e trabalham para isso. Não se queixam por não estarem no Alto como o Mestre, e extraem dEle o estímulo e o exemplo para continuar.
Fomos criados planície, mas nosso destino final é ser montanha.
Alguns já somos pequenos montes, serras discretas, seguindo, contudo, o caminho certo rumo ao Alto. Não o alto das nuvens ou do céu, simbólicos, mas ao alto da evolução, do amor completo na alma.
Sigamos a montanha Jesus, não como meros contempladores inertes, mas como imitadores ativos, perguntando:O que Ele faria nesta situação? Qual o caminho que Ele apontaria? O que a Montanha tem a me dizer neste momento?
E tenhamos certeza de que a Montanha, observando a planície, com muito amor e carinho, estenderá Seus braços desvelados para nos ajudar sempre que precisarmos dela.
*   *   *
Costumo pensar que Ele falava às multidões como uma montanha falaria à planície.


Redação do Momento Espírita

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A escolha acertada


Foi durante a guerra civil chinesa, que sucedeu ao conflito mundial da Segunda Guerra.
Wong e sua esposa Lee, com as quatro filhas, tinham urgência em sair da China, rumo a Hong Kong. Ele era um ilustre professor procurado pelas forças que oprimiam o país.
Enquanto ele tentava conseguir um meio de transporte que, a muito dinheiro, os pudesse levar para o campo, à casa de um tio, onde se poderiam ocultar, tentando salvar as próprias vidas, Lee tentava acalmar as pequenas.
Ela precisava cuidar da bagagem, porque não eram poucos os que se aproveitavam para saquear os incautos. As crianças, assustadas, em meio à movimentação intensa, choramingavam, agarradas às suas vestes.
Num tempo que pareceu eterno, o marido chegou com um jinriquixá, uma espécie de carrinho, puxado por um homem. Enquanto ele providenciava a acomodação das malas, embrulhos e valises no pequeno transporte, um outro se aproximou.
Vislumbrando a chance de um bom dinheiro, ofereceu-se para levar a família ao seu destino por um valor menor.
O professor Wong, homem prático, aceitou. Porém, a esposa disse que não era correto dispensar o homem que antes fora contratado. Afinal, ele perdera seu tempo, andara até ali puxando seu veículo e merecia respeito.
Falou de forma tão incisiva que o marido aceitou suas ponderações e lá se foram, no transporte mais caro.
Quase ao final da viagem, um impasse. O tio de Wong morava do outro lado do canal, e o condutor do jinriquixá não ousou atravessá-lo.
O casal dividiu a bagagem entre si e as pequerruchas e venceram a pé a ponte.
Chegando à casa do tio, se acomodaram, alimentaram as filhas e as deitaram. Duas horas se haviam passado. Então, Lee se deu conta de que faltava uma mala.
Exatamente aquela em que havia escondido todo o dinheiro que haviam conseguido juntar, antes da fuga.
E agora? Pôs-se a chorar, abraçada ao marido.
Como continuar a fuga? Como dar continuidade à vida, sem nada a não ser as roupas e quatro bocas famintas para alimentar?
Alguém bateu à porta. Todos se olharam temerosos. Seriam andarilhos salteadores? Talvez guerrilheiros que lhes haviam descoberto a fuga?
O tio, procurando demonstrar uma calma que longe estava de sentir, abriu a porta. A punição por acolher fugitivos era a morte.
E ali estava o condutor... com a mala. Ao ver que fora esquecida em seu transporte fizera um longo trajeto de volta, ousara atravessar a ponte, somente para entregar a uma família fugitiva a mala, com o seu conteúdo intacto.
Todos ficaram parados, sem reação, pelo inusitado do momento. Um gesto de honestidade em meio à confusão que vivia o país e onde muitos somente pensavam em tomar dos outros, à força, o que pudessem.
Lee ajoelhou-se e agradeceu a Deus, que lhe havia inspirado fazer a viagem com aquele homem, apesar do preço mais elevado.
*   *   *
A gratidão e a honestidade se revelam nos corações bem formados.
Mesmo em meio ao caos, o homem guarda na intimidade valores reais dos quais lança mão, em momentos precisos.
Por vezes, um simples gesto pode redundar em muitas bênçãos. Como o de Lee, em manter a fidelidade ao contrato verbal acertado com um desconhecido, em meio à angústia e quase pavor, que alcançou ressonância em outro coração, quiçá, tão perseguido e maltratado como o dela mesma.

