quarta-feira, 30 de setembro de 2015
Uma Sólida Amizade
No século IV a.C., em Siracusa, na Sicília, havia dois amigos inseparáveis.
Certo dia, o rei Dionísio aborreceu-se ao tomar conhecimento de certos discursos que Pítias vinha fazendo.
O jovem pensador andava dizendo ao público que nenhum homem devia ter poder ilimitado sobre outro. E que os tiranos absolutos eram reis injustos.
Preso, Pítias reafirmou as suas ideias. O que dizia ao povo era a verdade e, portanto, a sustentaria, custasse o que custasse.
Acusado de traição, foi condenado à morte. Como seu último desejo, pediu ao rei que o deixasse dizer adeus à sua mulher e filhos e pôr os assuntos domésticos em ordem.
Dionísio riu do desejo do condenado.
Vejo que, além de injusto e tirano, você também me considera um tolo. Se sair de Siracusa, tenho certeza que nunca mais voltará, disse o rei.
Foi nesse momento que Damon adiantou-se e ofereceu-se como garantia. Ficaria em Siracusa como prisioneiro, até o retorno do amigo.
Pode ter certeza de que Pítias voltará. Nossa amizade é bem conhecida.
Ainda um tanto desconfiado, Dionísio examinou os dois amigos. Alertando Damon que, se Pítias não voltasse, ele morreria em seu lugar, aceitou a oferta.
Pítias partiu e Damon foi atirado na prisão. Muitos dias se passaram. Pítias não voltava e o rei foi verificar como estava o ânimo do prisioneiro.
Seu tempo está chegando ao fim, sentenciou Dionísio. Será inútil implorar misericórdia. Você foi um tolo em confiar em seu amigo. Achou mesmo que ele voltaria para morrer?
Com firmeza, Damon respondeu: É um mero atraso. Talvez os ventos não lhe tenham permitido navegar. Talvez tenha tido um imprevisto na estrada. Guardo a certeza de que, se for humanamente possível, ele chegará a tempo.
Dionísio admirou-se daquela confiança.
Chegou o dia fatal. Damon foi retirado da prisão e levado à presença do carrasco.
Lá estava o rei, sarcástico, gozando sua vitória.
Parece que seu amigo não apareceu. Que acha dele agora?
É meu amigo. Confio nele, foi a resposta de Damon.
Nem terminara de falar e as portas se abriram, deixando entrar Pítias cambaleante.
Estava pálido, ferido e a exaustão lhe tirava o fôlego. Atirou-se nos braços do amigo.
Graças aos céus, você está vivo. – Falou, soluçando. Parece que tudo conspirava contra nós. Meu navio naufragou numa tempestade. Depois, bandidos me atacaram na estrada.
Recusei-me, contudo, a perder a esperança e aqui estou. Estou pronto para cumprir a minha sentença de morte.
Dionísio ouviu com espanto as palavras. Era-lhe impossível resistir ao poder de tal lealdade.
Emocionado, declarou: A sentença está revogada. Jamais acreditei que pudessem existir tamanha fé e lealdade na amizade. É justo que ganhem a liberdade. Em troca, porém, peço um grande auxílio.
Que auxílio? - Perguntaram os amigos.
Ensinem-me a ter parte em tão sólida amizade.
* * *
Amizade é mais que afinidade. Envolve mais que afeição.
A amizade genuína requer tempo, esforço e trabalho para ser mantida. Amizade é algo profundo.
De fato, é uma forma de amor.
Redação do Momento Espírita
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Terapia do Abraço
Um compositor e cantor brasileiro fez sucesso, em anos passados, com uma música intitulada Aquele abraço.
Entre elogios ao Rio de Janeiro, lembrando coisas muito próprias de nosso país, do cenário artístico, inclusive, ele distribuía abraços.
Citava a torcida do seu time de futebol, o bairro de sua eleição, a moça da favela, a banda que apreciava, o povo brasileiro como um todo. Para cada um endereçava: Aquele abraço.
Influenciados ou não pela música, em São Paulo, um grupo de pouco mais de vinte voluntários se formou e se intitulou: Aquele abraço.
