terça-feira, 24 de novembro de 2015

Exercício de Amor




Quem de nós já não se decepcionou com um amigo? Alguém a quem se entregou o coração e, em algum momento, nos traiu a confiança ou nos voltou as costas?
Alguém de quem esperávamos todo o apoio e nos falhou, na hora precisa?
Qualquer uma dessas circunstâncias nos magoará e se constituirá em quebra da afeição.
Por essa razão, a lição de dois meninos é tão marcante.
Eles haviam nascido no mesmo dia, mês e ano. Um era judeu. O outro, alemão.
Nove anos era a idade deles. Um era natural da Polônia e habitara uma casa, com vários cômodos, em cima da relojoaria do seu pai.
Um dia, tudo lhe foi tirado e ele se viu prisioneiro, em meio a outros milhares, padecendo fome. Para vestir, um estranho pijama listrado, com boné no mesmo padrão.
O outro nascera em Berlim, vivera numa casa muito grande, de três andares. Agora, residia no campo e vivia a reclamar da casa menor e da falta de amigos.
Encontraram-se, um dia, um de cada lado de uma interminável cerca de arame farpado. Bruno, o menino alemão, se sentia solitário e se pôs a conversar com o outro.
Nenhum dos dois entendia muito do que acontecia ao seu redor. Mas se tornaram amigos. Viam-se todas as tardes.
Um dia, ao entrar em casa, Bruno viu ali o amigo do pijama listrado. Lustrava os cristais com seus dedos miúdos.
Bruno se serviu de um lanche e ofereceu ao outro, sempre faminto.
Mal colocara na boca um pedaço de frango, adentrou a cozinha um oficial. Vendo que o pequeno prisioneiro estava comendo, o inquiriu, de forma grosseira, acusando-o de furtar comida.
Sem malícia alguma, o menino disse que fora seu amigo quem lhe ofertara o lanche.
Mas Bruno estava tão assustado com a truculência do oficial, com a inquirição que lhe era feita, que se deixou tomar pelo pavor.
E, apavorado, negou conhecer o outro, negou ter-lhe dado comida, o que, para aquele valeu violento castigo.
Dias passados, Bruno retornou ao local onde costumava encontrar o amigo. Havia tristeza e muitos hematomas no rosto do aprisionado.
Peço desculpas, disse Bruno. Tive muito medo, naquele dia. Você ainda quer ser meu amigo?
E, então, a mão esquálida do judeu se estendeu para o lado de fora da cerca. Bruno a apertou.
Era a primeira vez que se tocavam. Era o toque da amizade sólida, que sempre perdoa.
*   *   *
Amizade é um exercício de amor. Amor de amigo é inigualável. Já disse Jesus, ao seu tempo, que o amigo dá a sua pela vida do amigo, santificando assim esse sublime sentimento.
Por isso, o amigo perdoa as fraquezas do outro, perdoa as suas falhas e continua amigo.
Felizes aqueles que enflorescem a alma com amizade, enriquecendo-se de paz, granjeando gratidão pelos caminhos que percorre.

Redação do Momento Espírita

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Pensar Nos Outros




Pequenos gestos, algumas vezes, podem amenizar grandes dores.
Ao saber que imigrantes haitianos, que buscaram refúgio numa cidade do sul do Brasil, estavam passando por dificuldades severas, um grupo de pessoas decidiu fazer uma campanha para recolher roupas, alimentos e tudo o que pudesse minimizar suas carências.
Dezenas de corações bem intencionados reuniram em caminhões todo tipo de doação.
Uma jovem queria fazer algo mais por aquelas pessoas. Ela não tinha bens materiais para ofertar, mas seu desejo de fazer algo especial era imenso.
Colocou-se no lugar dos imigrantes, tentando compreender de que forma estariam se sentindo numa terra estranha, necessitando se expressar em um idioma que não era o seu. E teve uma ideia.
Procurou uma colega que dominava a língua francesa e pediu ajuda para realizar seu plano.
Providenciou papel e caneta e passou horas escrevendo mensagens de coragem e reconforto, em francês e no haitiano creole e as colocou em todas as caixas.
Assim, quando as abrissem, aquelas pessoas receberiam, além dos donativos, a seguinte mensagem, nos idiomas de seu conhecimento: Que nunca vos falte alimento para o corpo e para a alma. Que Deus vos abençoe.
A jovem não soube se as mensagens chegaram aos haitianos.
Entretanto, o carinho e o amor com que ela preparou as mensagens, com certeza, chegaram àqueles corações sofridos, em forma de vibrações de amor, esperança e reconforto, levados por irmãos de luz que acompanharam o seu gesto.  

