terça-feira, 30 de setembro de 2014

Lições das Árvores



Se as árvores pudessem falar, o que nos diriam? Que segredos poderíamos saber a partir dos seus relatos?

Elas resistem aos temporais, ao calor, às chuvas, aos ventos. Muitos se abrigam sob sua sombra, servem-se dos seus frutos.

Quantas gerações sobem em uma mesma árvore, através dos anos?

De uma forma romântica, quando olhamos para uma pintura de Auguste Renoir, Paysage aux collettes, e vemos, em primeiro plano, duas árvores retorcidas, retratando uma paisagem do local em Cagnes-sur-mer, que ele transformara em sua residência de inverno, não podemos nos furtar a imaginar as árvores que o terão inspirado.

E se pudéssemos entrevistar uma delas, que nos poderia dizer dessa genialidade que foi um dos maiores mestres da pintura impressionista, ao lado de Degas e Monet?

Talvez nos confidenciasse algo mais ou menos assim: Eu posei para Renoir. Foi minha natureza selvagem que atraiu a atenção daquele gênio.

Quatro séculos de vento e sol na Provença, na França, me deram o formato contorcido. Mas eu morreria se não fosse ele.

Em junho de 1907, ele comprou a terra debaixo das minhas raízes, em Les Collettes e impediu que um horticultor cortasse todas as árvores para plantar cravos.

Ele transformou este local em seu refúgio para o trabalho e a vida doméstica.

Na época, Renoir tinha sessenta e seis anos e já andava como um velho. 

Os filhos o carregavam para se sentar nas minhas raízes com seu cavalete.

Certo dia, eu o ouvi se queixar de mim ao seu marchand, Ambroise Vollard: “As oliveiras são horríveis de pintar.

Se você soubesse a dificuldade que tenho com esta aqui...
Ela tem tantas cores, nada é cinza. As folhinhas minúsculas realmente me fizeram suar! Uma lufada de vento e o tom muda.”

E, no entanto, ele me imortalizou. Poderei ser arrancada algum dia, ou ceder aos golpes de um machado cruel, e não morrerei.

Minha essência foi captada por ele e colocada na tela, em especial colorido.

E, embora Auguste Renoir reclamasse de mim, posso afirmar que fomos irmãos. Seus dedos deformados pelo reumatismo se pareciam com os meus galhos.

Há muito ele se foi, mas não esqueci um segundo do tempo que passamos juntos.

*   *   *

Seria verdadeiramente maravilhoso se entrevista deste gênero se pudesse concretizar. Seriam tantas as informações que nos poderiam fornecer as árvores que assistiram batalhas notáveis, com vencedores e vencidos; Ou as árvores das ruas, que veem passar as crianças, se tornarem adultos e terem seus próprios filhos.

Que nos poderia confidenciar aquele resistente carvalho polonês, crescido à entrada de um quartel, que se transformou em um campo de concentração nazista?

Quantas vítimas passaram sob seus galhos? Quanta fumaça dos fornos crematórios terá respirado?

Sim, elas não podem falar. São testemunhas mudas. No entanto, nos dão a lição da serenidade pois assistem beleza, morte, tristeza, com a mesma serenidade.

Acompanham o decorrer do tempo e não lastimam a soma dos anos. Em sua imobilidade, nos lecionam resistência. E, não importando a maldade ou a bondade das criaturas, oferecem a mesma sombra, os mesmos frutos, servindo sempre.

Pensemos nisso. Aprendamos com elas.


Redação do Momento Espírita

domingo, 28 de setembro de 2014

Prece Pela Perseverança


Senhor, meus sonhos me pertencem até o momento em abro mão deles, os abandono!... Nem sempre procedo assim porque quero, porque descobri novos objetivos em minha vida, muitas vezes, desisto no meio do caminho por insegurança, medo, por temor de me expor, de assumir o êxito do empreendimento. Há em mim, infantilmente, uma covardia que não sei como extirpar, um comodismo que me faz dar de ombros os meus projetos mais caros, qual fossem eles, de repente, destituídos de valor maior para mim...
Depois, Senhor, são lágrimas, arrependimento, uma certa inveja de quem apostou e venceu, uma raiva de mim mesmo, uma mágoa pela minha fraqueza que eu sei a causa do naufrágio de todos os meus sonhos e ideais!...
Por isso venho até a Tua sublime presença implorar auxílio ao meu espírito frágil, venho à Ti pedir que faça mais arrojado e perseverante, mais forte e determinado.
Sei que são virtudes que não poderei adquirir repentinamente; sei que elas virão através das situações que criarás para mim, visando meu fortalecimento e segurança, e que nem sempre serão situações de fácil assimilação.
Por isso, Senhor, antes que eu me ponha a lamentar as lições que Tu me enviarás, por certo, para que eu adquira o bem da perseverança, ajuda-me também a corrigir em mim o hábito da reclamação.
Que eu Te reconheça nas provas que virão para me auxiliar e as praticando, me torne perseverante como o desejo e assim, com destemor e fé, eu realize a minha felicidade, como ela deve ser!...

