quinta-feira, 30 de abril de 2015

Nascimento, Vida, Morte



Ele era filho de um capitão de barco de pesca e ficou órfão de pai aos cinco anos.
A partir daí, sua educação ficou aos cuidados de sua mãe e de sua irmã Henriette, com a qual tinha profunda ligação afetiva.
Os anos de 1860 – 1861 foram marcantes para Ernest Renan. Foi nessa época que concebeu a obra Vida de Jesus, lançando sobre o papel a sua primeira redação.
No entanto, a 24 de setembro de 1862, em Biblo, morreu sua querida irmã. Foi para ela que redigiu uma dedicatória, na abertura de seu famoso livro:
Para a alma pura de minha irmã Henriette.
Lá no seio de Deus onde repousas, recordas-te ainda daqueles largos dias, onde eu, só contigo, escrevia estas páginas inspiradas pelos lugares que tínhamos visitado juntos?
Silenciosa ao meu lado, ias lendo e copiando logo cada folha, enquanto se desdobravam abaixo de nós o mar e as aldeias, as quebradas e as montanhas.
Disseste-me um dia que havias de querer muito a este livro, não só porque nele te revias, mas também, e especialmente, porque fora elaborado contigo.
Receavas, por vezes, que os juízos estreitos do homem frívolo pesassem sobre ele. Mas nunca deixaste de crer que as almas verdadeiramente religiosas o haveriam de apreciar.
No meio de tão gratas meditações, veio cobrir-nos a asa da morte. Na mesma hora, nos envolveu o sono da febre. Eu despertei, mas estava só!
Tu dormes, ao pé das sagradas águas onde vinham juntar suas lágrimas as mulheres dos mistérios da Antiguidade.
A mim, a quem tanto querias, revela, Espírito amigo, as verdades que dominam a morte, que impedem que o homem a tema e que quase fazem que a deseje.

*   *   *

Aqueles que têm a certeza de que a morte física não aniquila a alma, guardam essa doce possibilidade de endereçar aos seus amados os seus versos e os seus poemas.
Sim, nossos mortos prosseguem a viver e nos ouvem, nos veem. Muitas vezes, acompanham nossas lutas e lamentam nossos desacertos.
Nada mais alentadora do que a afirmação de Jesus, em Seu discurso de despedida: Não vos deixarei órfãos. Vou à frente preparar-vos o lugar. Se assim não fora eu vo-lo teria dito.
Nossos amados, que seguiram à nossa frente, demandando o grande Além, estão à nossa espera.
E se nos tranquiliza saber que eles deixaram a vida física, vitoriosos, tendo cumprido suas missões, sendo bons esposos, pais, irmãos, filhos, guardamos a certeza de que gozam de paz e harmonia na vida espiritual.
Oxalá, quando chegue a nossa vez, possamos igualmente merecer a palma da vitória por todos os deveres cumpridos, pela missão completada.
Nesse dia, deixaremos o corpo de carne, retornando para o lar verdadeiro, a pátria espiritual.
Por quanto tempo? Só Deus o sabe.
Talvez fiquemos por lá um breve tempo e resolvamos voltar ao planeta azul para continuar nossas lides, nosso crescimento.
Talvez fiquemos um período mais longo, como um repouso depois de tantas lutas, de tantas batalhas empreendidas.
Nascimento, vida, morte. Reencontro de almas aqui, Além.
Que certeza gratificante nos enche de esperança os corações.

Redação do Momento Espírita

terça-feira, 28 de abril de 2015

Amizade se Escreve Assim




Foi durante a Primeira Grande Guerra. Eles eram jovens e a amizade que os unia tinha a ver com alguns momentos de lazer, de música e, sobretudo, de sobrevivência.
Ele não poderia esquecer que devia sua vida a um judeu alemão chamado Erik.
Um ano mais velho que ele próprio, Erik ensinou Hans a tocar acordeão.
Certo dia, o sargento entrou no alojamento perguntando quem tinha letra bonita.
O capitão precisava que fossem escritas umas doze cartas. Ele estava com reumatismo ou artrite ou algo parecido e não podia escrevê-las.
Ninguém se voluntariou. Erik, no entanto, resolveu indicar o amigo. Falou que ele tinha caligrafia impecável.
Em verdade, a capacidade de redação de Hans era reduzida. Mas ele escreveu as cartas, enquanto o restante dos homens entrava em combate.
Nenhum deles voltou. O corpo de Erik foi encontrado em vários pedaços, numa colina cheia de relva.
Hans guardou o acordeão do amigo e o levou consigo, durante toda a guerra.
Ao regressar para casa, localizou a família de Erik para devolver o instrumento.
A viúva não o quis. Olhar para o instrumento musical lhe trazia memórias ainda mais nítidas do tempo em que ela e o marido davam aulas de música.
Hans tocou para ela, enquanto ela chorava, em silêncio.
Num papel, Hans escreveu seu nome e endereço.
Sou pintor profissional. Pinto seu apartamento de graça, quando a senhora quiser.
Hans se foi, logo após descobrir que Erik deixara um filho pequeno de nome Max.
Mais de vinte anos se passaram. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial e a perseguição aos judeus, Max foi ocultado em um depósito por meses a fio, por um amigo alemão.
Contudo, o perigo aumentava dia a dia. Era preciso sair dali.
Max lembrou de Hans, o amigo de seu pai. E da promessa feita a sua mãe.
Sim, ela nunca precisara da pintura no apartamento. Mas ele precisava de um abrigo.
Um contato foi enviado ao endereço de Hans. Semanas depois, veio a informação: Hans ainda tocava acordeão, o do pai de Max.
Não era filiado ao partido nazista. Era pobre, casado e tinha uma criança. Importante: ele lhe mandara um livro. Na capa interna, uma chave. A chave de sua casa.
Assim, nas primeiras horas de uma madrugada silenciosa, na pátria do nazismo, um jovem judeu chegou à casa de Hans.
Colocou a chave na fechadura, entrou na cozinha.
Hans despertou. Desceu os degraus, no escuro.
No escuro encontrou o jovem fugitivo. Fez-lhe café para aquecê-lo.
Depois, o escondeu no porão.
Era uma situação aflitiva. Assustadoramente aflitiva.
Se Hans e a esposa fossem apanhados dando abrigo a um judeu, seriam presos, condenados, talvez mortos.
Nunca mais veriam a criança... Mas Hans fizera uma promessa.
Devia sua vida ao pai daquele jovem. Jamais poderia esquecer isso.