*   *   *

Também nós podemos fazer pelo nosso semelhante algo que reconforte, anime, traga um pouco de claridade num momento sombrio.
Uma palavra, um sorriso, um gesto de carinho podem encorajar aqueles que passam pela tristeza, isolamento ou sensação de solidão.
Pensar nos que padecem, desejar seu bem, enviar-lhes um pensamento de amor, são formas sublimes de caridade que podem ser realizadas por qualquer pessoa, em qualquer lugar.
Quando desenvolvemos a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, tentando compreender de que forma ele vê o mundo, é possível vislumbrarmos as razões de seu sofrimento, bem como de determinados comportamentos e posturas.
Compreendendo, tendemos a julgar menos e ajudar mais.
Quando amamos o próximo, fazendo a ele o que desejaríamos que fizessem por nós, realizamos o mandamento deixado pelo Mestre Jesus e estreitamos nossos laços com a Espiritualidade maior.
Quando pensamos nos outros, desejando seu bem, fazendo algo para minimizar sua dor, estamos vencendo o egoísmo e avançando no caminho da evolução.
Enfim, quando voltamos nosso olhar para o próximo e o auxiliamos em suas necessidades, doando também o que de melhor possuímos, recebemos muito mais do que podemos supor.
Deus, em sua infinita bondade e sabedoria, nos dá possibilidades e recursos para ajudar de diferentes formas. Em todas elas, mesmo as mais simples, nos oferece de retorno o maior tesouro de todos: o amor.



                                                                    Redação do Momento Espírita

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Fielmente



"O bem e mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não fazer o bem quando podemos é, portanto, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer na vida terrestre." O CÉU E O INFERNO 1ª parte - Capítulo 7º - Item 6.

Cônscio das lutas reservadas aos fiéis trabalhadores da sementeira evangélica, Jesus foi definitivo: "No mundo - disse Ele - só tereis aflições".

Comparava o Senhor a caminhada cristã ao ingente trabalho sobre a gleba humilde e boa, para a aquisição do pão.

Aqueles que desejassem serenidade antes da sementeira e bênção antes do merecimento, certamente veriam com desencanto a terra cobrir-se de cardo e urze perdendo o tempo e a oportunidade. E, se repousam prematuramente, reservam ingentes lutas para a própria subsistência no futuro.

No entanto, cientificados da necessidade de laborar, se se dispusessem a aprofundar sulcos, vergastando abismos para que os grãos atingissem a madre interna do solo, sofreriam o acúleo, a tormenta, a canícula e o cansaço, banhando-se de suor, mas de olhos fitos no chão coberto de vegetação e nos dedos do arvoredo, amparados pelos frutos.

Não se revoltariam por lutar nem se deixariam abater se a terra lhes negasse as primeiras dádivas, na colheita.

Pelo tirocínio, o homem sabe que, plantando, a produção advirá se os requisitos necessários forem observados e o trabalho for desenvolvido dentro das injunções tecnológicas.

É compreensível, portanto, o não haver lugar no mundo dos negócios nem dos prazeres para os lídimos cristãos. Não têm eles a pretensão de receber eflorescência antes da sementeira nem se podem candidatar à colheita enquanto a terra coberta de urze se consome na inutilidade. Sabem que o tempo desperdiçado na inoperância é abuso da fortuna do Senhor e é roubo à atividade da vida.

Por essa razão, sofrem.

Quanto mais se deixam absorver pela luta fastidiosa, sob o sol causticante, mais se lhe acentuam as rugas da dor, mais se aprofundam as feridas das mãos, mais se avoluma o cansaço sobre as costas. Porque o trabalhador fiel não se detém a reclamar nem a exigir: ele sabe que há tempo para semear como há tempo para colher.

Espíritas! Serviço cristão é sofrimento, porta de serviço para a renovação de si mesmo, estrada longa a percorrer sítios difíceis a transpor!