O grupo distribui carinho aos dependentes e moradores de rua, dá orientações, organiza banhos e facilita o acesso aos serviços públicos de assistência.
A psicóloga Tina Galvão é uma das voluntárias. Todas as quintas-feiras, a senhora, de mais de setenta anos, desce de seu apartamento, no centro da cidade, e segue em direção à região de tráfico de drogas e prostituição.
No caminho, distribui abraços aos viciados que circulam pelas ruas. Sozinha ou acompanhada, ela não teme andar lentamente por esse lugar violento.
Ela aplica a terapia do abraço e renova a vida de pessoas que a maioria de nós ignoramos.
A aposentada lembra da importância de um gesto atencioso para mudar o rumo de uma vida.
Recorda que aos dezenove anos, sonhava em adentrar a faculdade. Contudo, ela ficava em outra cidade, a quarenta e quatro quilômetros de distância.
Quase desistindo de seu sonho, um gesto providencial lhe renovou as esperanças. Um vizinho, funileiro, que trabalhava para a prefeitura, soube da dificuldade dela e se ofereceu para conduzi-la diariamente, sem cobrar absolutamente nada.
Afinal, ele fazia o trajeto de ida e volta todos os dias.
Tina descobriu que um ato de generosidade tem um valor inestimável mesmo que, para quem o ofereça, possa parecer algo simples, sem muita importância.
E em cada ação que empreende, ela não se esquece de espalhar atos de bondade. Enquanto professora, dava aulas gratuitas na garagem de sua casa, para crianças que não conseguiam vaga na escola.
Como assistente social lutou para que as pessoas tivessem acesso a condições dignas.
Atualmente, milita por melhores políticas públicas para a região central da capital paulista.
Ela sabe que a generosidade une as pessoas, que em situações difíceis somente o apoio e a solidariedade permitem a sobrevivência.
E agradece o ter trabalhado com criaturas à margem da sociedade. Diz que isso a tornou mais sensível, menos ensimesmada, fazendo-a acreditar num mundo mais solidário e menos solitário.
* * *
Há muito bem espalhado pela Terra. O número das pessoas que se preocupa com o seu semelhante é grande. Normalmente, não ocupam as manchetes.
Elas vivem no coração dos beneficiados, de todos aqueles que se contagiam com a sua forma de ser e de se doar.
Também têm seus nomes anotados no livro das pessoas de bem. Um livro que é aberto e consultado por Deus e por Seus mensageiros celestes, sempre que há necessidade de uma alma generosa, na Terra, para atender um irmão necessitado.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Piquenique com Deus
Trazia-lhe conforto caminhar sem rumo. Todos os dias, o costumeiro hábito se repetia: saía muito cedo, próximo das seis da manhã. Não havia destino, não havia pressa.
Vez ou outra parava em alguma praça, se sentava. Observava os pássaros, as árvores. Afagava os cachorros de rua. E tornava a caminhar.
Era assim, desde que morrera sua netinha, há quase três anos. A alegria se fora de seu coração, de sua alma e de seus dias.
Por isso, ele caminhava sem rumo. Como sem rumo estava o seu Espírito. Em suas caminhadas pensava em tudo. Pensava na família, na saudade, em sua solidão, em sua dor. Só não pensava em Deus. Havia perdido a fé, dizia.
* * *
Naquele dia, depois do culto religioso a que fora levado por seus pais, o menino chegou a sua casa decidido: Vou encontrar Deus!
O líder da fé religiosa dissera: Deus está em toda parte. Basta que o busquemos de todo o coração. Assim, o garoto pedira permissão aos pais e fora fazer uma caminhada pela vizinhança, a fim de, quem sabe, encontrar o Criador.
Não se esqueça de levar alguns pastéis, bolo e suco, caso lhe der fome, disse-lhe a mãe.
O menino preparou o lanche em uma mochila e saiu para sua missão.
* * *
Depois de uma longa caminhada, o idoso estava cansado e faminto. Sentou-se num banco de praça.