*   *   *

Amizade se escreve de muitas formas. Pode se escrever com L, de lealdade, com G, de gratidão, com C, de coragem.
Mas, principalmente, com A, de amor, sentimento elevado sempre presente nas almas nobres.
Pense nisso.

Redação do Momento Espírita

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Nossos Amigos e Irmãos


Algumas pessoas se ressentem do convívio humano e só não se fecham por completo porque o contato constante com animais, sejam eles cães, gatos, pássaros, não permite que o amor e a ternura se desvaneçam totalmente.
O escritor e editor britânico Joe Randolf Ackerley, morto em 1967, não era o que se pode chamar de amante dos animais. Seu comportamento chegou a ser considerado excêntrico.
Na maturidade, adotou uma pastora alsaciana de nome Queenie. Ela se transformou em sua grande companheira, a amiga ideal e o melhor relacionamento de sua vida, segundo o próprio escritor. Por causa dela, ele mudou.
Sua produção literária teve uma melhora significativa. Nos quinze anos em que conviveu com Queenie, produziu seus melhores livros.
Em Minha cadela tulipa, um romance cheio de ternura, ele narra a amizade e o amor verdadeiro que compartilhou com sua leal companheira. O livro foi transformado em uma animação, que recebeu vários prêmios.
Na primeira metade do século XX, na cidade de Shibuya, o professor Hidesabaro Ueno adotou um cão da raça Akita e o chamou de Hachiko.
Diariamente, o cão acompanhava o dono até a estação de trem e ali aguardava que ele retornasse de Tóquio, onde lecionava.
Essa foi a rotina dos dois por mais de um ano, até que Ueno teve um acidente vascular cerebral e morreu.
Durante dez anos, o cão ficou aguardando seu amado dono, na estação, para surpresa e comoção de todos, que passaram a alimentá-lo.
Essa história de amor e lealdade, concluída com a morte do fiel animal, foi divulgada por todo o Japão. Tornou-se matéria de jornal, documentário, livro e inspirou o filme Sempre a seu lado.
*   *  *
Diariamente, cães e gatos anônimos alegram o nosso dia a dia, dão carinho e amor incondicionais aos que lhes somos donos, ajudam a reduzir nossa ansiedade, estresse, confortam nos momentos de tristeza.
Animais ensinam a amar e a perdoar.
Eles existem, não para servir aos seres humanos como escravos, mas para lembrar-nos de que todos somos criaturas de Deus.
Somos responsáveis por sua manutenção, pelos cuidados de que carecem.
Infelizmente, muitos não estamos atentos a esse papel no mundo. Maltratamos, abandonamos, agredimos, exploramos, torturamos e até os matamos, de forma cruel.
Em contrapartida, inúmeros voluntários resgatam animais em situação de risco, doentes, feridos. Cuidam para que se recuperem e se reintegrem ao mundo, às vezes, com o sacrifício do próprio repouso e alimento.
São almas abnegadas que, inspiradas pelo sublime defensor da natureza, Francisco de Assis, entenderam que, no Universo, tudo está interligado. E que os animais são nossos irmãos menores.
O nobre Franciscano dizia que todas as coisas da criação são filhos do Pai e irmãos do homem. Deus deseja que ajudemos aos animais. Toda criatura tem o mesmo direito de ser protegida.
Que possamos nos lembrar de que, como irmãos mais velhos, na escalada evolutiva da Terra, temos a responsabilidade dos cuidados necessários aos animais.

Redação do Momento Espírita.

domingo, 26 de abril de 2015

A Mãe de Mil Filhos




Maria Inês não teve filhos.
Maria Inês é enfermeira de uma UTI neonatal há vinte e quatro anos.
Ela é mãe de uma forma toda especial pois, por suas mãos, por seus cuidados, já passou mais de um milhar de crianças.
O vídeo preparado por uma agência de publicidade para homenageá-la ultrapassou cinco milhões de visualizações e o número continua subindo.
Nele, a técnica de enfermagem narra, com detalhes, o trabalho delicado e gratificante que faz, cuidando dos bebês como se fossem seus filhos.
O bebê prematuro é um bebê que fica muito tempo internado no hospital, e a gente acaba criando um vínculo muito grande com o bebê e com a família. – Diz ela.
Eu me lembro, um por um daqueles bebês. - Afirma com segurança, folhando um álbum recheado de fotografias dela junto com seus filhos temporários, e dizendo o nome de cada um.
Alguns deles, ela chegou a acompanhar durante as cirurgias delicadíssimas às quais se submeteram, permanecendo ao seu lado nesses momentos críticos do início de suas existências.
Folhando a coleção de fotos e memórias ela se pergunta: Como foi a primeira noite deles em casa? Como foi a infância deles? Será que é médico, engenheiro, professor? A gente sente saudade deles...
A agência fez uma grande surpresa para Maria Inês: na cobertura de um prédio, projetou diversas fotos em tamanho gigante. Fotos dela com seus inúmeros filhos. Algumas fotos de seu álbum.
E quando ela menos esperava, através de um portão começaram a entrar diversas pessoas, vindo em sua direção.
Vinham para abraçá-la.
E cada uma foi se apresentando. Ela foi reconhecendo, um a um, muitos daqueles que cuidou com tanto amor em seus primeiros segundos de vida, na UTI neonatal do hospital.
Um momento de extrema beleza e emoção. Um momento que simboliza o mundo novo, o mundo que irá celebrar muito mais o nascimento do que a morte, a criação do que a destruição.

