O homem está
incessantemente à procura da felicidade, que lhe escapa a todo
instante, porque a felicidade sem mescla não existe na Terra.
Entretanto, apesar das vicissitudes que formam o inevitável cortejo
desta vida, dele poderia pelo menos gozar de uma felicidade relativa. Ma
ele a procura nas coisas perecíveis, sujeitas às mesmas vicissitudes,
ou seja, nos gozos materiais, em vez de buscá-la nos gozos da alma, que
constituem uma antecipação das imperecíveis alegrias celestes. Em vez de
buscar a paz do coração, única felicidade verdadeira neste mundo, ele
procura com avidez tudo o que pode agitá-lo e perturbá-lo. E, coisa
curiosa, parece criar de propósito os tormentos, que só a ele cabia
evitar.
Haverá
maiores tormentos que os causados pela inveja e o ciúme? Para o
invejoso e o ciumento não existe repouso: sofrem ambos de uma febre
incessante. As posses alheias lhes causam insônias; os sucessos dos
rivais lhes provocam vertigens; seu único interesse é o de eclipsar os
outros; toda a sua alegria consiste em provocar, nos insensatos como
eles, a cólera do ciúme. Pobres insensatos, com efeito, que não se
lembram de que, talvez amanhã, tenham de deixar todas as futilidades,
cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles que se aplicam estas
palavras: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”, pois os
seus cuidados não têm compensação no céu.
Quantos
tormentos, pelo contrário, consegue evitar aquele que sabe contentar-se
com o que possui, que vê sem inveja o que não lhe pertence, que não
procura parecer mais do que é! Está sempre rico, pois, se olha para
baixo, em vez de olhar para cima de si mesmo, vê sempre os que possuem
menos do que ele. Está sempre calmo, porque não inventa necessidades
absurdas, e a calma em meio das tormentas da vida não será uma
felicidade?
O Evangelho Segundo o Espiritismo
Allan Kardec
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