Assim seja!
(Oração recebida no Instituto André Luiz em 04.12.2002)

sábado, 27 de setembro de 2014

Um Sábio Ambicioso



Posto nunca tivesse provado as cruciantes angústias da miséria, a Sra. B..., de Bordéus, teve uma vida de martírios físicos, em conseqüência de inumerável série de moléstias mais ou menos graves, a contar da idade de 5 meses. Vivendo 70 anos, quase que anualmente batia às portas do túmulo. Três vezes envenenada pela terapêutica de uma ciência experimental e duvidosa, em ensaios feitos sobre o seu organismo e temperamento, arruinada, ao demais, pelos remédios tanto quanto pela doença, assim viveu entregue a sofrimentos intoleráveis, que nada podia atenuar. Uma sua filha, espírita-cristã e médium pedia sempre a Deus para suavizar-lhe as cruéis provações. Foi porém aconselhada pelo seu guia a pedir simplesmente a fortaleza, a calma, a resignação para as suportar, fazendo acompanhar esse conselho das seguintes instruções:

"Nessa vida tudo tem sua razão de ser: não há um só dos vossos sofrimentos, que não corresponda aos sofrimentos por vós causados; não há um só dos vossos excessos que não tenha por conseqüência uma privação; não há uma só lágrima a destilar dos olhos, que não seja destinada a lavar uma falta, um crime qualquer.

"Suportai, portanto, com paciência e resignação as dores físicas e morais, por mais cruéis que elas se vos afigurem. Imaginai o trabalhador que, amortecidos os membros pela fadiga, prossegue no trabalho, porque tem diante de si a dourada espiga, outros tantos frutos da sua perseverança. Assim, a sorte do infeliz que sofre nesse mundo; a aspiração da felicidade, que deve constituir-se em fruto de sua paciência, torná-lo-á resistente às dores efêmeras da Humanidade. Eis o que se dá com tua mãe. Cada uma das suas dores acolhida como expiatória, corresponde à extinção de uma nódoa do passado; e quanto mais cedo as nódoas todas se extinguirem, tanto mais breve ela será feliz.

"A falta de resignação esteriliza o sofrimento, que, por isso mesmo, teria de ser recomeçado. Convém-lhe, pois, a coragem e a resignação, e o que se faz preciso é pedir a Deus e aos bons Espíritos que lha concedam. Tua mãe foi outrora um bom médico, vivendo num meio em que fácil se lhe tornava o bem-estar, e no qual lhe não faltaram dons nem homenagens. Sem ser filantrópico, e, por conseguinte, sem visar o alívio dos seus irmãos, mas cioso de glória e fortuna quis atingir o apogeu da Ciência, para aumentar a reputação e a clientela. E na consecução de tal propósito não havia consideração que o detivesse.

"Porque previa um estudo nas convulsões que investigava, sua mãe era martirizada no leito de sofrimentos, enquanto que o filho se submetia a experiências que deveriam explicar uns tantos fenômenos; aos velhos abreviava os dias e aos homens vigorosos enfraquecia com ensaios tendentes a comprovar a ação de tal ou qual medicamento. E todas essas experiências eram tentadas sem que o infeliz paciente delas soubesse ou sequer desconfiasse. A satisfação da cupidez e do orgulho, a sede de ouro e de renome, foram os móveis de tal conduta. Foram precisos séculos de provações terríveis para domar esse Espírito ambicioso e cheio de orgulho, até que o arrependimento iniciasse a obra de regeneração. Agora termina a reparação, visto como as provas dessa última encarnação podem dizer-se suaves relativamente às que já suportou. Coragem, pois, porque se o castigo foi longo e cruel, grande será a recompensa à resignação, à paciência, à humildade.

"Coragem, a todos vós que sofreis; considerai a brevidade da existência material, pensai nas alegrias eternas.