*   *   *

Quando aprendermos a dar mais valor a enfermeiras do que a pop stars ou falsas celebridades que, muitas vezes, sem mérito algum, ganham a atenção e o respeito de muitos, demonstraremos que estamos começando a amadurecer como humanidade.
Por enquanto, ainda estamos na infância, ou numa pré-adolescência sofrida, de conflitos, de revoltas, de guerras tolas e sem sentido.
Por enquanto, buscamos sair deste lamaçal que nós mesmos criamos, através de tantos séculos de comportamentos individualistas e materialistas.
Histórias como a dessa enfermeira nos emocionam, nos envolvem, pois mostram uma nova relação da profissão com o ganho material.
Exemplos como esse são muitos. São os que já estão crescidos e vêm estender as mãos à maioria cambaleante, oferecendo mais uma oportunidade.
Aproveitemos as chances que a vida nos dá. Aprendamos com as almas nobres. Não desperdicemos uma existência em buscas inúteis e estéreis como fizemos de outras vezes.
O amor é o convite mais suave e mais poderoso que recebemos diariamente. Aceitemo-lo. Entreguemo-nos a ele.


Redação do Momento Espírita

sábado, 25 de abril de 2015

A Volta




Foi durante a limpeza do quintal. O pai, Bruce, juntava as folhas com o ancinho, recolhia os galhos quebrados pelo furacão da véspera.
Então, olhou para o filho e teve um impulso de abraçá-lo.
Ele o levantou, o beijou e lhe disse como se sentia feliz em tê-lo como filho.
A resposta do menino de apenas quatro anos o desconcertou:
Foi por isso que escolhi você. Eu sabia que você seria um bom papai.
Bruce ficou atônito e pediu que o menino repetisse o que dissera.
É isso: quando encontrei você e mamãe, tive certeza que você seria bom para mim.
Aquilo estava ficando intrigante.
Como assim nos encontrar? Onde você nos encontrou?
No Havaí.
O pai sorriu e esclareceu que os três tinham estado no Havaí no ano anterior. Mas o garoto replicou:
Não foi quando todos fomos ao Havaí. Foi quando você foi sozinho com mamãe.
E continuou, acrescentando detalhes:
Encontrei vocês no grande hotel cor-de-rosa. Vocês estavam na praia, de noite, jantando.
Realmente, Bruce e a esposa tinham estado no Havaí em 1997, para comemorar seu quinto aniversário de casamento.
Tinham se hospedado num hotel de cor rosa, na praia de Waikiki. E tinham jantado ao luar, na praia, na última noite de sua estada.
Cinco semanas depois, a esposa descobrira estar grávida.
O filho descrevera tudo com perfeição.
Como poderia saber? Aquele não era um assunto que os pais comentassem, não com aqueles detalhes.

*   *   *

O fato não é isolado e acontece com muitas crianças que surpreendem os pais com informações de um tempo que antecede o seu nascimento.
Não é raro o garotinho olhar para a mãe e dizer: Quando eu era grande, carreguei você no colo.
Quando eu morava na outra casa, eu tinha muitas joias. E um carro muito bonito. Eu sempre viajava nele porque ele era confortável e grande.
Ou a menina olha o álbum de fotografias antigas e, de repente, apontando para uma foto de sua avó, ou bisavó ou tia-avó, exclama:
Olha eu aqui!
Nossa, eu era bonita, né?
Tais discursos partem de pirralhos, de crianças pequenas, de forma espontânea.
E, da mesma forma que assim se expressam, deixando boquiabertos os que os ouvem, retornam aos interesses da idade e às falas próprias da infância.
É como se um flash acendesse na memória, detonando uma lembrança, que é expressa com espontaneidade.
Tais fatos confirmam o que ensina a Doutrina Espírita. Vivemos muitas vezes.
E escolhemos nossos pais, antes de renascer, por questões afetivas, de aprendizado, ou alguma necessidade específica.
Pais e filhos não somos Espíritos estranhos uns aos outros. Somos viajores do tempo, através das muitas vidas, no rumo do grande bem.



Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 24 de abril de 2015

O caderno infinito


Você já encontrou um caderno antigo com anotações suas?
É sempre um acontecimento curioso, pois nos remete a um determinado momento em nossa História que ficou ali, gravado.
O que estávamos sentindo, ou o que estávamos aprendendo, ou simplesmente anotações importantes naquele contexto temporal.
Porém, o mais comum é que, depois de preenchermos todas as folhas de um caderno, e aqueles escritos não nos interessarem mais, simplesmente o descartemos.
Em resumo: um caderno só pode ser utilizado uma vez. Como se ele só tivesse uma vida.
Isso, porém, não é mais verdade, graças à tecnologia que a cada dia nos traz novas surpresas.
Uma empresa norte-americana criou um caderno inteligente. Um caderno que não tem fim.
O rocketbook, como é chamado, utiliza uma tinta sensível ao calor e é controlado por um aplicativo. Basta colocá-lo por trinta segundos no microondas para que as anotações sejam apagadas do dispositivo.
Mas, podemos perguntar, de que adianta? Perde-se tudo? Não, de forma alguma. Antes de apagá-las, ele as converte em documento digital e as armazena em sistema de nuvem no aplicativo.
Genial. O caderno volta a ser novo, em branco, porém, tudo o que ele já recebeu de anotações está lá com ele.
*   *   *
Assim ocorre conosco, Espíritos imortais e com nossas diversas encarnações.
Cada vez que nascemos, nascemos caderno em branco. Temos chance de reescrever nossas histórias, de reescrever nossos caminhos, nos são dadas novas oportunidades.
Quanto mais belo for o conteúdo escrito nas folhas de nosso caderno, mais belo será o que levaremos para a nuvem, ao final da vida.
Nada que vivemos se perde. Todas as experiências, os aprendizados, as lembranças, os amores, os ódios, as dificuldades, ficam ali, armazenados.
Ao retornar para nova encarnação, o caderno estará em branco novamente, mas tudo que temos na nuvem nos influenciará sempre e, por vezes, nos fará lembrar das razões de estarmos aqui.
Algumas vezes teremos impressão desse caderno ser o primeiro, principalmente na infância, mas, quando algumas tendências começarem a surgir, sem explicação, nos diferenciando significativamente dos demais, perceberemos que já fizemos e guardamos anotações, em muitos cadernos antes deste.
*   *   *
Somos infinitos.
Tivemos um início que vai longe no tempo. Hoje, estamos iniciando um despertar que nos elevará para um novo patamar de consciência.
Estamos começando a ter condições de saber quem somos. Estamos começando a ter condições de saberaonde devemos chegar e por quê.
Só uma vida espiritualizada nos leva nesta direção. Só uma vida amorosa nos eleva acima dos problemas do mundo.
Mergulhados na matéria em que estamos, precisamos aprender a utilizá-la como instrumento, e não mais nos deixarmos ser dominados por ela.
O materialismo é invenção nossa, de nossos vícios. Ele nunca precisou existir. Então, agora que acordamos e entendemos, pensemos e atuemos como seres inteligentes e amorosos que somos.
Inteligência e amor sempre estiveram escritos na contracapa de nosso caderno infinito, como objetivos maiores de nossa vida. Nós é que nem sempretivemos a curiosidade de olhar.