Redação do Momento Espírita

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O Visitante Mais Ilustre

O que fazemos quando é anunciada a visita de alguém importante em nosso país: um líder político, religioso, uma sumidade da ciência, um artista?
Todos se preparam: a mídia televisiva, falada e impressa destaca seus melhores repórteres, fotógrafos, redatores para a cobertura total. As autoridades do país agendam a data prevista, e recebem com todas as honras o ilustre visitante.
Oferecem presentes, levam a lugares históricos, discursam, entre outras coisas, enaltecendo a figura, sua obra.
O povo se prepara para a recepção no aeroporto, fica aguardando a passagem da comitiva pelas ruas, portando bandeiras, flores ou simplesmente acenando, tudo numa demonstração inconteste do quanto aquela pessoa está sendo bem-vinda ao país.
E, enquanto se prolongue a sua estadia, ficam a postos a mídia e o povo, nas imediações de onde ele se hospeda, à espera de um aceno, de uma saída à sacada, da oportunidade de uma foto, um aperto de mão.
São dias agitados. E, quando o visitante retorna ao seu país de origem, todos os que conseguiram fotos, um aperto de mão, uma lembrança qualquer jogada por ele, em alguma oportunidade, mostram aos amigos, postam nas redes sociais. É uma conquista, uma alegria que será recordada muitas e muitas vezes.
Que será contada e recontada porque a pessoa se sente honrada por ter estado próxima, naquele momento do discurso, da passagem, de uma bênção... Será mostrada, ano após ano: Eu estive com ele. Eu participei da festa. Eu ouvi o seu discurso, ao vivo. Ele acenou para mim.
Lembranças...
*   *   *
Em dias distantes, numa terra convulsionada, uma noite foi de especial grandeza.
As estrelas brilharam com maior intensidade e, em algum momento, uma grande paz pairou sobre todo o planeta.
Um astro surgiu nos céus, diferente, maior e de brilho mais intenso do que qualquer estrela. Um conglomerado de Espíritos unidos.
Um coro celestial entoou a canção da esperança aos ouvidos de quem tinha ouvidos para ouvir.
E pastores deixaram seu rebanho no campo... E sábios do Oriente deixaram seus países... para visitar um Menino.
Era o mais Excelso Rei, o Governador Planetário, o Cristo Solar.
Abandonara as estrelas, temporariamente, para estar com as Suas ovelhas, Celeste Pastor que se elegeu.
Tão importante visitante, contudo, assinalando sua passagem pela Terra com atos e palavras jamais realizados e jamais ditas, não foi, ainda, reconhecido por muitos.
Legou a maior mensagem de todos os tempos: Amai-vos uns aos outros.
Quando nos daremos conta de que o Ser perfeito, único em sua essência, visitou a Terra? Veio para os Seus, ofereceu Seu amor e aguarda, de braços abertos que dEle nos acerquemos.
Sua estadia em nosso planeta durou pouco mais de três décadas e foi registrada pela sagacidade de um repórter especial, que escreveu: De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.
Sua biografia, condensada por quatro pessoas, em datas e estilos diferentes, foi traduzida para quase todos os idiomas: línguas mortas, línguas vivas.
Quem de nós já lhe descobriu a existência, o ensino e O adotou como Modelo e Guia, nEle reconhecendo o Mestre e Senhor Jesus?

