quinta-feira, 30 de abril de 2015

Nascimento, Vida, Morte



Ele era filho de um capitão de barco de pesca e ficou órfão de pai aos cinco anos.
A partir daí, sua educação ficou aos cuidados de sua mãe e de sua irmã Henriette, com a qual tinha profunda ligação afetiva.
Os anos de 1860 – 1861 foram marcantes para Ernest Renan. Foi nessa época que concebeu a obra Vida de Jesus, lançando sobre o papel a sua primeira redação.
No entanto, a 24 de setembro de 1862, em Biblo, morreu sua querida irmã. Foi para ela que redigiu uma dedicatória, na abertura de seu famoso livro:
Para a alma pura de minha irmã Henriette.
Lá no seio de Deus onde repousas, recordas-te ainda daqueles largos dias, onde eu, só contigo, escrevia estas páginas inspiradas pelos lugares que tínhamos visitado juntos?
Silenciosa ao meu lado, ias lendo e copiando logo cada folha, enquanto se desdobravam abaixo de nós o mar e as aldeias, as quebradas e as montanhas.
Disseste-me um dia que havias de querer muito a este livro, não só porque nele te revias, mas também, e especialmente, porque fora elaborado contigo.
Receavas, por vezes, que os juízos estreitos do homem frívolo pesassem sobre ele. Mas nunca deixaste de crer que as almas verdadeiramente religiosas o haveriam de apreciar.
No meio de tão gratas meditações, veio cobrir-nos a asa da morte. Na mesma hora, nos envolveu o sono da febre. Eu despertei, mas estava só!
Tu dormes, ao pé das sagradas águas onde vinham juntar suas lágrimas as mulheres dos mistérios da Antiguidade.
A mim, a quem tanto querias, revela, Espírito amigo, as verdades que dominam a morte, que impedem que o homem a tema e que quase fazem que a deseje.

*   *   *

Aqueles que têm a certeza de que a morte física não aniquila a alma, guardam essa doce possibilidade de endereçar aos seus amados os seus versos e os seus poemas.
Sim, nossos mortos prosseguem a viver e nos ouvem, nos veem. Muitas vezes, acompanham nossas lutas e lamentam nossos desacertos.
Nada mais alentadora do que a afirmação de Jesus, em Seu discurso de despedida: Não vos deixarei órfãos. Vou à frente preparar-vos o lugar. Se assim não fora eu vo-lo teria dito.
Nossos amados, que seguiram à nossa frente, demandando o grande Além, estão à nossa espera.
E se nos tranquiliza saber que eles deixaram a vida física, vitoriosos, tendo cumprido suas missões, sendo bons esposos, pais, irmãos, filhos, guardamos a certeza de que gozam de paz e harmonia na vida espiritual.
Oxalá, quando chegue a nossa vez, possamos igualmente merecer a palma da vitória por todos os deveres cumpridos, pela missão completada.
Nesse dia, deixaremos o corpo de carne, retornando para o lar verdadeiro, a pátria espiritual.
Por quanto tempo? Só Deus o sabe.
Talvez fiquemos por lá um breve tempo e resolvamos voltar ao planeta azul para continuar nossas lides, nosso crescimento.
Talvez fiquemos um período mais longo, como um repouso depois de tantas lutas, de tantas batalhas empreendidas.
Nascimento, vida, morte. Reencontro de almas aqui, Além.
Que certeza gratificante nos enche de esperança os corações.

Redação do Momento Espírita

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