Redação do Momento Espírita.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

O Sorriso da Fé



As cirurgias em crianças pequenas deixam todos, mas, principalmente, os pais, com o coração na mão.
Entregar a vida de um amado seu nas mãos de um estranho, é uma tarefa das mais doloridas.
Num momento ele está ali com você, brincando, abraçando, se divertindo, sem saber o que o espera adiante. Logo mais, está numa maca hospitalar, desacordado – anestesia geral.
Talvez seja a primeira lição de desapego que a vida dê aos pais...
E foi assim com aquela menininha de três anos. Chegou no hospital, serelepe, às sete horas da manhã, como se fosse um dia normal de brincadeiras.
Como a maioria das crianças, ela não gostava muito das consultas médicas em que o doutor ou doutora ficava revirando-a de cima para baixo, de baixo para cima, cutucando aqui, medindo isso, medindo aquilo.
Se pensasse como adulto, certamente perguntaria: Como esses médicos encontram tantos orifícios em mim para colocar esses instrumentos estranhos e gelados?
Então, quando viu seu pediatra, todo paramentado, de máscara, touca, jaleco, percebeu que algo estranho estava acontecendo.
Encolheu-se, olhou para a mãe e o ficou encarando.
Os pais, que a haviam preparado há alguns dias, explicando o que iria acontecer, voltaram a dizer, com palavras simples, que aquele tio iria ajudá-la a respirar melhor, a ficar menos doente.
Não mentiram, nem enganaram a criança, dizendo que não iria doer. Sabendo do pós-operatório, sofrido para os pequenos, explicaram que estariam ao lado dela quando voltasse a acordar, e que a dor iria passar.
E lá foi a mãe, carregando a menina até a cama cirúrgica onde seria sedada. O receio seria a reação dela quando desse conta de que estava num centro cirúrgico.
Porém, ela surpreendeu a todos. Deitou-se calmamente. No ambiente havia outros profissionais e, quando lhe colocaram a máscara com o sedativo, ela ergueu os olhos, abriu um sorriso enorme e, então,cerrou as pálpebras.
Mais tarde, o anestesista residente, encantado, dirigiu-se à mãe e relatou: Que anjinho. Nunca ganhei um sorriso tão verdadeiro assim...
Ela confiou neles. Ela confiou nos pais. Ela confiou.

*   *   *

Como anda nossa confiança em Deus?
Será que enxergamos o Criador como esse médico experiente que sabe o que faz, a quem entregamos nossas vidas?
Às vezes, o entendemos da mesma forma que uma criança de três anos entende o conhecimento de um profissional de décadas de experiência –quase nada.
E isso é perfeitamente normal. Essa criança vai crescer e um dia vai compreendê-lo melhor.
Mas enquanto não o compreende, pois não o conhece, ela tem os pais para lhe dizer: Pode confiar. Ela tem os pais para lhe mostrar a verdade do que vai acontecer, a verdade adaptada à sua realidade.
É assim conosco, é assim com a verdadeira religião, a que nos liga ao Criador através do sentimento e da razão.
O sorriso da fé é a certeza de que tudo que nos acontece é para nosso bem, gostemos ou não, seja agradável ou não.
A fé nos dá uma visão mais ampla sobre a existência. Ela nos tira da caverna e começa a nos mostrar a luz lá de fora.



Redação do Momento Espírita

quarta-feira, 22 de abril de 2015

A Cada Mil Lágrimas



Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte do cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema. Dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo

Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério, deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre...
A cada mil lágrimas sai um milagre...

A letra da belíssima canção de Itamar Asumpção e Alice Ruiz é inspiradora.
Fala-nos de como encarar as dores do mundo com inteligência, com coragem e com estilo.
Inteligência de quem vê na dor oportunidade de mudança e aprendizado.
Coragem de quem aceita mudar.
Estilo de quem sofre e ainda consegue sorrir, chorar, sem perder a linha, sem perder o passo.
A dor chega sem aviso, de cara cruel, como um monstro invencível e desproporcional ao nosso tamanho.
Chega destruindo tudo... E tudo parece o fim.
Mas não... Descobrimos que ela ensina, orienta, cuida.
É o cinzel que esculpe, que talha, que faz o bloco amorfo de mármore se transformar em estátua, em obra de arte.
A dor é o convite à mudança de hábitos, de pensamento, de rumo, talvez.
Trocar o vestido da alma é renová-la. Mudar o padrão de seus tecidos é não permanecer preso às mesmas ideias, aos mesmos vícios.
É necessário deixar a vida fazer sentido.
Uma vida sem sentido é quase como uma escuridão. Nada se vê, nem a si próprio. Nada se encontra, pois não se sabe onde está e onde se deve chegar.
E o milagre após as lágrimas é tantas coisas!...
O milagre de se encontrar, de ver a si mesmo com suas forças e fraquezas, mas sem máscaras, sem ilusões.
O milagre de perceber que se está melhor, que as feridas cicatrizam sempre, e que ali a pele se torna mais resistente.
O milagre do recomeço, de nascer de novo, de se dar nova chance.
O milagre de descobrir os amores ao redor, e quanto prezam por nós; de descobrir aqueles que nunca nos abandonam, não importa o que aconteça.
O milagre de saber que a vida procura nos levar sempre para cima, para diante, e nunca para trás, e a dor é lei de equilíbrio e educação.
A cada mil lágrimas sai um milagre.

