Filhos, em verdade, outra virtude não existe
mais bela.
Todos os dons da vida, emoldurando-a,
empalidecem como os lumes terrenos quando o sol aparece
vitorioso.
Desde a antiguidade, a ciência e a filosofia
erigem à própria exaltação gloriosos monumentos que se
transformam em cinza, a fim de que elas mesmas se renovem.
Em todos os tempos, a autoridade e o poder
fazem guerra que esbarram no sepulcro, entre sombra e lamentação.
Só a Caridade, filha do Amor Celeste, é
invariável.
Com ela, desceu Nosso Senhor Jesus Cristo à
treva humana e, abraçando os fracos e enfermos, os vencidos e
desprezados, levantou os alicerces do Reino de Deus que as Forças
do Bem na Terra ainda estão construindo.
Vinde, pois, à Seara do Evangelho, trazendo
no coração a piedade fraternal que tudo compreende e tudo
perdoa!...
Acendamos a flama da caridade quando orarmos!
Em nossas casas de socorro espiritual,
achamo-nos cercados por todos os tipos de sofrimento, enquanto
nos devotamos à prece...que decorrem de tristes almas
desencarnadas a carregarem consigo as escuras raízes de ilusão
e delinqüência, com que se prendem à retaguarda...
São as filas atormentadas daqueles que
traficaram com o altar, que venderam a consciência nos
tribunais da justiça, que mercadejaram com os títulos respeitáveis,
que menosprezaram a benção do lar, que tripudiaram sobre o
amor puro, que fizeram do corpo físico uma porta à viciação,
que se renderam às sugestões das trevas alimentando-se de
vingança, que fizeram da violência cartilha habitual de
conduta, que acreditaram na força sobre o direito, que se
desmandaram no crime, que sepultaram a mente em pântanos de
usura e que se abandonaram, inermes, à ociosidade, à perturbação,
à perversidade e à morte moral...
Para todos esses corações encarcerados na
sombra expiatória, é indispensável saibamos trazer, em nome
do Cristo, a chama do sacrossanto amor que ilumina e salva,
esclarece e aprimora...
Inegavelmente, enquanto na carne, não
conseguis analisar a extensão das consciências em desequilíbrio
que se nos abeiram das preces, como sedentos em torno à
fonte...
Viveis, provisoriamente, a condição do
manancial incapaz de saber quão longo é o caminho da própria
corrente na regeneração do deserto.
Cabe-nos, assim, o mais amplo esforço para
que a caridade persista em nossos pensamentos, palavras e ações,
porquanto é imprescindível avivá-la também quando agimos.
No círculo doméstico e na vida pública,
tanto quanto em todos os domínios de vossa atuação nas lides
terrestres, sois igualmente defrontados pelos companheiros em
desajuste que, como nos acontece a todos, anseiam por
reerguimento e restauração.
Guardemos caridade para com todos aqueles que
nos rodeiam...Para com os felizes que não sabem medir a própria
ventura e para com os infortunados que não podem ainda
compreender o valor da provação que os vergasta, para com
jovens e velhos, crianças e doentes, amigos e adversários!...
Cultivemo-la em toda parte...Caridade que
saiba renunciar a favor de outrem, que se cale ajudando em silêncio,
e que se humilhe, sobretudo, a fim de que o desespero não
domine os corações que pretendemos amar...
Todos na Terra suspiram pelo melhor.
A mulher que vedes, excessivamente adornada,
muita vez traz o coração chagado de angústia.
O homem que surge, assinalado pela riqueza
terrestre, quase sempre é portador de um vulcão no crânio
entontecido.
A juventude espera orientação, a velhice
pede amparo.
Onde estiverdes, não condeneis!
O lodo da miséria nasce no charco da ignorância
em cujos laços viscosos a leviandade ainda se enleia.
Nós, porém, que já conhecemos a lição do
Senhor, aquinhoados que fomos por sua benção, podemos abreviar
o caminho para a grande libertação,
desde que a caridade brilhe conosco, dissipando a sombra
e lenindo o sofrimento.
É assim que vos concitamos à mais intensa procura do Cristo para que o
Cristo esteja em nós, de vez que somente no Espírito Divino de
Jesus é que conseguiremos vencer a dominação das trevas,
estendendo no mundo o império silencioso da caridade, por
vitoriosa luz do Céu.
Chico Xavier / José Silvério Horta
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