Redação do Momento Espírita

Para aqueles que não podem ver


Aquela parecia ser apenas mais uma cerimônia de formatura de grau superior.
Muitas pessoas reunidas para celebrar a conquista de seus amores. Nomes gritados com empolgação. Convenções ritualísticas antigas, enfim, tudo que sempre se encontra nessas celebrações.
Excelentíssimos, ilustríssimos, discentes, docentes, todos estavam lá.
Os formandos, um a um, desciam de suas cadeiras organizadas em fileiras atrás da mesa principal. A cada nome, ouvia-se uma pequena algazarra de dez, quinze, vinte pessoas, homenageando aquele jovem, em meio ao grande público, que só prestava atenção quando ouvia o nome do formando que estavam prestigiando.
Seguia o cerimonial. Mais um nome chamado e um silêncio profundo.
A formanda demorou um pouco mais para chegar à mesa de autoridades. E o fez com o apoio de um auxiliar da empresa organizadora do evento.
Ela recebeu o diploma simbólico e o público, que até agora apenas esperava o momento de felicitar seus parentes, iniciou uma demorada salva de palmas.
As pessoas estavam surpresas: uma jovem com deficiência visual recebendo o grau de pedagoga das mãos do representante da universidade.
Pensamentos ganharam os ares do anfiteatro. Os mais objetivos e práticos pensavam: Como ela conseguiu? Como conseguiu estudar? Como fazia as provas?
Outros, cépticos e insensíveis, com a ideia de que ninguém consegue sucesso por merecimento próprio, pensavam: Ela deve ter recebido ajuda dos professores, que se apiedaram de sua condição. Ou devem ter facilitado sua vida para que ela pudesse conseguir.
Muitos estavam simplesmente com uma expressão de admiração em suas faces. Sensibilizados, compreendiam que aquilo era possível: uma deficiente visual se formar na universidade.
Sua comemoração, com o diploma nas mãos, foi vibrante, digna de uma autêntica vencedora.
Prosseguiu a cerimônia, iniciando-se as homenagens. Na homenagem a Deus, lá estava ela novamente, levantando-se e sendo guiada até o púlpito.
Havia um brilho especial em sua face. Uma alegria radiante vinda de um Espírito que enxergava melhor do que todos aqueles que estavam ali, que viam apenas com o sentido da visão.
Sua homenagem a Deus foi emocionante e singela.
Seus dedos passavam suavemente sobre os pequenos pontos em relevo da folha de discurso, pontos criados por um outro jovem, o francês Luís Braille, no século dezenove, e que se tornaram uma das janelas de acesso ao mundo para os deficientes visuais.
Suas palavras eram claras, sua dicção perfeita e sua mensagem divina. Ela agradecia a Deus por estar ao seu lado naquela conquista. Seu coração mostrava ao mundo o verdadeiro amor ao Criador, através de sua resignação e perseverança na existência.
Ela dizia, para aqueles que não podem ver, que tudo é possível se persistirem, se lutarem e não desanimarem.
E, sem palavras, apenas com sua presença, dizia que há muito mais beleza neste mundo do que podemos imaginar, e que sonhar sempre será preciso.
Ela dizia isso para aqueles que ali estavam e que ainda não haviam aprendido realmente a ver.

Redação do Momento Espírita.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O Tesouro da Oração



A oração deve abrir espaços no tempo do cristão, a fim de preencher-lhe os vazios do sentimento.

Mais do que um amontoado de palavras, a oração é um ato de interação entre a alma e Deus.

Não importa a posição do corpo, no ato de orar, mas a da alma que se eleva quanto mais reconhece a própria pequenez.

Ato de humildade, de adoração, de fé, a oração é o pulsar do desejo humano na vibração do amor divino.

O homem que ora abre-se ao amor, e a vida plenifica-o com paz.

A oração, talvez, não mude as circunstâncias nem impeça as ocorrências, mas dá visão para compreendê-las e forças para superá-las.

Mediante a oração, o homem marca o seu encontro com Deus. Sem esse contato, desacostuma-se de conversar com Ele, perde a compreensão para os Seus desígnios, terminando por esquecê-Lo, e, quando deseja reatar o intercâmbio, aturde-se, sem saber como fazê-lo.