*   *   *

O sofrimento, muitas vezes, não é mais do que a repercussão das violações da ordem eterna cometidas.
Mas, sendo partilha de todos, deve ser considerado como necessidade de ordem geral, como agente de desenvolvimento, condição do progresso.
Todos os seres têm de, por sua vez, passar por ele. Sua ação é benfazeja para quem sabe compreendê-lo.
Mas, somente podem compreendê-lo aqueles que lhe sentiram os poderosos efeitos.



Redação do Momento Espírita

terça-feira, 21 de abril de 2015

A Espada e a Cruz



A História nos diz que a espada começou a ser usada, pelo homem, de forma tosca, no chamado período paleolítico, como instrumento de defesa contra os animais.
Também como auxiliar em algumas atividades, no intuito de melhorar as condições da própria existência.
Com o passar do tempo, foi se transformando em uma arma agressiva, ceifando vidas humanas nos ferozes combates entre tribos e clãs.
Deu origem, de alguma forma, para a lança e a flecha, que serviam para a caça e a pesca. Mas, especialmente, para a guerra.
Mais tarde se converteu em troféu de honra e galardão para os cavaleiros e os chefes de Estado.
Por sua vez, a cruz tem origem na Caldeia Antiga, como instrumento de aflição e morte dolorosa.
Os romanos a utilizaram largamente, com o objetivo de torturar as vítimas, lhes impondo grandes sofrimentos, matando-as pela asfixia, além de todas as dilacerações terríveis que produzia nos condenados à morte.
Os Evangelhos narram que, no episódio da prisão de Jesus, no Horto das Oliveiras, o apóstolo Pedro tomou da espada que levava e com ela decepou a orelha do soldado Malco.
A intervenção de Jesus não se fez esperar, curando o ferimento e, ao mesmo tempo, advertindo Pedro a que guardasse sua espada.
Como Príncipe da Paz, Jesus jamais poderia aderir a qualquer tipo de violência, mesmo que fosse para preservar a Si próprio.
Interessante se observar que a espada tem o mesmo formato da cruz, no entanto, enquanto a primeira agride, a segunda se tornou símbolo da entrega e do sacrifício total, com o suplício de Jesus.
Depois dEle, muitos cristãos foram presos à cruz do martírio, por amor à verdade, por desejarem pregar a paz e o amor entre todas as criaturas.

*   *   *

Hoje, ainda existem muitos que utilizam a espada. Não necessariamente a de metal ou ferro, mas a da calúnia, que rouba a paz e a harmonia dos caluniados; a espada da maledicência, que gera tragédias e destroça vidas nobres; a da intriga e da censura perversa que, com suas lâminas afiadas, aniquilam sentimentos e despertam a inveja dos maus.
Todos os que sofrem, com coragem e resignação, os efeitos danosos dessas espadas destrutivas em suas vidas se encontram supliciados em invisíveis cruzes.
Ao ser crucificado, Jesus transformou o instrumento de punição em bênçãos. Com ela, Ele criou um hífen de luz entre a Terra dos homens e o infinito de Deus.
Os que somos os Seus seguidores O devemos imitar.
Sermos simples de coração, adornando a própria alma com as condecorações sublimes das cicatrizes morais dos testemunhos silenciosos.
Testemunhos somente conhecidos pelo Senhor da Vinha, que permanece atento, sustentando os fiéis servidores.
Como Ele, jamais erguer a espada do revide para ferir o agressor. Antes, utilizar o recurso do perdão, que engrandece e liberta quem o oferece, proporcionando paz.
Assim agindo, tomaremos da espada que tenta nos mutilar as melhores intenções, a cravaremos no solo, transformando-a numa cruz, através da qual alçaremos voo ao Alto, rumo ao bem, à alegria e a paz.
Pensemos nisso. Conquistemos nossa felicidade, seguindo o exemplo do Modelo e Guia.

Redação do Momento Espírita

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Avisos de Deus



Quando andamos descuidados pela Terra, o bom Deus nos envia algumas mensagens, a fim de nos lembrar dos grandes objetivos da existência terrena.
Uma das formas de que Se utiliza o Criador é a enfermidade. Ela chega em momentos muito especiais, convidando-nos a reflexões.
Por vezes, andamos tão envolvidos com tantas coisas que deixamos de perceber e, consequentemente, de receber as bênçãos que nos rodeiam.
Não paramos e nem abrimos espaço para as acolher. Nossa vida está tão repleta que não sobra lugar para abrigar as bênçãos da família, dos amigos, das criaturas que se importam conosco.
Uma dessas pessoas era Larry. Sua vida era somente trabalho, cinquenta ou sessenta horas por semana. Viagens constantes. E, quando estava em casa, continuava conectado ao trabalho, recebendo noite adentro as mensagens pelo correio eletrônico.
Comia e bebia de forma irregular. Não tinha tempo para conversar com os filhos. Nem um momento tranquilo com a mulher. Sua energia era toda canalizada para o trabalho.
Quando o câncer o visitou, ele sentiu que a vida estava se esvaindo. Submeteu-se ao tratamento quimioterápico. Oito meses depois, o câncer retornou e ele necessitou de um transplante de medula.
A esposa permaneceu sempre a seu lado, dando-lhe forças, sustentando-o e, da mesma forma, amparando os filhos pequenos.
Quando, finalmente, Larry sentiu-se livre da enfermidade, acreditou que o mais importante na vida não era ganhar dinheiro e resolveu se dedicar a causas ambientais.
Acabou adotando o mesmo esquema de vida. Logo, sua mulher e filhos, sentindo-se sozinhos, acabaram criando uma vida da qual ele não fazia parte.
Ele nem conseguia se lembrar de quando havia tomado a última refeição com a família. E jamais dormia sem ligar o despertador. Feriados, fins de semana, dias úteis, tudo era a mesma coisa.
Brincar com os filhos? Levá-los ao cinema? Desfrutar de uma peça teatral com a esposa? O que era isso?
Sair para dançar? Um passeio a dois? Nem pensar! Ele se transformara de um executivo empreendedor em um homem que desejava servir à vida.
Só que se esquecera de um princípio fundamental do verdadeiro ato de servir. Algo que é ensinado inúmeras vezes, a bordo de aviões.
Minutos antes da decolagem, a tripulação alerta: Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão da parte acima de sua cabeça. Coloque primeiro a sua própria máscara e depois ajude a pessoa ao seu lado.
Servir se baseia na premissa de que toda vida é digna de apoio e dedicação. E se servir exige sacrifício, é bem verdade que exige muito mais uma boa administração do tempo para que os amores mais amados, o próximo mais próximo não seja abandonado, esquecido.