Não demorou muito apareceu o menino, aparentando a idade que teria sua netinha, se ainda estivesse ao seu lado. Boa tarde, disse.
O idoso respondeu, meio sem jeito. Habituado à sua solidão, deixara de ser sociável.
O rapazinho desatou a falar. Contou sobre sua escola, sua família, suas travessuras, sonhos, projetos, seu desejo de encontrar Deus.
Falou, falou... E, como há muitos anos não acontecia, o velhinho sorriu e até mesmo gargalhou com as peripécias contadas pelo garoto.
Para surpresa daquele homem sofrido, depois de muito falar, o jovem retirou de sua mochila saborosos pastéis, bolo, suco, balas e chocolate. E ambos fizeram um delicioso piquenique.
A tarde chegava ao fim e o menino precisava ir embora. O idoso distendeu a mão para cumprimentá-lo e agradecer pela conversa agradável e pelo lanche delicioso.
Foi quando, ternamente, o menino aproximou-se dele e o estreitou em um longo e demorado abraço.
Grossas lágrimas rolaram pela face marcada pelos anos, pela experiência e pela tristeza, sem que sobre isso ele tivesse controle.
Quando retornou ao lar, a mãe questionou o menino: E então, filho? Encontrou Deus?
Sim, mamãe, e ele comeu alguns pastéis comigo!
E o idoso, questionado por seu filho pela demora inabitual para retornar ao lar, somente pôde responder e o fez sorrindo, como há muito não fazia:
Pois é: demorei. Estava no parque, reencontrando-me com Deus.
* * *
Um sorriso, um olhar, uma palavra amiga, pequenos gestos de carinho e doçura transformam vidas, mudam trajetórias, realizam sonhos.
Temos a capacidade para mudar o mundo. O nosso mundo. O mundo do próximo.
A receita é simples: boa vontade.
Pensemos nisso! Façamos isso!
Redação do Momento Espírita
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
União
Um homem que costumava participar assiduamente de determinado grupo, um dia se afastou sem deixar nenhum aviso.
Após algumas semanas, o líder do grupo decidiu visitá-lo. Era uma noite muito fria. Ele encontrou o homem em casa, sozinho, sentado diante de um grande fogo.
Supondo a razão para a visita, o homem lhe deu boas vindas. Depois o conduziu até uma grande cadeira, perto da lareira. E ficou quieto, esperando.
O líder não disse nada. No silêncio sério, contemplou a dança das chamas em torno da lenha ardente.
Após alguns minutos, o líder examinou as brasas. Cuidadosamente, apanhou uma brasa ardente e a deixou de lado.
Então voltou a se sentar e permaneceu silencioso e imóvel. O anfitrião prestou atenção a tudo, fascinado e quieto.
A chama da solitária brasa diminuiu. Houve um brilho momentâneo e seu fogo apagou de vez. Logo estava frio e morto.
Nenhuma palavra tinha sido dita, desde o cumprimento inicial. O líder, antes de se preparar para sair, recolheu a brasa fria e inoperante, e colocou-a de volta no meio do fogo.
Imediatamente, começou a incandescer uma vez mais, com a luz e o calor dos carvões ardentes, em torno dela.
Quando o líder alcançou a porta para partir, seu anfitrião lhe disse:
Obrigado por sua visita e pelo seu sermão. Voltarei ao convívio do grupo.
* * *
Uma pessoa sozinha pode realizar grandes coisas, mas um grupo de pessoas pode revolucionar o mundo.
Uma pessoa pode sanear sua rua, seu bairro. Um grupo unido pode modificar uma cidade inteira.
A mensagem do Cristo é de união. Porque união representa força.
Vinculados a um grupo de serviço, a uma crença religiosa, participemos, dando nossa contribuição ativa.
Somos semeadores do tempo melhor. Somos os pomicultores da Era Nova. A colheita que faremos em nome de Jesus nos caracterizará o trabalho.
Unamo-nos em torno do bem. Demo-nos as mãos e ajudemo-nos.
Esqueçamos opiniões contraditórias e avancemos na busca da aurora dos novos tempos.