"Invocai a esperança, a dedicada amiga dos sofredores; a fé, sua irmã, que vos mostra o céu, onde com aquela podeis penetrar antecipadamente. Atrai também a vós esses amigos que o Senhor vos faculta, amigos que vos cercam, que vos sustentam e amam, e cuja solicitude constante vos reconduz para junto dAquele a quem haveis ofendido, transgredindo as suas leis."

Nota - Depois de haver desencarnado, a Sra. B... veio dar, tanto por sua filha como na Sociedade de Paris, muitas comunicações, nas quais se refletem as qualidades mais elevadas, confirmando os seus antecedentes.


Allan Kardec - O Céu e o Inferno




quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Amar é Sofrer?




Quem disse que “amar é sofrer” jamais amou.

O beijo do ar da madrugada desperta a vida que dorme.

O sorriso da lua engrinaldada de estrelas diminui as sombras.

A carícia do sol vitaliza todas as coisas.

E a chuva que lava a terra, e reverdece o chão, e abençoa o mundo, correndo no rio, esvoaçando na nuvem esgarçada, são as tuas expressões de amor, construtor real, demonstrando o teu poder, a tua grandeza e a minha pequenez.

Quem ama, sempre doa, e não sofre, porque ama.

Quem diz que amar é sofrer ainda está esperando pelo amor e jamais amou.

*   *   *

As palavras do poeta Tagore são fortes. Desafiam todos os autores que até hoje cantaram, emocionados, as dores do amor.

E foram tantos... E ainda são.

O amor do mundo sempre esteve vinculado à dor, pois sempre foi um amor apego, um amor posse, um amor desespero.

Agia-se no ímpeto por amor, e lá vinha a dor. Esperava-se indefinidamente por amor, e lá se iam anos de sofrer silencioso.

Nossa arte revela isso de forma magistral: o ser humano tentando sobreviver amando dessa forma.

Chegamos ao ponto de nos autoflagelarmos por ele, ou ainda, de acabar com nossa própria vida, por não suportar tal vil pesar. E o pior, achamos isso belo, romântico...

Imaturos fomos, assim como o que chamamos de amor ao longo das eras também o foi.

Inventamos um tal deamor à primeira vista, para justificar paixões retumbantes, apenas desejos ardentes muitas vezes...

Alguns ainda, aprenderam a chamar o ato da união sexual em si, de fazer amor, como se em toda coabitação ele estivesse obrigatoriamente presente – quem dera...

Entendemos pouco de amor.

E não foi por falta de bons exemplos.

Recebemos na Terra o Espírito que irradiava amor, e que proclamou esta palavra aos quatro ventos, de uma forma inesquecível.

O amor do qual Jesus falava era esse amor doação, o amor ágape.

Pode haver sofrimento em nosso coração ainda por algum tempo, mas não por amar, e sim, apenas por não sabermos amar de forma devida.

São nossos vícios que trazem as dores. O amor só traz alegria e paz, pois é responsável pela consciência pacificada.

A carícia do sol vitaliza todas as coisas e o amor verdadeiro é este sol, que sempre vitaliza e nunca enfraquece.

Nas piores noites o sorriso da lua engrinaldada de estrelas diminui as sombras. É novamente o amor, consolando, dando esperança, e jamais provocando mais escuridão.

É tempo de conhecer melhor o amor, agora que podemos ser mais maduros, que entendemos que não possuímos as coisas nem as pessoas; agora que entendemos que não estamos aqui para ter, mas para ser.

Ainda estamos esperando pelo amor, é certo, porém, cada movimento que fazemos em direção ao outro, deixando de lado o vício do egoísmo e do orgulho, é um passo que damos até ele.

E talvez logo descubramos que não fomos nós que esperamos pelo amor durante todo esse tempo, mas ele que sempre esperou por nós...


Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Mãos Aveludadas de Deus




Ele estava no ônibus urbano. Jovem, vestia a camisa dez da seleção de futebol. O amarelo se destacava na condução lotada.

Chamou atenção a criança que ele trazia ao colo, pelos gritos estranhos que emitia, a espaços regulares. Denotava ser portadora de deficiência, algum problema que, na qualidade de leigos, não identificamos.

O menino demonstrava, ademais, ter problemas neurológicos graves, pois se mantinha um tanto relaxado, no colo paterno, os braços ao longo do corpo, a cabeça pendendo para um lado.

Vez ou outra, o corpo projetava-se para a frente, num movimento de queda, como se a gravidade lhe lançasse um apelo, ao qual ele acedia, sem resistência.

O pai, sem alterar-se ou demonstrar inquietação, tornava a acomodar o filho, secando-lhe a baba, com delicadeza, preocupando-se, com seu conforto.