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Quando a enfermidade chega e cada dia de vida na Terra passa a ser uma vitória, meditemos na importância de prosseguir no corpo físico, ao lado dos nossos amores.
Um dia, que pode estar perto ou longe, os haveremos de abraçar pela última vez e retornar à pátria espiritual, onde ficaremos a aguardá-los.
Vivamos de tal forma, dedicando-lhes a atenção de que necessitam, a fim de que se a morte nos surpreender, no próximo dia, não tenhamos que levar na bagagem o peso enorme do remorso.


Redação do Momento Espírita

segunda-feira, 6 de abril de 2015

É Deus...



Conta-se que um louco chegou à praça e gritou: Deus morreu. Agora, as catedrais serão os seus mausoléus.
Alguns se admiraram do que ele dizia. Era mesmo um louco. Outros, de imediato, concordaram, acenando afirmativamente com a cabeça. Outros, ainda, ousaram se manifestar: E onde está a novidade?
Uma criança, que passava pela praça, no entanto, se mostrou extremamente preocupada.
Deus morreu? E agora, quem vai alimentar os peixes e os pássaros? Quem vai acender as estrelas?

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Um estudo realizado em 2013 indicou que muitos cientistas acreditavam em Deus, conforme o conceito mais comum e usual.
Repetindo, com exatidão, uma famosa pesquisa realizada em 1916, Edward Larson, da Universidade da Geórgia, constatou que a profundidade da fé religiosa entre os cientistas não diminuiu, apesar dos avanços científicos e tecnológicos.
Tanto no século XX quanto no XXI, em torno de quarenta por cento dos biólogos, físicos e matemáticos, que participaram da pesquisa, disseram que acreditavam em um Deus que, segundo a estrita definição do questionário, se comunica com a Humanidade e a quem se pode orar na expectativa de receber uma resposta.
Albert Einstein dizia que sem Deus, o Universo não é explicável satisfatoriamente.
Para ele, Deus era a Lei e o Legislador do Universo. E afirmou: Quando abro a porta de uma nova descoberta encontro Deus lá dentro.
O cientista francês André-Marie Ampère, fundador da eletrodinâmica, escreveu uma obra intitulada Provas históricas da Divindade do cristianismo.
O inglês Isaac Newton, mais reconhecido como físico e matemático, e que também foi astrônomo,  alquimista, filósofo natural e teólogo, foi considerado o cientista que maior impacto causou na História da ciência.
Para ele, a função da ciência era descobrir leis universais e enunciá-las de forma precisa e racional.
Essa sumidade científica acreditava que a maravilhosa disposição e harmonia do Universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode.
E afirmava: Isso fica sendo a minha última e mais elevada descoberta.
Posso pegar meu telescópio e ver milhões de quilômetros de distância no espaço. Mas, também posso pôr meu telescópio de lado, ir para o meu quarto, fechar a porta e, em oração fervorosa, ver mais do céu e me aproximar mais de Deus do que quando estou equipado com todos os telescópios e instrumentos do mundo.
Para as grandes inteligências, a existência de Deus é palpável. Atestada pelos Seus efeitos, conforme aprendemos: Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente.
Bem tinha razão a criança em indagar quem tomaria conta dos peixes e dos pássaros se não houvesse Deus.
E diríamos mais: quem comandaria o concerto dos mundos, que viajam pelo espaço infinito, a grande velocidade?
Quem colocaria plumagem nas aves e providenciaria o orvalho das manhãs?
Quem faria brilhar o sol, a lua e as estrelas? Quem estabeleceria a rota precisa dos cometas?
Quem pintaria o arco-íris e colocaria veludo nas pétalas das flores?
E a toda questão, poderíamos ouvir o coro dos ventos e dos ramos dos salgueiros: é Deus... é Deus... é Deus.