Náufragos não têm condições de escolher batéis salva-vidas; presidiários não podem escolher sítios para a liberdade; déspotas, no ofício da reparação, não dispõem de credenciais para as tarefas a executar.

A tua é a acre-doce luta da transformação interior.

Muitas vezes o vinagre da ingratidão ser-te-á o tônico de reconforto sob a canícula solar.

A mão espalmada do "vingador" sobre ti representará a cobrança da dívida adiada, que não podes reclamar; o desprezo, em forma de escárnio traduzirá o apelo-convite à humanidade que não pode ser desconsiderada.

E a solidão, originária nas vergastadas e no abandono te conduzirá à trilha por onde chegarás ao porto da espiritualidade maior.

Ninguém guarde, por enquanto, coroas brilhantes para a cabeça nem se iluda com os ouropéis mentirosos que enganam o tempo.

Tapetes estendidos para os teus pés podem esconder abismos, como muitas pinturas brilhantes disfarçam manchas e escabrosidades...

Tua tarefa é de sublimação interior no dia-a-dia. Para quem sabe discernir cada dia guarda uma lição; cada lição é mensagem de experiência; cada experiência significa aprendizado; cada aprendizado representa bênção e cada bênção traduz oportunidade evolutiva.

Aproveita, assim, as ensanchas que te surgem mesmo com as suas carregadas tintas e aprende a silenciar a ofensa, a desculpar o ultraje, a esquecer a malquerença, pontificando no bem infatigável sob chuvas de granizo ou vapores terrificantes de calor. Não pretendas melhor dádiva do que aquela com que foi aquinhoado o Mestre a quem serves, que, vendido, açoitado, escarnecido, e plantado numa cruz, ainda foi constrangido pela dúvida de Tomé, companheiro desatento que estava ausente...

E, se duvidam de ti - bendize ao Senhor; se zombam de ti - confia no Senhor; se te abandonam - busca o Senhor que recebeu por companheiros, à hora extrema, dois criminosos que a penologia atual, embora não os levasse à cruz, daria a cela úmida e imunda do presídio a fim de cerceá-los do convívio social em nome da ética e dos direitos legais da Sociedade.




                                                                        Divaldo Pereira Franco - Joanna de Ângelis

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Valores Imperecíveis





Moral, ensinam os benfeitores espirituais, é a regra de bem proceder.
Mark Twain, o célebre escritor americano, teve oportunidade de afirmar que as lições de moral que realmente permanecem são as que vêm da experiência.
Um arquiteto de sucesso de Nova York é a prova viva desta afirmativa.
Recorda ele que, com onze anos de idade, costumava ir com o pai ao chalé da família, que ficava numa ilha no meio de um grande lago.
A maior diversão era a pescaria no cais. Certa feita, às vésperas da temporada de pesca, ele e o pai saíram no final da tarde para pegar peixes-lua e percas, cuja pesca estava liberada.
A lua derramava seu manto de prata sobre as ondulações da água, enquanto ele praticava arremessos com o caniço.
De repente, o caniço vergou. O pai o olhou com admiração. Devia ser um peixe grande.
Finalmente, ele o levantou, retirando-o da água. Era o maior peixe que já tinha visto.
Pai e filho olharam o peixe, lindo, as guelras para trás e a frente sob a luz da lua. O pai consultou o relógio. Eram dez horas da noite.
A temporada de pesca seria aberta à meia-noite. Faltavam apenas duas horas.
O pai olhou para o peixe, depois para o menino.
Você sabe que o terá de devolver para a água, filho.
O menino reclamou.
Vai aparecer outro peixe, disse o pai.
O garoto olhou em volta. Não havia nenhum outro pescador. Nenhum barco visível ao luar. Não havia guardas. Ninguém. Por que não ficar com o peixe? Quem saberia que ele fora retirado da água, somente duas horas antes do prazo legal?
Entretanto, a decisão do pai não era negociável. Ainda olhou para ele, como a suplicar reconsideração. Sem êxito. Devagar, tirou o anzol da boca do enorme peixe e o devolveu ao lago.
A criatura movimentou rapidamente seu corpo poderoso e desapareceu.O olhar triste do garoto o acompanhou, por um segundo.
Em sua alma, tristonha, pensou:
Nunca mais vou ver um peixe tão grande como este!
E James tinha razão. Passaram-se trinta e quatro anos, desde então. O chalé de seu pai continua no mesmo lugar.
Todo ano, ele leva seus filhos e filhas para pescar no mesmo cais, na ilha no meio do lago.
Nunca mais conseguiu pescar um peixe tão maravilhoso como o daquela noite de luar, duas horas antes de abrir a temporada de pesca.
Contudo, James vê sempre o mesmo peixe toda vez que se depara com uma questão ética ou moral.
Ele aprendeu com seu pai que moral é uma questão de certo e errado.
Sua prática é que, por vezes, se torna complicada. Será para ser praticada somente quando alguém está olhando?
Aqueles que tivemos pais que nos ensinaram a devolver o peixe para a água, quando éramos crianças ou jovens, aprendemos que não se trata de gozar da oportunidade de derrotar o sistema, de enganar a outrem, para proveito próprio.
Trata-se de fazer a coisa certa e se sentir fortalecido para sempre. A decisão será tomada sem pestanejar e poderemos contar aos nossos filhos e netos, com orgulho.
Porque o valor de um homem não está no quanto ele tem em sua conta bancária, ou em bens móveis e imóveis, mas no caráter que lhe dita as ações, todos os dias.
Caráter que transmite confiança, valor e confere dignidade à própria vida.