Nenhum sinal de enfado. Ao contrário, infinita ternura, em cada gesto. 

Chegado ao destino, ergueu-se do banco onde se assentava, tomou seu fardo precioso nos braços, acomodou-lhe a cabeça em seu ombro direito, sob as reclamações insistentes do garoto.

E lá se foram os dois, parecendo um só, ambos de camisa amarela. Um ereto, caminhando firme, debaixo do sol de inverno, gargalhando luzes douradas. O outro, utilizando-o como apoio para seu frágil e desengonçado corpo.

Quanto amor em poucos gestos. Quanta ternura em cada ação.

O menino, exteriormente, não denotava perceber os cuidados de que era alvo. No entanto, ao olhar mais atento não escapava o fato de que as expressões dos sentimentos amorosos o acalmavam.

É como se a ternura tecesse uma rede, para nele embalar o ser deficiente e indefeso.

Lembramos de quantos pais e mães existem, na Terra, bordando carinho na vida de filhos dependentes. Filhos portadores de deficiências físicas e mentais.

Pais e mães que abraçam filhos, de tal sorte alienados que jamais, nesta vida, lhes manifestarão gratidão por qualquer forma.

Filhos com problemas. Seres amados.

Almas que se reencontram sob o pulsar do amor e a grandeza das renúncias.

À noite, quando deixam os corpos, em desprendimento parcial pelo sono, pais e filhos se encontram em jardins espirituais, entre abundância de flores, perfumes e cores.

É ali que o Espírito do filho abraça e chora de emoção: Obrigado, pais queridos, por me ampararem, botão de flor defeituoso, na primavera da vida.

E os pais, entre carinhos, respondem: Filho amado, conta conosco. 

Seremos na Terra, nesta vida, tuas pernas, teus braços, tua mente. O amor que nos une supera toda dificuldade.

Depois, retornam aos corpos físicos e, quando a manhã se espreguiça, e o sol estende sua colcha dourada sobre o dia nascente, eles abrem os olhos na carne e reiniciam suas lutas.

*   *   *

Benditos sejam os que amam, os que agasalham outras vidas renunciando às suas próprias.

Benditos sejam, pais e mães da Terra, mãos aveludadas de Deus, no planeta, sustentando vidas débeis.


Redação do Momento Espírita


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Ter Sempre Razão


  
Quanto custa ter sempre razão?

Em algum momento, paramos para analisar esta questão? Já pensamos quais são as consequências de sempre querer provar que estamos certos?

É claro que defender um ponto de vista é corriqueiro. Colocar nosso posicionamento ou nossas ideias perante um fato, de maneira sensata, é mesmo saudável.

Trocar ideias a respeito de um tema, argumentar a favor de um conceito no qual acreditamos, são posturas naturais e comuns nas nossas relações cotidianas.

Porém, quando essa atitude supera todas as barreiras, está sempre como ponto de honra de nossa palavra, quando se torna fundamental ter a razão, qual o preço a ser pago?

Quantas vezes nos aborrecemos com alguém pelo simples fato de querermos convencê-lo de que ele está errado em sua forma de pensar?

Quem de nós não se pegou transformando uma discussão tranquila em um afrontamento pessoal?

Ou ainda, quantas vezes não elevamos o tom da conversa, nos tornamos ríspidos no enfrentamento de ideias?

Defendemos nosso ponto de vista como acreditamos ser o mais adequado. E, naturalmente, temos nossa maneira de ver a realidade, conforme nossos valores, conceitos e capacidades.

Quatro pessoas, cegas de nascença, ao serem colocadas junto a um elefante vão conseguir relatar o que puderem tocar do animal.

Se não lhes derem a oportunidade de perceber as diferenças entre orelha, cauda, tromba, corpo, terão apenas uma ideia parcial.

Não estarão erradas, apenas cada uma terá somente parte da razão.

Muitas vezes isso acontece nos nossos relacionamentos. Temos a nossa percepção, a nossa capacidade de análise.

Não quer dizer que estejamos errados ou que não tenhamos razão em nossos argumentos.

Porém não podemos esquecer de que o outro tem sua própria forma de ver, seus valores, suas ideias.

Enfrentar-se nessas situações, será o duelo de ideias, a briga de argumentos, em que, quase sempre, o que existe, de verdade, é o desejo de impor nosso raciocínio, nossa argumentação.

Inúmeras vezes, em nome de desejarmos provar que a razão nos pertence, usamos nossa palavra como quem está numa batalha, não desejando nunca perder.