Convidados à dinâmica do amor, sejamos os honrados continuadores da obra que o Mestre Jesus nos conclama.
Imprescindível que nos unamos como irmãos e que, afeiçoados a um grupo que labora em nome do amor, calemos disputas e divergências, pensando no bem maior.
O trabalho a que somos chamados, na qualidade de cristãos, é incessante, porque jamais terminaremos o serviço.
Servidores imperfeitos, vivamos o Cristo em nossas atitudes, não deixando que opiniões pessoais e pequenas divergências nos distanciem das tarefas abraçadas e dos irmãos que conosco vibram, no mesmo ideal.
* * *
Quando as clarinadas de um novo dia em luz nos anunciam os chegados tempos do Senhor; quando uma era de paz prepara a nova Humanidade, somos convidados à responsabilidade maior de amar e servir.
Jesus é mais do que um símbolo. É uma realidade em nossa existência.
Não é apenas um ser que transitou da manjedoura à cruz, mas o exemplo, cuja vida se transformou num evangelho de realizações, chamando por nós.
Aprofundemos o pensamento nesse Evangelho de luz, a fim de viver Jesus em toda a plenitude.
Redação do Momento Espírita
sábado, 12 de setembro de 2015
Casamento feliz
Qual o segredo para um casamento feliz?
Todo relacionamento é desafiador. Quanto mais íntimo se faz, mais dedicação nos exige.
Assim, a vida a dois, o compartilhar a nossa existência com outrem, demanda empenho e atenção.
Porém, será possível entender quais as melhores virtudes para construir um casamento feliz?
Se a paixão inicial, e logo em seguida o amor, são fatores indispensáveis, haverá outros valores que necessitam permear a relação?
Pensando nisso, dois psicólogos americanos, John e Julie Gottman, fizeram um estudo com casais para entender o sucesso ou fracasso de um casamento.
Analisaram o comportamento de cento e trinta casais, como eles se relacionavam, como reagiam entre si, em atitudes corriqueiras, como cozinhar, limpar a casa, fazer as refeições.
Baseados em suas percepções, os pesquisadores classificaram os casais em dois grupos básicos.
Passados seis anos, os psicólogos voltaram a analisar os mesmos casais.
Perceberam que os pertencentes ao primeiro grupo continuavam casados e felizes.
Porém, aqueles que foram classificados no segundo grupo, ou estavam separados, ou permaneciam juntos, porém, infelizes.
Ao analisar as causas de sucesso do primeiro grupo, o casal Gottman percebeu que duas virtudes preponderavam na vida desses casais: a bondade e a generosidade.
Os psicólogos perceberam que, a longo prazo, torna-se fundamental e significativo que nas ações diárias, mesmo nas mais corriqueiras, a generosidade e a bondade estejam presentes.
Por exemplo, a esposa se atrasa para um compromisso porque despendeu um tempo maior se arrumando.
A reação do marido poderá ser a de brigar, resmungar e reclamar que ela sempre se atrasa, que nunca consegue cumprir horários.
Ou ele poderá perceber nisso um zelo e cuidado dela para se apresentar em sua companhia, de um jeito especial e da melhor forma.
Se o marido vai ao supermercado e esquece a compra de alguns itens, trazendo metade do relacionado, a esposa pode reclamar, dizer que ele não dá valor às coisas da casa, chamá-lo de distraído e descuidado.
Ou ela poderá lhe agradecer por ter ido ao supermercado, e apenas refazer a lista com o que faltou.
São nos detalhes, nas pequenas observações, nas respostas às perguntas mais simples que conseguimos alimentar a relação com demonstrações de generosidade e de amor.
Como um lubrificante a facilitar o movimento das engrenagens, esses sentimentos permitem que a vida a dois ganhe profundidade e solidez.
Assim, em nome do casamento que elegemos para nós, analisemos quanto de bondade e generosidade temos para com nosso cônjuge.
Frente à resposta ríspida, utilizemo-nos da bondade da palavra suave e compreensiva.