Deus espera pelo homem, e a oração é o veículo que o aproxima dEle.

Muitas criaturas buscam Deus quando estão desesperadas, e, porque perderam o Seu endereço, o apelo não consegue alcançar o alvo. A oração é o meio seguro de saber onde Ele se encontra.

A oração mais eficiente é a que se faz através da ação do bem ao próximo sob a inspiração do amor.


Divaldo Franco Pereira - Joanna de Ângelis

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

As lições do Mestre


Ele estabeleceu as mais belas lições desde o berço. Jamais alguém foi Mestre tão completo e excepcional.
O Rei Solar e Governador planetário tinha sempre algo a ensinar.
Ao nascer, escolheu a intimidade de um estábulo, desprovido de conforto e de atavios.
Lição de que a verdadeira realeza é do Espírito.
Como testemunhas do primeiro instante, Seu pai, Sua mãe. Provavelmente, uma parteira que viera auxiliar a gestante na délivrance.
Lição de aconchego. O nascimento é um momento muito especial em que o ser deve ser acolhido com todo afeto e discrição.
Mas, não se esqueceu de compartilhar a alegria do Seu nascimento com os que Lhe aguardavam a vinda. Os mais próximos.
Por isso, um mensageiro Celeste visitou os pastores no campo e lhes anunciou a notícia alvissareira, dizendo-lhes onde poderiam encontrar o Menino e como identificá-lO.
Também recordou dos que se encontravam distantes e por isso, uma estrela brilhou de forma diferente, anunciando que Ele chegara ao planeta azul.
Os magos, de várias partes do Oriente, que estudavam os astros e consultavam os céus, em busca de um sinal, a seguiram e O encontrando, O adoraram.
E porque um nascimento merece ser comemorado, um coro Celeste se fez ouvir na acústica das almas simples, aos ouvidos de quem tinha ouvidos de ouvir.
Um coro que anunciava a grande dádiva com que o Pastor presenteava Seu rebanho: Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens.
Uma especial comemoração. Lição da alegria de que se deve revestir toda nova vida que aporta ao planeta.
Mestre Excelente, não prescindiu da família, lecionando continuamente da sua importância.
Durante quase trinta anos, esteve no lar de Nazaré. E submeteu-Se às tradições, exercendo a profissão de Seu pai terreno.
As mãos celestes, que haviam modelado as formas planetárias, esmerando-se em detalhes, agora tomavam da madeira bruta para transformá-la igualmente em coxos para os animais, bancos, mesas.
Lição de humildade e de serviço.
Quando deixou o lar paterno para dominar as estradas do mundo, elegeu o dos amigos como seu próprio.
Em Cafarnaum, foi a casa do pescador Simão Pedro. Quando na Galileia, era o Seu local de aconchego, depois das lides do dia, exaustivas, junto ao povo.
Lar. Refúgio. Oásis para recompor as energias. Local de descanso.
Na Judeia, foi a chácara dos irmãos Marta, Maria e Lázaro.
Lição das bênçãos familiares, da sua importância para o refazimento, a alimentação pelo combustível do amor.
O Pastor veio para o meio do Seu rebanho sem descuidar de nenhum detalhe.
Amor não amado, demonstrou a preocupação com Sua mãe, ao deixá-la na Terra. Entre as agonias da crucificação, lembrou-Se de entregá-la ao Apóstolo João.
Nova lição. A de que a família se estende para além das fronteiras da consanguinidade. Família corporal. Família espiritual.
Tudo, em todos os instantes de Sua vida terrena, foi plenificado de ensino. Nem poderia ser diferente com Aquele que asseverou: Vós me chamais mestre e senhor. E dizeis bem, porque eu o sou.
Jesus. Modelo e Guia. Mestre e Senhor.
Redação do Momento Espírita