                                                                   Redação do Momento Espírita

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Perdoar a Si Mesmo


 
Quando Ava descobriu que estava grávida, teve um choque. Havia tomado as precauções necessárias, mas alguma coisa não tinha saído como planejado.
Era muito jovem. Pensou nos planos que havia construído para o futuro, nas viagens que queria fazer, nos cursos, no emprego dos seus sonhos. Nada disso seria possível se ela tivesse que se dedicar à maternidade.
Ela acreditava que para realizar o que tanto almejava não seria possível constituir uma família.
A ideia de ter um filho era assustadora e inaceitável. Decidiu-se pelo abortamento.
Não contou a ninguém. Simplesmente comunicou a decisão ao namorado, que se mostrou bastante aliviado. Também ele não queria filhos.
Apesar de ser cristã e ter consciência de que estava prestes a cometer um crime que violava leis humanas e Divinas, não voltou atrás. O pavor que sentia era mais forte que sua crença.
Em silêncio, procurou uma clínica e se submeteu a um procedimento que interrompeu a gravidez.
Os anos se passaram. Ava estudou, se formou, viajou, construiu a tão sonhada carreira. Mas não foi feliz. O remorso a acompanhava todo o tempo. Quando via uma mãe com um filho, pensava naquele que impedira de nascer.
E assim foi criando em si um sentimento destrutivo, potencializado pela ação de outros pensamentos negativos.
A vida trouxe muitos reveses e Ava, sob o peso dos erros, da culpa, da invigilância, do afastamento do bem, da falta de oração, deixou-se envolver em uma negatividade aflitiva e crescente.
Uma noite, angustiada e pensando em tirar a própria vida, ouviu pelo rádio uma mensagem, que parecia ter sido escrita e ditada para ela.
Aquelas palavras falavam de amor, perdão e autoperdão. Uma frase, em particular, a fez parar o carro e colocar para fora, aos prantos, toda a culpa, dor e medo que sentia. Dizia a mensagem:
Tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobre uma multidão de pecados.
As palavras do Apóstolo Pedro se aninharam em seu íntimo e Ava percebeu que, mesmo sendo impossível voltar no tempo e reverter o erro, ela poderia mudar a forma como vinha agindo e pensando, compensando todo o mal causado, com amor sincero, verdadeiro e desinteressado aos que sofriam.
Buscou ajuda fraterna em uma Casa Espírita. Foi aconselhada e orientada. Iniciou estudos e trabalhos voluntários.
Passou a dedicar a maior parte de seu tempo a ajudar o próximo.
Orava sempre, com fervor, e pedia forças a Deus. Lutava para erradicar seus defeitos e fortalecer suas qualidades.
Compreendeu a necessidade de perdoar todas as pessoas que a tinham magoado e pedir perdão àquelas que tinha ofendido, agredido, magoado, nesta e em outras existências.
E assim foi-se processando em Ava uma transformação.
Movida pelo amor, pela fé em Deus e em Seu amor, pela vontade de ser alguém melhor, tornou-se uma pessoa mais equilibrada, mais forte.
Sabia que seu erro havia sido grave e que responderia por ele. Mas também sabia que Deus a amparava e inspirava a buscar o melhor em si, aperfeiçoando-se e transformando-se a cada dia.
Pensemos nisso: nenhum erro é irreparável, contudo, cabe-nos zelar para não incidir na mesma falta.