Substituamos o julgamento severo e rígido, muitas vezes já desgastado pelo tempo, pela generosidade de quem percebe e reconhece valores em quem nos acompanha.
Pensemos nesses detalhes.
Redação do Momento Espírita
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Filho do Universo
Um filósofo e poeta norte-americano escreveu, pelos idos de 1927:
Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se de que há sempre paz no silêncio.
Tanto quanto possível, sem humilhar-se, viva em harmonia com todos os que o cercam.
Fale a sua verdade mansa e calmamente e ouça os outros, mesmo os insensatos e ignorantes. Eles também têm sua própria história.
Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores.
Você merece estar aqui e mesmo que você não possa compreender, a Terra e o Universo vão cumprindo o seu destino.
Evite as pessoas agressivas e transtornadas, elas afligem nosso Espírito.
Se você se comparar com os outros, você se tornará presunçoso e magoado, pois haverá sempre alguém inferior e alguém superior a você. Viva intensamente o que pode realizar.
Mantenha-se interessado em seu trabalho, ainda que humilde. Ele é o que de real existe ao longo do tempo.
Seja cauteloso nos negócios, porque o mundo está cheio de astúcia, mas não caia na descrença. A virtude existirá sempre.
Muita gente luta por altos ideais e em toda parte a vida está cheia de heroísmos.
Seja você mesmo. Principalmente, não simule afeição, nem seja descrente do amor, porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto, ele é tão perene como a relva.
Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores.
Você merece estar aqui, e mesmo que ainda não possa compreender, a Terra e o Universo vão cumprindo seu destino.
Aceite com carinho o conselho dos mais velhos, mas seja compreensível com os impulsos inovadores da juventude.
Alimente a força do Espírito que o protegerá no infortúnio inesperado, mas não se desespere com perigos imaginários. Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.
E a despeito de uma rotina rigorosa, seja gentil consigo mesmo. Esteja em paz com Deus, como quer que você O conceba. E quaisquer sejam seus trabalhos e aspirações na fatigante jornada da vida, mantenha em paz a própria consciência.
Acima da falsidade, dos desencantos e agruras, o mundo ainda é bonito. Seja prudente.
* * *
Sentir-se filho do Universo é sentir-se seguro, sabendo que uma força maior rege nossas vidas, nossas relações, através de leis perfeitas e justas.
Sentir-se irmão das estrelas e das árvores é perceber-se parte de uma natureza sublime, grandiosa, que guarda em seu íntimo objetivos maravilhosos.
E um dia, há muitos e muitos anos, um sublimado Irmão das estrelas e das árvores, falou exatamente sobre isso dizendo:
Observai os pássaros do céu: não semeiam, não ceifam, nada guardam em celeiros. Mas, vosso Pai Celestial os alimenta. Não sois muito mais do que eles?
Observai como crescem os lírios dos campos: não trabalham, nem fiam.
Entretanto, eu vos declaro que nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. Ora, se Deus tem o cuidado de vestir dessa maneira a erva dos campos, quanto maior cuidado não terá em vos vestir!
Redação do Momento Espírita
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Diálogo e Receptividade
Palha italiana é um doce preparado com brigadeiro e biscoito. A mistura fica muito saborosa e chega a ser a preferida de muitas pessoas.
O preparo é simples, rápido e o resultado é delicioso. Por essa razão aquela jovem, cursando arquitetura, pensando em fazer um dinheirinho, começou a preparar e levar palha italiana para a faculdade.
As colegas aderiram, as pessoas de outros cursos também gostaram e as vendas iam muito bem.
Ana começou cobrando um real o pedaço. Os parentes sugeriram que ela aumentasse o preço. Afinal, os ingredientes não são baratos e, ademais, ela precisava valorizar o próprio produto.
Eles diziam: Existem outros doces semelhantes no mercado, por valor superior e nem sempre tão bons quanto o seu. Suba o preço!
Ela resistia. Olhava para os colegas estudantes e achava que seria talvez dispendioso para eles continuarem a comprar como faziam.
A tia insistia: Você precisa valorizar-se e ao seu produto. Não é questão de extorquir o cliente, mas de colocar o preço do real valor.
