A quem nos pergunte se a criatura humana é livre, respondamos afirmativamente.
Acrescentemos, porém, que o homem é livre, mas
responsável, e pode realizar o que deseje, mas estará ligado
inevitavelmente ao fruto de suas próprias ações.
Para esclarecer o assunto, tanto quanto possível,
examinemos, em resumo, alguns dos setores de sementeira e colheita ou,
melhor, de livre-arbítrio e destino em que o espírito encarnado transita
no mundo.
POSSE - O homem é livre para reter quaisquer posses que
as legislações terrestres lhe facultem, e acordo com a sua diligência na
ação ou seu direito transitório, e será considerado mordomo respeitável
pelas forças superiores da vida se as utiliza a benefício de todos,
mas, se abusa delas, criando a penúria dos semelhantes, de modo a
favorecer os próprios excessos, encontrará nas conseqüências disso a
fieira de provações com que aprenderá a acender em si mesmo a luz da
abnegação.
NEGÓCIO - O homem é livre para efetuar as transações que
lhe apraza e granjeará o título de benfeitor, se procura comerciar com
real proveito da clientela que lhe é própria, mas se arrasa a economia
dos outros com o fim de auferir lucros desnecessários, com prejuízo
evidente do próximo, encontrará nas conseqüências disso a fieira de
provações com que aprenderá a acender em si mesmo a luz da retidão.
ESTUDO - O homem é livre para ler e escrever, ensinar ou
estudar tudo o que quiser e conquistará a posição de sábio se mobiliza
os recursos culturais em auxílio daqueles que lhe partilham a romagem
terrestre; mas, se coloca os valores da inteligência em apoio do mal,
deteriorando a existência dos companheiros da Humanidade com o objetivo
de acentuar o próprio orgulho, encontrará nas conseqüências disso a
fieira de provação com que aprenderá a acender em si mesmo a luz do
discernimento.
TRABALHO - O homem é livre para abraçar as tarefas a que
se afeiçoe e será honorificado por seareiro do progresso se contribui
na construção da felicidade geral; mas, se malversa o dom de empreender e
de agir, esposando atividades perturbadoras e infelizes para gratificar
os seus interesses menos dignos, encontrará nas conseqüências disso a
fieira de provações com que aprenderá a acender em si mesmo a luz do
serviço aos semelhantes.
SEXO - O homem é livre para dar às suas energias e
impulsos sexuais a direção que prefira e será estimado por veículo de
bênçãos quando os emprega na proteção sadia do lar, na formação da
família, seja na paternidade ou na maternidade com o dever cumprido, ou
ainda, na sustentação das obras de arte e cultura, benemerência e
elevação do espírito; mas, se para lisonjear os próprios sentidos
transforma os recursos genésicos em dor e desequilíbrio, angústia ou
desesperação para os semelhantes, pela, injúrià aos sentimentos alheios
ou pela deslealdade e desrespeito nos compromissos e ajustes afetivos,
depois de havê-los proposto ou aceitado, encontrará nas conseqüências
disso a fieira de provações com que aprenderá a acender em si mesmo a
luz do amor puro.
O homem é livre até mesmo para receber ou recusar a
existência, mas recolherá invariavelmente os bens ou os males que
decorram de sua atitude, perante as concessões da Bondade Divina.
Todos somos livres para desejar, escolher, fazer e
obter, mas todos somos também constrangidos a entrar nos resultados de
nossas próprias obras.
Cabe à Doutrina Espírita explicar que os princípios da
Justiça Eterna, em todo o Universo, não funcionam simplesmente à base de
paraísos e infernos, castigos e privilégios de ordem exterior, mas,
acima de tudo, através do instituto da reencarnação, em nós, conosco,
junto de nós e por nós. Foi isso que Jesus, compreendendo que não existe
direito sem obrigação e nem equilíbrio sem consciência tranqüila, nos
afirmou, claramente: "Conhecereis a verdade e a verdade vos fará
livres."
Francisco Cândido Xavier. Encontro Marcado. Pelo Espírito Emmanuel. FEB.
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