Ter sempre razão às vezes custa o preço de uma amizade.

Buscar impor aos outros nossos argumentos, repetidamente, pode ocasionar o desgaste da relação.

Querer estar sempre certo, no campo das ideias e reflexões, pode causar fissuras nas relações familiares.

Assim, antes de buscarmos ter razão, melhor buscarmos a preservação da harmonia.

Antes de querermos ser vencedores em nossa argumentação, melhor que tenhamos paz de espírito.

A verdade, mais dia, menos dia, se fará presente, duradoura, perene.

Assim, mesmo quando toda a razão nos pertença, vale refletirmos se devemos continuar nossos duelos de ideias.

Talvez, o melhor, em determinadas situações, seja utilizarmos nossa capacidade pensante, nosso senso de validação para buscar compreender o próximo.

Ao assim procedermos, poderemos entender o porquê dos argumentos alheios, de sua forma de agir, facilitando e aprofundando nossas relações.

Dessa maneira, evitaremos o granjear de atritos e dissabores, pesos desnecessários ao nosso coração.

Pensemos nisso.


Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Passos de Luz



Nas tribulações ou discórdias, recordemos a necessidade de certo donativo: o primeiro passo para o reajuste da harmonia e da segurança.

Isso significa para nós um tanto mais de amor, mesmo quando nos cerque a incompreensão.

Por vezes, o lar em tumulto reclama a tranquilidade, ante a discórdia entre pessoas queridas.

Em outras circunstâncias, são companheiros respeitáveis em conflito uns com os outros.

Em algumas situações, é o estopim curto da agressividade exagerada nesse ou naquele amigo, favorecendo a explosão de violência.

Noutros lances, é o tormento de algum coração nobre ferido, porque ainda tisnado pelo orgulho.

Recordemos a misericórdia que todos recebemos de Deus, a cada trecho da vida.

Aparece a aflição? – Mais compreensão.
Ocorrem prejuízos? – Trabalhemos com vigor.

Em todas as situações, nas quais o mal entreteça desequilíbrio, tenhamos a coragem do primeiro passo, em que a serenidade e o amor, a humildade e a paciência nos garantam de novo a harmonia do Bem.

        
Emmanuel - Chico Xavier

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Eu Achava Que o Choro Era Ruim



A experiência de uma mãe e seu bebê nos traz reflexões muito profundas e importantes. Diz-nos ela:

É que eu achava que o choro era ruim. Eu achava que o choro tinha que parar. E acho que é isso que aprendi: não precisa.

Existem, sim, motivos para o choro: desconforto de temperatura, fome, fralda, refluxo, doença, sono. Mas existe o choro que não cessa após checar tudo o que pode estar errado.

E esse choro, que pode durar horas até, esse choro não é errado. E se hoje eu pudesse rever esses dias de maternagem, talvez me preocupasse menos em silenciar o choro de minha filha e mais em acolher suas lágrimas.

Talvez eu me focasse menos em ficar dizendo “shhhh”, balançando Clarinha de um lado pro outro do quarto, tentando todas as táticas possíveis, me sentindo incapaz de consolá-la, e decidisse aceitar o seu choro, sua voz, como eu procuro aceitar a de qualquer amigo que me procura em prantos.

Entender que não se pode resolver a dor do outro, mas sempre se pode acolhê-la.

Entender que o choro às vezes não é dor, mas adaptação a esse mundo de sons, cheiros, luzes e pessoas, a que o bebê não está acostumado.

Entender que, quando não se fala, não se balbucia e não se gesticula, só existe o choro como comunicação.

E quantas vezes as minhas tentativas de cessar o choro me impediram a verdadeira conexão com a minha filha?

O quanto o simples ato de abraçá-la e permitir que ela chorasse o que precisava, sabendo que eu estava ali com ela, presente, integralmente presente, sem procurar distraí-la, teria sido tão ou mais eficiente do que tentar táticas e truques para ela parar de chorar?

O quanto aquele choro não era um pedido por mais presença com intenção e coração, uma necessidade de dar um basta nas incômodas visitas pós-parto, um desejo de proximidade e o luto pela separação de não estar mais dentro de mim, segura e protegida?

Choro é emoção. Não quero ensinar a ela que o choro é errado. Que as emoções são erradas, que sentir é inadequado. O choro é normal.

*   *   *

Se percebermos bem, adquirimos este hábito de fazer tudo para que o choro cesse o quanto antes. Tanto o nosso chorar como o de alguém que nos é caro.