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Onda Sem Fim


A cena se passa em um supermercado. Com os dois netos, a avó faz compras. Somente o essencial, o que está anotado na curta lista que tem nas mãos.
A menina apanha da prateleira um bolo confeitado, maravilhoso e o coloca no carrinho de compras. No caixa, a avó percebe que não tem dinheiro suficiente e pede para devolvê-lo.
A garota insiste e a avó explica que, em outro momento, quando tiverem condições, comprarão um bolo.
Você disse isso da outra vez. – Responde a menina.
Um rapaz, que a tudo assistia, comprou o bolo deixado no caixa, alcançou os três e o depositou nas mãos da criança.
Não, disse a avó, não podemos aceitar. O senhor não tem obrigação nenhuma de fazer isto.
Na verdade, tenho. – Disse, com um sorriso. Quando eu tinha sete anos, estava no supermercado e escolhi um bolo. Era meu aniversário. Minha mãe explicou que não tínhamos dinheiro. E um homem o comprou, mandou embrulhá-lo e me entregou.
Insistiu para que minha mãe me deixasse aceitá-lo. Ela pediu que ele escrevesse seu número de telefone em um papel para quando possível, lhe devolver o valor.
Ele escreveu algo no papel e colocou no bolso da minha camisa.
Então, diz a avó, escreva seu número de telefone. Devolveremos o valor, assim que pudermos.
As crianças chegaram em casa, carregando as sacolas. A menina, feliz, foi ao encontro do avô, que estava em uma cadeira de rodas e depositou-lhe no colo o bolo.
Feliz aniversário, vovô!
Obrigado, disse ele. É o meu favorito.
E para a esposa: Você não deveria gastar com bolo. Sabe de nossas dificuldades.
Foi um rapaz que o comprou e o ofereceu. Pedi que escrevesse neste papel o número do telefone dele. Veja.
Ele abriu o papel dobrado e leu: Um simples ato de carinho cria uma onda sem fim.
Rapidamente, sua mente o remeteu para uma cena no supermercado. Era ele, em plena madureza, vendo uma mãe explicando para um menino de sete anos que não tinha dinheiro suficiente para comprar o bolo de aniversário.
Ele o adquirira e o entregara ao menino, cujos olhos brilharam.
E, ante o pedido da mãe, para que anotasse seu número de telefone em um papel, escrevera aquela mesma frase.
Sim, um simples ato de carinho cria uma onda sem fim. É a corrente do bem. E, de formas muito específicas, também alcança quem o praticou.
*   *   *
Alguém escreveu que o Universo é um ser vivo. Nele tudo é em ritmo de harmonia. Se, por exemplo, uma borboleta levanta as suas asas no oceano pacífico, isso repercute nas galáxias.
Estamos todos interligados como num imenso mar de vibrações. Mergulhados no hálito Divino do amor, que nos sustenta.
Por isso, tudo que fazemos repercute, ressoa. Quando realizamos o bem, por menor nos pareça o gesto, isso vibra e alcança alguém, próximo ou distante.
Pensemos nisso e estribemos nossos atos no bem, elejamos como propósito diário fazer uma pessoa feliz. Poderá simplesmente ser sorrindo para o vizinho, desejando um bom dia, devolvendo a bola que cai em nosso jardim aos meninos, um gesto de cortesia, cedendo passagem no trânsito.
Uma ação por dia. Um gesto de carinho. Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Repensando Propósitos


