"Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis e concedido vos será o que pedirdes." (S. MARCOS, cap. XI, v. 24.)
Há quem conteste a eficácia da prece, com fundamento no princípio de que, conhecendo Deus as nossas necessidades, inútil se torna expor-lhas.
E acrescentam os que assim pensam que, achando-se tudo
no Universo encadeado por leis eternas, não podem as nossas súplicas
mudar os decretos de Deus.
Sem dúvida alguma, há leis naturais e imutáveis que não
podem ser revogadas ao capricho de cada um; mas, daí a crer-se que
todas as circunstâncias da vida estão submetidas à fatalidade, vai
grande distância. Se assim fosse, nada mais seria o homem do que
instrumento passivo, sem livre-arbítrio e sem iniciativa. Nessa
hipótese, só lhe caberia curvar a cabeça ao jugo dos acontecimentos, sem
cogitar de evitá-los; não devera ter procurado desviar o raio. Deus não
lhe outorgou a razão e a inteligência, para que ele as deixasse sem
serventia; a vontade, para não querer; a atividade, para ficar inativo.
Sendo livre o homem de agir num sentido ou noutro, seus atos lhe
acarretam, e aos demais, conseqüências subordinadas ao que ele faz ou
não. Há, pois, devidos à sua iniciativa, sucessos que forçosamente
escapam à fatalidade e que não quebram a harmonia das leis universais,
do mesmo modo que o avanço ou o atraso do ponteiro de um relógio não
anula a lei do movimento sobre a qual se funda o mecanismo. Possível é,
portanto, que Deus aceda a certos pedidos, sem perturbar a imutabilidade
das leis que regem o conjunto, subordinada sempre essa anuência à sua
vontade.
Desta máxima: "Concedido vos será o que quer que
pedirdes pela prece", fora ilógico deduzir que basta pedir para obter e
fora injusto acusar a Providência se não acede a toda súplica que se lhe
faça, uma vez que ela sabe, melhor do que nós, o que é para nosso bem. É
como procede um pai criterioso que recusa ao filho o que seja contrário
aos seus interesses. Em geral, o homem apenas vê o presente; ora, se o
sofrimento é de utilidade para a sua felicidade futura, Deus o deixará
sofrer, como o cirurgião deixa que o doente sofra as dores de uma
operação que lhe trará a cura.
O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com
confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá
os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante idéias que
fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da
ação.
Ele assiste os que se ajudam a si mesmos, de
conformidade com esta máxima: "Ajuda-te, que o Céu te ajudará"; não
assiste, porém, os que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer
uso das faculdades que possui. Entretanto, as mais das vezes, o que o
homem quer é ser socorrido por milagre, sem despender o mínimo esforço
Allan Kardec. Da obra: O Evangelho Segundo o Espiritismo. 112 edição.
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