O choro é incômodo, é constrangedor, em nossa cultura, e ele precisa ser represado com uma urgência e um desespero injustificáveis – se pensarmos bem.

Não paramos para pensar que o choro tem seu momento. É algo que precisa sair e precisa de tempo para isso.

Melhor para fora do que para dentro, disse alguém, um dia, consolando uma pessoa que se desculpava por não ter conseguido segurar as lágrimas.

Sim, nós pedimos desculpas por nos emocionarmos... Muito estranho. 

Como se fosse sinal de fraqueza.

Chorar é bom. Chorar é importante. Chorar é terapêutico.Aqueles que guardam anos e anos de lágrimas constroem doenças para si. É isso mesmo: ficamos doentes porque represamos emoções.

E no que diz respeito à dor do outro, que muitas vezes não conseguimos resolver, que às vezes teríamos vontade de tirar com as mãos se pudéssemos – quando é de um filho, de um pai, de uma mãe – essas dores podemos acolher. Podemos compartilhar lágrimas e dizer: Estou com você.

Acolher o choro de alguém sempre será gesto profundo de amor. 


Redação do Momento Espírita

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O que Passa e o que Permanece



Há poucos dias eu me mudara para minha nova casa.

Os móveis haviam chegado e precisavam ser montados. Contratei, portanto, os serviços de um marceneiro.

Era um homem experiente e esforçado. Em apenas três dias conseguiu montar sozinho os móveis do quarto, sala e cozinha.

E gostava muito de conversar também. Entre uma martelada e outra, um parafuso ajustado, puxava os mais diversos assuntos.

De vez em quando falava de política. Em outros momentos, discorria sobre as vantagens de seu time favorito de futebol. Ainda, falava sobre o tempo, atualidades e a última notícia sensacionalista dos jornais.

Mas, sem dúvida, seu assunto predileto era sua família. Gostava de contar sobre a dedicação de sua esposa e da inteligência e educação dos seus filhos. Seus olhos brilhavam de orgulho e felicidade.

Entretanto, naquele terceiro dia, ao chegar à minha casa para concluir a montagem dos móveis, percebi que havia algo diferente no seu semblante.

Trabalhou o dia todo praticamente em silêncio e, porque me preocupei com tal mudança de comportamento, questionei-o sobre o que estava acontecendo.

Aquele não havia sido um dia fácil para ele: de manhã, seu veículo de trabalho havia apresentado problemas e, por isso, ficaria vários dias na oficina mecânica.

Quando estava no ponto de ônibus, aguardando o transporte que o traria à minha casa, um assaltante lhe furtou a caixa de ferramentas.

E, como se não bastasse, sua carteira estava na caixa. Dessa forma, todos os seus documentos haviam sido extraviados também.

Por isso, ele estava extremamente irritado, o que justificava o seu silêncio.

Quando ele terminou seu trabalho, em solidariedade aos acontecimentos tristes daquele dia, lhe ofereci uma carona para casa, pois sabia que ele estava muito cansado. Agradecido, ele aceitou.

Ao chegarmos, ele me convidou para entrar, a fim de que eu conhecesse sua família.

Em frente à residência, havia uma majestosa árvore. Antes de abrir a porta de sua casa, o trabalhador se recostou nela por breves momentos e, depois disso, seu semblante mudou, o que me causou grande espanto.

Entrou em casa sorrindo, beijando a esposa e os filhos, e, para variar, falando muito.

Ela me convidou para o jantar e a noite foi muito agradável.

Ao me despedir, envolto pela curiosidade, o questionei sobre a árvore e aquela mudança radical de atitude.

Sorrindo, ele me respondeu: Aquela é minha árvore dos problemas. 

Quando chego à minha casa, eu deixo todos os meus problemas nela, de forma que não os desconte em minha família, pois de nada eles têm culpa.

Amanhã, quando eu for trabalhar, os pego novamente e, com a ajuda de Deus, saio para resolvê-los.

*   *   *

Embora as situações difíceis que se apresentam no dia a dia, cultivemos sempre o bom ânimo com aqueles que estão ao nosso redor.

Não deixemos que nossos problemas se transformem em palavras rudes, impaciência, falta de carinho, amor, compreensão, ternura.

Pois o dinheiro, o estresse, as metas a se alcançar vão-se embora... Mas a família, os amigos, momentos de cumplicidade ao lado daqueles que nos amam e a quem amamos, esses sim são eternos...

Pensemos nisso... Mas pensemos agora!