Alguém escreveu que a astronomia é uma experiência que forma o caráter e ensina a humildade.
Certamente, não há melhor demonstração da tolice das vaidades humanas do que se observar um mapa astronômico em que o nosso planeta aparece como um minúsculo ponto.
E basta se estudar um pouco a História da Humanidade para se ter ainda mais a dimensão da tolice das nossas ambições.
Lemos a respeito dos grandes conquistadores e nos perguntamos: De que lhes valeu tantos crimes, em nome de conquistas de territórios e submissão de povos?
Lembramos de Temujin, que comandou a Mongólia, sucedendo ao pai. Bastou uma vitória militar e o povo o declarou Gêngis Khan, que quer dizer imperador universal.
Para fazer jus à homenagem, ele saiu em uma campanha militar, que durou vinte e cinco anos. Conquistou os tártaros e a China. Depois, as hordas mongóis varreram a Rússia, detonaram o Império Persa, engoliram a Polônia, a Hungria e ameaçaram a Europa como um todo.
Temujin morreu aos sessenta e cinco anos. Foi sucedido por seu filho Ogedei e, por algum tempo, as conquistas continuaram. Mas, depois, o Império começou a se esfacelar e as hordas mongóis tomaram o rumo de casa.
Recordamos de Alexandre, o grande, o mais célebre conquistador do mundo antigo. Tornou-se rei aos vinte anos, após o assassinato de seu pai.
Sua carreira é muito conhecida. Conquistou um império que ia dos Balcãs à Índia, incluindo o Egito e o atual Afeganistão.
Foi o maior e mais rico império que já existiu. Morreu antes de completar trinta e três anos, não se sabe se por envenenamento, malária, febre tifoide ou alcoolismo.
Não se discutem os benefícios das campanhas, pois Gêngis Khan uniu as tribos mongóis e tornou conhecidos do Ocidente os povos do Oriente, enquanto Alexandre, admirador das ciências e das artes, transformou Alexandria em centro cultural, científico e econômico, por trezentos anos.
No entanto, de que lhes valeu tanto sangue derramado, tantas terras conquistadas? A morte lhes encerrou as carreiras e seus impérios bem cedo se esfacelaram.
Isso nos remete a reflexionarmos a respeito de nós mesmos. O que estamos fazendo para alcançar nossa realização pessoal?
Estamos agindo de forma ética, correta, ou buscamos destruir quem esteja à frente, exatamente como faziam os grandes conquistadores?
Certo, não nos servimos do assassinato físico, mas quantos sonhos alheios teremos destruído, em nosso propósito de ascensão?
Os verdadeiros valores são morais. Esses não são destruídos pelo tempo e nem são amaldiçoados pela memória dos que foram derrotados, no decorrer da nossa jornada de conquistas.
Pensemos nisso: os verdadeiros objetivos da vida são transcendentais.
Afinal, a vida neste planeta é transitória. Rapidamente se esvai. O importante é o que levaremos em nossa bagagem individual, dentro d’alma.
Pensemos nisso e, aproveitando os dias que se nos oferecem à frente, estabeleçamos um planejamento estribado no amor.
Assim, por curta ou longa que seja nossa existência, sempre seremos lembrados como quem semeou a boa semente, em algum canteiro do mundo.
E, um dia, conforme a promessa de Jesus, transitaremos do planeta Terra para uma outra abençoada mansão do Pai, neste imenso Universo em expansão.
 