Ana continuava insegura. Consultou alguns colegas, que acharam caro dois reais.
Então, ela saiu de casa com sua palha italiana e pelo caminho, foi pensando: Será que continuo cobrando um real? Será que subo o preço para um real e cinquenta? Ou será que passo para dois reais?
Que seu produto valia, ela tinha certeza.
Nesse dia, ela encontrou um jovem de outro curso fazendo o mesmo que ela, ou seja, vendendo doces. Só que era brownie.
O preço? Dois reais. Foi o suficiente para encorajá-la. Ela subiu o preço da sua palha italiana para dois reais.
A essa altura, poderíamos cogitar de questões de regulamentação do mercado e de concorrência.
Alunos com pouco dinheiro em mãos, com um doce a um real e outro a dois, poderia ser mais competitivo.
Porém, Ana enxergou o fato como uma possibilidade de subir o preço do doce que oferecia.
O outro estudante conhecia o produto dela. E, apesar de estarem disputando o mesmo nicho de mercado de doces, ou seja, os mesmos estudantes, tiveram ambos uma ideia singela. Ao mesmo tempo, bonita.
Pensaram em trocar os doces entre eles: um pedaço de brownie por uma palha italiana. Um verdadeiro escambo.
Eles não se sentiram competindo. Cada qual valorizou o produto do outro.
E saíram a vender. Ela, a sua palha, enquanto comia um brownie e ele, os seus brownies, enquanto saboreava a palha italiana.
E os clientes comuns compraram brownies e palha. Todos felizes, com açúcar e com afeto.
* * *
Como seria bom se todos agíssemos assim, sem ver no outro um competidor. Alguém que devemos derrubar, seja com preços incompatíveis de serem mantidos a longo prazo, somente para conquistar o mercado, seja depreciando o produto alheio.
Como seria tão mais ameno se entendêssemos que sob esse imenso mundo de Deus, há lugar para todos.
O que conquista o cliente aqui ou ali é o diferencial do atendimento, um jeitinho especial conferido ao produto em oferta, algo simples, que faz a diferença.
E assim continuam todos vendendo, ganhando, vivendo.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
Lição Surpreendente
Manhã de segunda-feira, cedo. Na instituição benemérita, os funcionários iam chegando, aos poucos, e registrando o ponto.
Na recepção, além da funcionária, estava uma pessoa de aspecto singular.
Passara a noite nas proximidades, na rua, a negociar o corpo e experimentar toda sorte de riscos. Aquele homem, travestido de mulher, corpo visivelmente deformado por injeções de silicone industrial, conversava com quem chegava.
A cada um oferecia um bom dia. Mas era visto com indiferença, espécie de mal disfarçada repulsa em face de sua aparência, sua condição, seu modo de vida.
Um voluntário da instituição chegou e se dirigiu à recepcionista, depois de responder rapidamente ao cumprimento daquele estranho.
Ficou preocupado que a recepcionista se sentisse, talvez, intranquila, com aquela presença. Então, num sussurro, enquanto preenchia um formulário que lhe fora dado, disse à jovem:
Trata-se de criatura que parece estar à beira do abismo. O que devemos fazer com aquele que está à beira do abismo, experimentando a derrocada física e moral: empurrá-la abismo abaixo ou puxá-la, conduzi-la para um terreno firme?
A recepcionista pareceu se tranquilizar. E o voluntário, ainda em voz sussurante, lembrou: Se a pessoa vem até aqui, certamente é para receber alguma ajuda, mesmo que não percebamos.
Estamos em um lugar amparado e protegido, bem assistido espiritualmente.
Nisso, outra funcionária chegou. A cena do Bom dia se repetiu da parte daquele homem. Entretanto, o que sucedeu foi surpreendente e enternecedor.
Ele se dirigiu à recém-chegada, perguntando se ela não se chamava Dóris.
Não, respondeu, de forma espontânea, meu nome é Maria.
Aquela resposta ensejou um diálogo, que se prolongou por alguns minutos.
