terça-feira, 16 de dezembro de 2014

De mãos dadas

 
Foi publicado no jornal. Foi notícia: morreram de mãos dadas. Setenta e três anos juntos.
Dois corações, feito relógios antigos e precisos, resolveram parar ao mesmo tempo.
Tic tac, tic tac, tic...
Mas os jornais não viram e também não foi notícia, que as mãos dadas eram duas almas entrelaçadas.
Entrelaçadas assim, feito duas nuvens brancas que desfilam e flutuam juntas no céu anil.
Porém, que fique claro que eram duas e não uma só.
Sim, porque quando os amores são dois são muito maiores.
Essa história de “tornar-se um só” é fantasia de poeta desinformado, ou despreparado.
Morreram de mãos dadas... E não guardaram seu amor a sete chaves.
Guardaram a sete filhos, quinze netos e seis bisnetos.
Deixaram o mundo sorrindo.
Chegaram de mãos dadas.
*   *   *
São sempre inspiradoras essas histórias de casais que vão juntos até o final da presente existência.
Cinquenta, sessenta, setenta anos de casamento...
O que não passaram nesse tempo!... E resistiram... Resistiram a tudo e a todos.
Em alguns casos a ternura, o companheirismo são tão grandes que permanecem, literalmente, de mãos dadas, isto é, nem mesmo esse hábito precioso do toque, do contato carinhoso, foi perdido.
Ao contrário do que muitos pensam, esses amores não nascem prontos, aliás, não existe amor que nasça pronto: todo amor surge semente para virar árvore frondosa.
A única diferença é que, através da pluralidade das existências, sabemos que, em muitos casos, essas sementes já foram lançadas há mais tempo, em outro passado – apenas isso.
De resto, a fórmula, o esforço, o caminho, os desafios, são os mesmos para todos.
Quando perguntados sobre qual a receita para tanto tempo assim de amor, os termos podem até mudar, mas na essência as ideias são as mesmas.
Sempre iremos encontrar o respeito mútuo, a admiração de um pelo outro, o companheirismo, a doação, o sacrifício, a ternura, o perdão...
Se formos aos detalhes, esta lista feliz preencheria algumas boas linhas.
Todas as grandes realizações da vida são construções, sejam de uma existência, sejam de várias. O importante é estarmos conscientes e dispostos a construir, a investir e a trabalhar.
Sem trabalho o amor não se edifica em nossos corações.
Os grandes amores não nascem prontos.
Em nossas relações a dois, nossa preocupação maior não deve ser a de se escolhemos a pessoa certa – embora toda escolha deva ser bem feita e revela muito sobre nossos interesses, sobre nosso caráter.
Nossa atenção deve estar focada muito mais em construir o melhor relacionamento possível com aquela pessoa que escolhemos.
E sabendo que a morte é apenas uma mudança de estado, os amores entenderão que, mesmo após o término deste capítulo, as mãos dedicadas e cheias de ternura poderão permanecer entrelaçadas na verdadeira vida, nos capítulos seguintes.  
 
Redação do Momento Espírita
 
 

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