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O Celeste Estrategista


Planejamento estratégico é um conceito comum, no âmbito da administração, que significa o ato de pensar e fazer planos de uma maneira estratégica.
Auxilia na definição de objetivos. Significa também utilizar os recursos disponíveis, de forma eficiente, aumentando a produtividade de um indivíduo ou empresa.
Planejamento de recursos humanos. Planejamento financeiro. Tudo se reveste de grande importância para que qualquer empreendimento alcance o êxito almejado.
Por essa razão, ao definir sua vinda à Terra, o Mestre Jesus elaborou um planejamento, que incluiu milênios, mensageiros de variada ordem e servidores mais próximos.
Estabelecendo que viria para o Seu rebanho, acalentou a esperança de milhares de Espíritos exilados de um sistema solar distante, que aportaram no planeta azul, quando ainda em sua fase de mundo primitivo.
Alimentando-lhes as mentes, contou com as suas lembranças para ser anunciado em todos os quadrantes, ao longo das eras.
E, a fim de que os caminhos fossem preparados de forma adequada para a Sua chegada, foi enviando mensageiros de Sua confiança, como batedores valorosos, através dos tempos.
Reconhecemos Seus porta-vozes em todos os cantos da Terra.
Fo-Hi, na China, revela ensinamentos de grande pureza e da mais avançada metafísica. Lao-Tsé traz lições cheias de perfume de requintada sabedoria moral.
E Confúcio, seis séculos antes do nascimento de Jesus, influencia com sua doutrina não somente a China, mas toda a Ásia Oriental.
Como precursores da ideia cristã, na Grécia despontam Sócrates e Platão.
E, ao se aproximar o tempo de nascer entre os homens, o Senhor Jesus escolhe os doze, os pilares para a devida propagação da Sua mensagem.
Não esqueceu de escolher um bem letrado homem, Levi, para que procedesse às primeiras e preciosas anotações.
Não faltou o encarregado dos valores do mundo, Judas, de Kerioth. Com certeza, alguém que se ofereceu para servir ao grande plano e que Jesus, atendendo ao livre-arbítrio da criatura, incluiu entre os doze.
Também escolheu os setenta e dois, aqueles encarregados de irem pelas aldeias, dois a dois, anunciando a chegada do Messias.
Pessoas de muitas cidades. Criaturas que Ele posicionou, na Terra, de forma estratégica, em determinadas localidades.
Por isso, identificou Zaqueu, em Jericó, que viria a dirigir os trabalhos apostólicos em Cesareia.
Da mesma forma vai a Sicar, na Samaria, lembrar a Fotina, a mulher do poço de Jacó, de sua missão. Ela se transforma na Iluminadora, servindo à Boa Nova.
Jesus, Modelo e Guia. Estrategista hábil, preciso. Delineou um plano e o executou, passo a passo, com todos os detalhes.
Os que não temos olhos de ver, não lhe percebemos a excelsa diligência em cada ação.
Mas somente um bem executado planejamento permitiria que uma vida messiânica tão curta lançasse sementes que prosseguem a frutificar, transposto o segundo milênio de Sua estada entre nós.
Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Profissão Honrada


Certa vez, um homem ligou para sua esposa da cabina telefônica de um aeroporto.
Quando as suas moedas terminaram, a telefonista o interrompeu para dizer que lhe restava apenas um minuto.
O homem se apressou para encerrar a conversa com a esposa mas, antes que eles tivessem tempo de se despedir, a linha caiu.
Com um suspiro, o homem pôs o fone no gancho e começou a sair da minúscula cabina.
De repente, o telefone tocou. Imaginando que fosse a telefonista, solicitando a colocação de mais moedas, ele pensou em não atender. Mas alguma coisa lhe disse para pegar o telefone.
De fato, era a telefonista. Contudo, ela não queria mais moedas. Tinha um recado para ele.
Depois que o senhor desligou, sua esposa disse que o amava. Achei que o senhor gostaria de saber.
*   *   *
Em qualquer atividade que exerças, considera-te servidor de Deus.
Por mais humilde seja a tua profissão, ela é por demais valiosa no conjunto social em que te encontras.
Cumpre com os teus deveres com alegria, e consciente do seu significado, do valor que eles têm e de quanto são importantes para a comunidade.
Ilhas imensas surgem nos mares, construídas por humildes ostras.
Desertos colossais resultam de pequenos grãos de areia que se acumulam.
Oceanos volumosos são nada mais do que gotinhas de água.
A tua parcela no mundo é de grande relevância. Portanto, trabalha com disposição e nobreza.
Não explores negativamente os semelhantes, retirando proveitos imediatos indevidos, através de tua profissão.
Muitos, enquanto exercitam a sua atividade profissional, oferecem materiais e produtos de inferior qualidade, ao preço de qualidade superior.
Outros egoístas, em suas oficinas, mentem, fingem, alegam trocas de peças, substituindo-as por aquelas de inferior possibilidade, ganhando dinheiro desonestamente.
Muitos funcionários encenam enfermidades, conseguem falsos atestados médicos, abusam de prerrogativas, para não exercerem as suas horas de trabalho.
Cada profissão no mundo guarda o compromisso de forjar o bem e o progresso dos grupos humanos. Também de iluminar todos aqueles que, na qualidade de dignos profissionais, honram os deveres, como legítimos cooperadores do Criador.
Não sejas daqueles que adotam profissões visando o destaque social, o ganho rápido e o menor esforço.
Quando ouças alusões a riquezas e prestígios, pensa em tantos doentes sem médico, analfabetos sem professor, explorados sem advogados que os ajudem e tantas outras necessidades humanas, a fim de que exerças a tua profissão com o melhor de ti.
A missão do homem inteligente na Terra deverá ser fazer a vida crescer por onde sigam os seus passos.
Trabalha feliz e exerce a tua atividade profissional com honra.
*   *   *
A profissão não deve ser encarada simplesmente como a possibilidade do ganho material. É também fator de crescimento.
É daquelas questões que, na esfera dos planejamentos reencarnatórios, antes do retorno à carne, são ajustadas no mundo invisível.
Abraça, pois, a tua profissão e exerce-a com amor, demonstrando a tua capacidade de ser útil e atender ao desenvolvimento da sociedade em que vives.
Redação do Momento Espírita