Então, o inesperado aconteceu. O visitante disse que queria um abraço.
A reação de Maria foi abrir os braços e declarar um sonoro: Não seja por isso!
E abraçou aquela criatura, longa, demoradamente, com um carinho tão particular que lembrou os abraços que se dá aos amigos mais chegados.
Suas mãos envolveram as costas do visitante, naquela atitude de roçar levemente, com os dedos, as costas, como quem deseja amplificar os efeitos do seu ato.
Os olhares dos demais presentes na recepção fixaram-se na cena. Era um misto de estupefação, admiração, espanto, surpresa.
E Maria, tranquilamente, como quem não fez nada mais do que o habitual, despediu-se do visitante e se dirigiu ao seu local de trabalho.
O estranho, tendo recebido o que verdadeiramente desejava, também se foi porta afora.
* * *
Quem sabe das dores, das incertezas e das dificuldades pelas quais passava aquela pessoa?
Quem sabe das decisões que adotará, depois de receber tão significativa demonstração de interesse, desprendimento, carinho?
Quem sabe para quantos passos distantes do abismo aquele abraço conduziu aquele ser humano?
E aquela mulher, mãe, esposa, trabalhadora e, acima de tudo, verdadeiramente cristã nem se deu conta de como tornou radioso o dia de um desconhecido um tanto sem rumo.
Tudo por causa de um abraço, um verdadeiro abraço.
Redação do Momento Espírita
terça-feira, 8 de setembro de 2015
Sempre Há Tempo de Corrigir
Algumas crianças dão sinais muito claros de como será a nova geração.
Uma menina de dez anos fez o pai se desculpar pelo bullying que cometia com um colega de escola.
A vítima era o americano Chad Michael, hoje com trinta e quatro anos.
Ele precisava andar ao lado de professores para não ser perturbado... Pelo fato de ser homossexual.
O time inteiro de futebol americano atormentava o garoto.
Recentemente, Chad recebeu uma mensagem muito especial através do Facebook, vinda de um de seus agressores, Louie Amundson.
A mensagem dizia:
Recentemente eu estava conversando com minha filha de dez anos sobre pessoas que praticam bullying. Ela me perguntou se eu já fiz isso com alguém, e, infelizmente, eu tive que dizer “sim”.
O que veio à minha cabeça é o quão tolo e mau eu era quando você estava no colégio. Quero me desculpar. Se morássemos no mesmo Estado eu me desculparia pessoalmente. Nem sei se você se lembra, mas eu me lembro e sinto muito.
Em entrevista ao jornalThe Mirror, Chad confessou queverteu algumas lágrimas ao ler a mensagem.
Eu sofria bullying por ser diferente, por ser homossexual e ser pequeno. Eu sofria bullying por qualquer motivo que uma pessoa possa sofrer bullying. Era horrível.
Chad desejou responder a mensagem a Louie:
Estou bem comovido com isso. Obrigado. Aceito seu pedido de desculpas. Em vinte anos você foi a única pessoa a se desculpar. Espero que você possa dizer a sua filha que você se desculpou e que nós estamos bem.
É incrível o que vinte anos e filhos podem fazer com a gente, não é?
Ao comentar a resposta que recebeu, Louie disse:
Eu me senti lisonjeado, envergonhado e aliviado ao mesmo tempo. Eu devia desculpas a ele. Ele não me devia o perdão.
* * *
Ser devedor de alguém é ter que carregar um peso que não é nosso, que não precisaria ser transportado por nós por tanto tempo...
Temos prova disso quando sentimos o prazer, o alívio, a paz interna da libertação.
É certo que o ato depedir desculpas não nos redime perante a lei ou perante o outro, mas é o primeiro passo rumo ao equilíbrio. É o passo do arrependimento.
Reconhecer que errou é grande vitória da humildade frente ao orgulho, que durante séculos vem sendo vencedor tantas vezes em nossos campos de batalha internos.
Reconhecer o erro é autoconhecer-se, descobrir o que não queremos mais para nós, descobrir um caminho que não vamos mais trilhar.