Redação do Momento Espírita

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Penhor de Fé



Não te surpreendam as dificuldades nem as incompreensões na esfera da. ação em que te encontras a serviço da Era Melhor do Espírito Imortal. Todo empreendimento que visa a modificação de estrutura ultramontana do erro experimenta a reação contrária da própria fôrça em atuação.

Apontas ásperas lutas e duras provas, referes-te a desencantos e dubiedades, arrolas desassossego e evasão, abisma-te em desaire e amargura como se desejasses um jardim florido para aspirar aroma e não uma gleba a transformar-se em seara de bênçãos, toda por inteira.

Considera, porém, que a lâmina que produz desgasta-se, a pedra que atrita destrói-se, o lume que clareia consome o combustível de sustentação, o corpo que se desenvolve e cresce para a glória do espírito caminha para o sepulcro...

Tudo são permutas incessantes.

Átomo a átomo agrega-se à molécula.

Célula a célula compõe-se o órgão.

Partícula a partícula forma-se o vegetal.

Vibração a vibração aglutinam-se as fôrças do Universo.

O sol que nos sustenta aniquila-se paulatinamente ao converter massa em energia para o equilíbrio e manutenção dos astros que gravitam na sua órbita... Assim, também, ocorre no campo das aspirações morais.

A excelência dos nossos ideais se revela no testemunho que deles oferecemos.

Começamos e recomeçamos tarefas de sublimação até atingirmos o ápice da libertação, resgatando todos os débitos.

Por essa forma, cada qual respira no clima elaborado pelo pensamento e cultivado pela vontade.

Ante o que fazer, não te aquietes no já feito.

Fase ao produzir em nome do amanhã, evita a paisagem do passado.

Projetando o bem esquece o mal, que em última análise é apenas o bem ausente.

Não desfaleças, não retrocedas, porque as tuas aspirações sofrem a baba da injúria e as tuas expressões são entendidas como acicates que no entanto não esparzes.

Reverenciando Jesus, a Quem procuras atender e cujo amor te incendeia a alma em pleno despertar, agradece todo empeço e azedume que te apareçam, perdoando sempre, porquanto, testemunhando a legitimidade dos teus propósitos, o perdão que ofertes é oportunidade para ti mesmo, como perdão de Nosso Pai na direção dos teus desejos.

*

"Tende fé em Deus!" Marcos: capítulo 11º, versículo 22.

*

"A verdadeira fé se conjuga à humildade; aquele que a possui deposita mais confiança em Deus do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus". Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 19º - Item 4.


 Divaldo Pereira Franco - Joanna de Ângelis


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Recordações Felizes




A senhora acordou pela manhã e abriu a janela. O sol entrou sorridente, inundando o recinto. Ela parou por alguns momentos, olhando a paisagem que se desenhava à distância, entremeada de telhados de casas, alguns prédios, as árvores, nuvens entrecortando a monotonia do azul do céu.

E tudo lhe surgiu à mente, de forma rápida, como num caleidoscópio de imagens sucessivas e sequenciais: a casa de madeira, o jardim onde os cravos disputavam a beleza e o perfume com as margaridas, as rosas e os jasmins, o pomar com tantas árvores.

Árvores que estavam habituadas a ter a criançada dependurada em seus galhos, saboreando as frutas da estação: laranjas, caquis, ameixas amarelas, uvas, pêssegos, maçãs, romãs.

Distante infância, pensou ela. E, ao mesmo tempo, parecia tão próxima. 

Como haviam transcorrido céleres os anos e quantas mudanças haviam ocorrido em sua vida...

Logo, um hausto de saudade lhe invadiu a alma e ela recordou dos irmãos queridos que haviam partido, um a um, num lapso temporal relativamente curto. E pensou como poderia ter usufruído ainda mais das suas presenças.

Sim, haviam sido anos de convivência amorosa, contudo, lembrava, quantas vezes poderia ter alongado a permanência ao lado de um, de outro, mais algumas horas.

Mas, não o fizera: Eram os compromissos de variada ordem que lhe solicitavam a presença aqui, acolá.

Lamentava agora, enquanto a saudade mais estreitava o seu abraço e as lágrimas, traduzindo a emotividade, estavam prestes a romper a represa dos olhos, onde tremeluziam.

Quanta saudade! Como seria bom tê-los, junto ao seu coração, nesse dia que deveria ser somente de alegrias. Era o dia do seu aniversário. E eram várias décadas a se somar, mais de meio século passado.