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Tempo do Coração


Quantos dias são necessários para se construir uma amizade?
Em quantos anos se consolida um grande amor?
Muitas vezes imaginamos que tudo podemos cronometrar, que o tempo é um só.
Temos a ilusão de que o tempo marcado pelo relógio pode dar conta de todas as coisas da vida.
É verdade que os segundos, formando minutos e compondo as horas são o cronômetro de nossas horas de trabalho, a referência de nossos encontros, a contagem do iniciar e acabar de nossos compromissos.
Porém, quando a contagem fica por conta do coração, o tempo ganha outra dimensão, e os segundos pouco significado trazem.
Quanto tempo é suficiente para se ficar ao lado de quem se ama?
Qual a duração do tempo, quando no convívio de amigos e almas queridas a nos encherem de alegria?
Por outro lado, por que as horas se fazem tão lentas nas dificuldades, dores e problemas?
Percebemos assim que o tempo de nossa intimidade não se mede com os cronômetros frios e impassíveis.
Para as coisas do coração, é necessário o tempo das emoções, e para este, não há relógio ou cronômetro capaz de cronometrá-lo.
Nestes dias de imediatismo intenso, de velocidades medidas pelo suceder de mensagens eletrônicas e postagens de imagens e textos na internet, muitos nos confundimos em nossas emoções.
Achamos que o grande amor acontecerá rapidamente, que as amizades se consolidarão de imediato, que sentimentos que desejamos em nossa intimidade brotarão na velocidade de alguns cliques.
Esquecemos que o mundo apenas conseguiu acelerar as velocidades da comunicação, da troca de informação, dos contatos intercontinentais.
Porém, nosso coração continua a processar emoções do mesmo modo que o fez com o homem na Grécia antiga, na Idade Média, no Iluminismo.
Para se ter um grande amor, é necessário o seu próprio tempo.
Para que uma grande amizade se consolide, faz-se fundamental dar a ela o seu tempo.
Porém não esse tempo dos segundos, do relógio.
É necessário o tempo da construção das emoções. Do investimento e da consolidação dos sentimentos, que se faz no seu próprio e incontornável tempo.
Na ansiedade de se ter tudo de imediato, muitos abandonam relacionamentos, desiludidos, achando que esses deveriam se fazer fáceis, sem muitos esforços.
Tantos desistem de aprofundar sentimentos porque esses não respondem e não se desenvolvem nas mesmas velocidades imediatas do mundo externo.
E assim procedendo, abrem mão da preciosa oportunidade das conquistas de novas paragens nos campos da emoção.
Grandes amores, amizades consolidadas se fazem e se constroem sob a sombra dos embates, das renúncias, da dedicação, da abnegação e da solidariedade.
E esses sentimentos nobres são colecionados na esteira do tempo, através das experiências e das oportunidades.
Enquanto não nos permitirmos isso, teremos na nossa intimidade apenas vaga ideia, e um idealismo distante dos grandes sentimentos capazes de preencher nossa alma.
Pensemos nisso e invistamos no tempo do coração.

Redação do Momento Espírita.