Reconhecer o erro é diferente de reconhecer-se errado. Não somos errados, estamos ainda acertando e errando, o que é muito diferente. Temos que nos dar novas chances sempre, chances de acertar, chances de começar de novo.
Após o erro e o arrependimento deve vir a vontade de reparar, a vontade de seguir em frente, e não o desânimo por se achar incapaz, por se achar menor.
É o processo educacional do Espírito. Não há vergonha em se equivocar. Há beleza em reconhecer seus desatinos e corrigi-los, pois sempre há tempo de corrigir.
Pensemos nisso: sempre há tempo de corrigir.
Redação do Momento Espírita
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
Líderes-Modelo
Toda vez que modelos de líderes, de pessoas extraordinárias são apresentados, é comum se ouvir os comentários dos que acreditam que jamais poderão se igualar: Ah, mas ele era um santo. Ele era excepcional.
Contudo, quando se pesquisa a biografia desses homens e mulheres que se destacaram na Humanidade, nos mais variados ramos, o que descobrimos é que não nasceram feitos, prontos.
Ao contrário, percorreram um longo caminho, no qual a persistência, a perseverança, o esforço pessoal foram companheiros constantes.
Recordamos de Gandhi, que é reverenciado como exemplo de liderança da não-violência.
No começo de sua vida, não foi assim. Sua índole e temperamento eram diferentes. Quase o oposto do seu comportamento de Mahatma.
Antes de ir para a África do Sul, era de natureza violenta, egoísta, ambicioso e cruel.
Como advogado, vaidoso e inseguro, usava terno europeu, camisa branca de colarinho engomado, gravata de seda, sapatos de alta qualidade, lustrosamente polidos.
Na África do Sul, morava em uma bela vila inglesa, em área aristocrática da praia.
Amava o dinheiro. Era um autêntico indiano europeizado.
Depois da leitura de um livro de Ruskin, sua visão de mundo se transformou.
Como ele mesmo afirmou: Aquele livro assinalou o ponto decisivo da minha vida.
Mas não foi com facilidade que adquiriu sua posterior calma e serenidade. Nem sem terrível autodisciplina.
Ele realizou um esforço consciente para se modificar. Começou a realizar serviços assistenciais, varrer locais públicos, limpar latrinas.
Transformou-se em um homem de natureza totalmente diversa. E então, nasceu o novo homem, o Mahatma Gandhi.
Diferente não foi com Saulo de Tarso. Orgulhoso, preparava-se na escola de Gamaliel, em Jerusalém, para substituir o mestre.
Conhecido pela sua oratória, estava habituado a receber o aplauso do mundo.
Trajava a túnica do patriciado, utilizava um carro semelhante às bigas romanas, puxado por soberbos cavalos brancos.
Dominava o idioma grego, além da língua hebraica.
Algo semelhante a atualmente vestir-se com um autêntico Giorgio Armani, andar num BMW e expressar-se, com propriedade, no idioma inglês.
Temperamento apaixonado e indomável, rico de agudeza e resolução, aspirava um futuro brilhante para si mesmo.
Defensor ferrenho da lei mosaica, perseguiu os seguidores do Cristo, estabelecendo o terror.
Após o seu encontro com Jesus, às portas de Damasco, modificou-se.
O tribuno transformou-se em escravo do dever, em apóstolo do amor, em defensor da verdade.
Nada lhe foi fácil. Foram três anos no deserto de Dan, onde precisou exercitar o anonimato, a humildade, até se reconciliar com seus perseguidos.
Depois, foi o aprendizado em Antioquia, o serviço anônimo ao semelhante, o ouvir, estudar, refletir.
O retorno à tribuna, agora sem pompa e sem orgulho, para a defesa da Boa Nova, teve que ser pacientemente aguardado.
Só então surge o grande Paulo de Tarso que, de tal forma viveu os ensinos de Jesus que pôde afirmar: Já não sou eu quem vive, é o Cristo que vive em mim.
Esforço, perseverança, vontade.
Aprendamos com essas criaturas. Elas conseguiram. Também nós conseguiremos.
Redação do Momento Espírita
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