O pensamento voou para outras questões e recordou os amigos que haviam rumado para a Espiritualidade, colegas com os quais compartilhara bancos escolares, outros que haviam ombreado tarefas e ações na empresa em que servira tantos anos...

Pensou em quando ela mesma haveria de partir. Estaria preparada? Ela vira tantos amores dizerem adeus, selarem os lábios da carne para sempre e atravessarem os umbrais da morte, triunfantes.

Então, ergueu a alma em prece, agradecendo pela vida que desfrutava, pelo dia que apenas começava e que, com certeza, seria coroado de flores, cumprimentos, abraços.

E rogou ao Senhor da vida para que lhe permitisse mais alguns anos sobre a abençoada face da Terra, que esses anos fossem plenos de trabalho, de produção no bem, de progresso, de ascensão.

Dirigindo o pensamento aos amados, sentindo-os adejarem ao seu redor, igualmente saudosos, deu-se conta de que eles ali estavam, para cumprimentá-la pela vitória de ter vencido mais trezentos e sessenta e cinco dias, na carne.

Sim, era uma grande vitória. Cada ano totalmente vivido, aproveitado, é uma vitória. E, por isso, ela encheu os pulmões de ar, sorriu feliz e iniciou a contagem das horas para o novo dia.


Redação do Momento Espírita

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Limonada do Bem




Um menino de sete anos conseguiu arrecadar cerca de cento e dezenove mil reais, vendendo limonada caseira e com doações pela Internet.

Seu objetivo foi ajudar seu amigo com paralisia cerebral a realizar uma cirurgia cara e complexa.

Quinn Callander quis montar sua própria barraca de limonada em Maple Ridge, na Colúmbia Britânica, no Canadá, quando ficou sabendo que seu amigo, Beaver, também de sete anos, precisaria de uma operação para ajudar na recuperação de movimentos.

O braço e a perna do lado direito de Beaver foram afetados pela paralisia.

A cirurgia poderia ser feita nos Estados Unidos, mas o custo era de quase vinte mil dólares, cerca de quarenta e cinco mil reais.

Ao ficar sabendo disso, Quinn pediu à mãe que o ajudasse a montar uma banca para venda de limonada. A banca foi montada em determinado domingo, para ajudar o amigo e, ao mesmo tempo,uma campanha foi aberta na Internet, para buscar ajuda coletiva, em um Crowdfunding.

Na página, há um texto explicativo contando que Quinn e Brayden vão à escola juntos, mas que a paralisia cerebral de Brayden torna difícil o seu andar e que a fisioterapia diária para mantê-lo andando é dolorosa.

O resultado da campanha surpreendeu a todos: em apenas vinte e cinco dias, foram arrecadados mais de cinquenta e três mil dólares, trinta e três mil a mais que o valor necessário para a cirurgia. 

Ou seja, Quinn conseguiu o que queria.
De acordo com as informações da família, a cirurgia de Brayden já foi marcada para os próximos meses.

*   *   *

É tão bom saber que estamos começando a nos apoiar mutuamente dessa forma!

Que as redes sociais, utilizadas para o bem comum, estão sendo veículos de financiamentos coletivos para causas nobres.

Que não precisamos ficar dependentes de grandes órgãos, instituições, governos, e que podemos nos amparar tomando iniciativas grandiosas através da união de nossas forças.

Esta é uma das caras da caridade dos novos tempos, do mundo de regeneração, onde ainda teremos muitos que precisarão de ajuda, mas que serão sempre prontamente amparados, erguidos, pelos mais fortes, toda vez que precisarem.

E, muitas vezes, o exemplo vem dessas crianças novas que nascem no planeta, Espíritos que reencarnam com missões especiais, sem tantos vícios morais e propensas ao bem.

Elas vêm liderar um movimento novo, o movimento da instalação de um novo tempo, de um tempo de entendimento entre as raças, de respeito ao planeta, de resgate da dignidade humana.

Podemos tê-las dentro de nosso próprio lar, inclusive, e tudo que precisam de nós, pais, é que lhes demos oportunidades de fazerem o bem, de construírem sua sensibilidade, sua compaixão, pois esses serão grandes instrumentos de trabalho no planeta.

Observemos nossas crianças, suas tendências, seus desejos. Alimentemos sua bondade. Não calemos sua vontade de ajudar, de se comunicar, de interagir, de pensar nos outros, de se importar.

Basta de gerações de indiferença, de egoísmo, de individualismo. Isso já nos custou muito caro.

É tempo da nova geração. Recebamo-la de braços abertos.


Redação do Momento Espírita