Redação do Momento Espírita

domingo, 5 de abril de 2015

Sem Mágoas no Coração




Ele era um cardiologista e escritor de sucesso. Mas, era uma pessoa desagradável, amarga e enfezada. Isso era de tal forma visível que, durante um voo, a comissária de bordo lhe sugeriu que lesse o livro Amor e sobrevivência.
Ele ficou envergonhado porque era o autor daquela obra. Escrevera para os outros e não a aplicara para si.
Isso o fez pensar: Por que sou um homem de maus sentimentos? Sou um dos homens mais importantes da América. Por que tenho mau humor?
Deu-se conta que era infeliz porque odiava o próprio pai. Ele não fora carinhoso, nunca lhe dera um abraço, nunca o beijara.
Resolveu acabar com isso para poder ser feliz. Telefonou ao pai e informou que, na próxima semana, iria visitá-lo. Deu o número do voo, a data e hora da chegada.
Quando chegou à cidade, o pai não estava no aeroporto. Dr. Dean ficou muito contrariado. Pegou um táxi, foi até a casa.
O pai estava sentado na sala e não se levantou para falar com ele. Aumentou a sua raiva.
Pai, viajei dois mil quilômetros para falar com você.
Deve ser um motivo muito forte porque nunca me visitou.
O filho foi ficando mais irritado e resolveu despejar toda sua raiva.
Vim aqui para lhe dizer umas verdades. Tenho muita mágoa do senhor porque nunca cuidou de mim com ternura. E, agora, embora eu tenha tudo, me sinto infeliz e a culpa é sua.
Por que a culpa é minha? – Perguntou o pai.
Porque o pai dos outros é carinhoso e você nunca foi.
Foi o momento do pai ponderar:
Meu filho, gosto muito de você e agradeço que honre nosso nome. Sou um camponês, trabalho a terra. Você é importante, anda voando em aviões, nas grandes festas. Seu velho pai continua trabalhando com a enxada.
Você diz que não o abracei, é verdade. Quando sua mãe morreu, você tinha oito anos e resolvi não me casar outra vez para não lhe dar uma madrasta.
Você não sabe o que foi viver solitário por amor a você. Trabalhei no campo, dia e noite para lhe pagar a faculdade. Você nunca me perguntou como é que consegui o dinheiro. Renunciei a todo o conforto para que o meu filho fosse médico.
Você se tornou famoso e nunca se lembrou que tinha um pai velho e doente. Como é que você se atreve a vir na minha casa dizer que não gosta de mim porque não lhe dei abraços?
E por que você, como criança, não me abraçou? Por que você não me beijou?
Dr. Dean despertou:aquele homem extraordinário era o seu herói. Ele morava num lugarejo, continuou trabalhando, respeitando o carinho do filho ingrato. Abraçou-o e pediu perdão.
Nunca o perdoarei. Foi a resposta.
E por que não?
Porque nunca tive mágoa de você. Na condição de pai, sempre o amei. Sei que você era muito inteligente, mas não tinha experiência da vida, que se adquire através do sofrimento e do trabalho. A sua casa continua aqui, meu filho, e o seu pai continua o mesmo.
Concluiu o Dr. Dean: Naquele dia me libertei do orgulho e do egoísmo. Agora, tudo que ensino aos outros, eu faço, porque encontrei a razão da vida.

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Muitas vezes carregamos mágoas tolas, amargurando a própria vida. Nada melhor do que um diálogo franco, aberto, para se ajustar detalhes e melhorar relacionamentos.
Pensemos nisso.



Redação do Momento Espírita

sábado, 4 de abril de 2015

Dívida Impagável



No mundo, dependemos uns dos outros. Assim dispõe a Lei de Sociedade, uma das Leis Morais. Quis o Criador que os Seus filhos vivessem a fraternidade e a solidariedade, no rumo do progresso.
Por isso mesmo, é comum termos dívidas de gratidão. Em alguns momentos de nossa vida alguém nos ajuda e tudo que acontecer daí por diante, será graças a esse momento.
Lembramos de um jovem baiano, décimo terceiro filho de uma família modesta. Ele desejava estudar, planejava ir para uma Universidade, tornar-se psicólogo ou psiquiatra.
Em sua cidade interiorana, havia uma escola de datilografia, ele se matriculou, fez todo o curso, com dedicação.
Chegou a formatura. Era um ato social muito elegante, naqueles tempos recuados. Os homens compareciam de terno e gravata e as mulheres com longos vestidos. Um verdadeiro acontecimento social.
Todos os formandos eram fotografados para compor um grande quadro.
O jovem, em seus doze anos apenas, não tinha roupa adequada para ir à formatura, nem a família tinha recursos a dispor para isso.
Uma vizinha, conversando com a mãe do formando, lhe perguntou a razão da sua tristeza.
É que meu filho vai se formar em datilografia e não poderá comparecer à cerimônia.
Por que não?
Porque ele não tem terno, nem gravata.
A senhora, solícita, falou:
Eu posso solucionar este problema. Meu marido tem o mesmo corpo que o seu filho. Ele acaba de comprar um terno novo para uma festa na próxima semana. Empresto a roupa, seu filho vai receber o diploma. Quando voltar, a senhora me devolve.
Grande foi a felicidade quando a mãe mostrou o terno de linho ao jovenzinho. Ele o vestiu, foram feitos uns ajustes nas mangas do paletó, com alguns alfinetes.
Ele se olhou ao espelho, quase encantado. Jamais vestira uma roupa tão alinhada.
Foi para a cerimônia, exultante de felicidade.
No dia seguinte, sua mãe devolveu o terno.
Passados muitos anos, aquele rapaz ainda recordava, com gratidão, daquela senhora tão gentil, que fizera a sua felicidade juvenil.
Durante mais de setenta anos, tendo se transferido de cidade, ele lhe escreveu todos os meses, até a morte dela, muito idosa.

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A gratidão é esse movimento de ternura, que se extravasa dos corações. Muito mais do que um simples reconhecimento dos benefícios recebidos, significa o expressar de um sentimento profundo.
Gratidão atravessa o tempo e o espaço. Poderão se multiplicar os anos, se alterar o quadro da existência, nos transferirmos para lugares distantes, sem que se altere esse sentimento.
E há tantos que nos merecem a gratidão: nossa mãe que nos permitiu renascer, que nos alimentou e cuidou, noites a fio; nosso pai que nos acompanhou os dias da infância e da juventude, orientando-nos; os professores que nos abriram as portas do conhecimento, e nos ilustraram o intelecto.
Também quem nos concedeu a possibilidade do primeiro emprego; quem nos encaminhou nos rumos da vida religiosa; quem nos ofereceu amizade, compreensão, compaixão.
Pensemos nisso e não nos esqueçamos de tributar gratidão constante a todos esses que floriram nossos caminhos e iluminaram nossas vidas.


Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Novos Dias





Nota-se cada vez mais frequente na mídia um tipo de notícia envolvendo jovens.
Talvez você imagine que estamos falando das incidências criminais, de atividades ilícitas ou de comportamentos estranhos.
Porém, embora muitos de nós tenhamos esse tipo de informação na memória, ou mesmo privilegiemos a leitura e os comentários a esse tipo de divulgação, outro é o nosso enfoque.
Falamos daqueles jovens, adolescentes que, antes dos seus vinte anos, já demonstram a que vieram no mundo.
São idealistas, nobres de caráter que, com as aquisições intelectuais e morais que trazem na alma, cedo começam a usá-las a benefício do mundo.
Assim acontece com Boyan Slat, o jovem holandês que desenvolveu o protótipo de um equipamento para retirar os resíduos plásticos dos oceanos, usando correntes marítimas naturais e os ventos.
O mesmo se dá com o americano Aidan Dwyer, que desenvolveu um método de captação de energia solar vinte por cento mais eficiente, inspirando-se nas folhas das árvores.
Ou ainda com William Kamkwamba, jovem do Malawi, que usando sucatas, construiu um moinho de vento para gerar energia elétrica e auxiliar sua comunidade, que desse benefício não dispunha.
O que dizer então de Jack Andraka, o norte-americano que, depois que um amigo da família morreu de câncer de pâncreas, ele, usando apenas a Internet, descobriu uma forma barata de detectar a doença antes dela se tornar mortal.
São inúmeros os exemplos dessas almas nobres que vêm nascendo ou renascendo na Terra para construir tempos melhores.

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Se os dias em nossa sociedade, muitas vezes, parecem difíceis e tormentosos, tenhamos em mente: é apenas passageiro.
Natural que, em períodos de transição, de transformação da sociedade, haja dicotomias e aparentes incoerências.
Existem os que ainda persistem em viver com valores há muito abandonados pela legislação, pelo progresso e pela sociedade, que acreditam na violência, na castração das ideias, na supressão da liberdade de consciência ou de ação, como ferramentas de uso lícito.
Também os que usam da falsidade de caráter, da desonestidade e do seu poder temporal para a corrupção e enriquecimento desonesto.
Todos esses, porém, têm seus dias contados em nosso planeta.
O progresso há de levá-los de roldão, pois que insistem em não acompanhá-lo.
Novos dias surgem no horizonte da nossa Terra. Jovens, como os citados e tantos outros, anônimos pelas ruas do mundo, são os arautos.
Portanto, façamos também a nossa parte, para que a regeneração e reestruturação do mundo seja acelerada.
Abandonemos valores tolos e ultrapassados, que persistamos em carregar n’alma.
Inspiremo-nos com as atitudes dessas almas nobres. E, como trabalhadores da última hora, conforme ilustra Jesus em Sua parábola, contribuamos beneficamente para a Vinha do Senhor.
Dessa forma, o Reino do Bem, conforme prometido por Jesus, haverá de se instalar nas paragens terrenas, a breve tempo.



Redação do Momento Espírita

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Benfeitores Invisíveis



Diz-se que, ao lado de grandes homens, existe uma mulher, esposa, irmã ou mãe, que lhe serviu de sustentáculo e apoio.
Pois, por detrás de grandes conquistas ou eventos, em geral, existe um benfeitor, quase sempre ignorado das criaturas.
Publicações preciosas, estudos científicos, descobertas, têm mecenas que abriram seus cofres e ofereceram valores para a sua concretização.
Gabriel Delanne, considerado apóstolo do Espiritismo, pelo seu trabalho de divulgação, certa vez recebeu uma carta de uma senhora, que lhe pedia fosse a Versalhes, onde ela morava.
Desejava, confessava ela, lhe dar conhecimento de algo importante referente ao Espiritismo.
A carta estava escrita em papel inferior, redigida em termos obscuros, em estilo descuidado e cheia de erros de francês, além de falhas de ortografia.
Delanne se sentiu tentado a desconsiderá-la. Todavia, após refletir, decidiu ir ao encontro que lhe era assinalado.
A residência indicada, uma casa antiga, ficava num quarteirão distante, na extremidade de um subúrbio, nos fundos de velho pátio.
Depois de tocar a campainha três vezes, ouviu um passo pesado e a porta se entreabriu. Delanne entrou, sentou-se e ficou observando o ambiente, que lhe pareceu estranho.
Com um acento inglês, a mulher começou a expor a ideia de fundar um pequeno jornal para divulgar o Espiritismo.
Mas, senhora, respondeu ele, é preciso dinheiro. Isso custa muito caro.
A mulher se dirigiu, com seu passo pesado, para uma mala que Gabriel havia visto ao entrar.
Ela a abriu, apanhou um maço de velhos papéis e retirou uma enorme pasta de couro.
De uma das bolsas apanhou cinco notas de mil francos, que colocou, tranquilamente, diante de Delanne.
Naquela época, ano de 1883, cinco mil francos representavam uma soma com a qual se podia tentar uma operação comercial.
Aqui está, disse ela. Para as primeiras despesas. Depois, eu fornecerei o mais que seja necessário. O senhor aceita redigir o jornal?
E, foi assim, graças à generosa inglesa, que não era outra senão a senhora D’Espérance, médium de feitos extraordinários, ainda não conhecida na França, que a revista Le Spiritisme veio a lume, em março de 1883.
Foi grande veículo de divulgação da nova doutrina. E Gabriel Delanne conservou a maior admiração por aquela que assim dispôs dos seus bens.
Imensamente grato, gostava de narrar a seus íntimos a história do inusitado encontro e do exitoso final.

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Para o seu messianato, também Jesus contou com pessoas bem aquinhoadas que financiavam Seu apostolado, Suas viagens e dos companheiros que Ele elegera para o colégio apostólico.
Lucas, em Seu evangelho, cita Susana, Madalena, Joana, a mulher do intendente de Cusa.
O trabalho do bem se realiza com o esforço de todos. E, cada qual colabora com o que tenha: uns dispõem dos valores, outros do seu trabalho e esforço pessoal.
Assim se constrói o mundo novo. Ontem, hoje e amanhã.


Redação do Momento Espírita