                                                                   Redação do Momento Espírita

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Gestos Que Salvam Vidas




A chuva caía fina e gélida na tarde quieta. Longe, na estrada, um carro parou. Era pequeno e meio velho.
Um rapaz saltou, levantou o capô e se pôs a mexer em tudo que viu.
O fazendeiro, de onde estava, pensou: Coitado. Pelo jeito, não entende de mecânica.
Vestiu sua capa de chuva e caminhou até a estrada. O jovem estava muito nervoso, mexia no carro, voltava, tentava dar a partida, passava as mãos pelos cabelos.
Quer ajuda?
O rapaz parecia prestes a chorar.
É a bobina. – Diagnosticou o fazendeiro, depois de uma boa olhada.
Buscou seu cavalo, rebocou o carro até o seu celeiro e, com seu próprio carro, foi à cidade comprar uma bobina nova.
Estranhou que, ao chegar à loja, o rapaz não quisesse entrar. Deu-lhe o dinheiro necessário e disse que tinha vergonha, por estar molhado.
Mais tarde, com o carro funcionando, pronto para partir, a esposa do fazendeiro insistiu para que ficasse para o jantar.
Não era hábito convidar estranhos para adentrar a casa. Contudo, aquele rapaz parecia aflito, meio perdido. Poderia, talvez, ser seu filho.
Ele quase não comeu. Continuava preocupado, ansioso. A chuva se fez mais forte. O casal preparou o quarto de hóspedes.
Na manhã seguinte, suas roupas estavam secas e passadas. Ele se mostrava menos inquieto. Alimentou-se bem e despediu-se.
Quando pegou a estrada, aconteceu uma coisa estranha. Ele tomou a direção oposta da que seguia na noite anterior.
O casal concluiu que ele se confundira na estrada.

*   *   *

Os anos passaram. Então, chegou uma carta endereçada ao fazendeiro:
Sr. McDonald, não imagino que o senhor se lembre do jovem a quem ajudou, anos atrás, quando o carro dele quebrou.
Imagine que, naquela noite, eu estava fugindo. Eu tinha no carro uma grande soma de dinheiro que roubara de meu patrão.
Sabia que tinha cometido um erro terrível, esquecendo os bons ensinamentos de meus pais.
Mas o senhor e sua mulher foram muito bons para mim. Naquela noite, em sua casa, comecei a ver como estava errado.
Antes de amanhecer, tomei uma decisão. No dia seguinte, voltei ao meu emprego e confessei o que fizera.
Devolvi o dinheiro ao meu patrão e lhe implorei perdão.
Ele podia ter me mandado para a prisão. Mas, por ser um homem bom, me devolveu o emprego. Nunca mais me desviei do bom caminho.
Estou casado. Tenho uma esposa adorável e duas lindas crianças. Trabalhei bastante. Não sou rico, mas estou numa boa situação.
Então, resolvi criar um fundo para ajudar outras pessoas que cometeram o mesmo erro que eu. Dessa forma, acredito poder pagar pelo meu erro.
Que Deus o abençoe, senhor, e a sua bondosa esposa.
Os olhos do casal se encheram de lágrimas. A esposa colocou a carta sobre a mesa e citou versículos do capítulo vinte e cinco do Evangelho de Mateus:
Era peregrino e me recolheste. Tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber.
Estava nu e me vestistes. Estava enfermo e me visitastes. Estava no cárcere e me fostes ver.
Em verdade, todas as vezes que fizestes isto a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.



                                                                 Redação do Momento Espírita

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A Voz do Tempo





O que é o tempo?
Somos nós que passamos por ele ou é ele que, inexorável, passa por nós?
Onde estão, se é que existem, as tênues linhas que separam passado, presente e futuro?
A natureza do tempo tem sido um dos maiores problemas filosóficos desde a Antiguidade: a forma como ele flui, a sua linearidade, suas propriedades, sua relatividade.
Cada um pode percebê-lo de maneira distinta, conforme as circunstâncias. Numa situação agradável, passa depressa, quase a galope. Todavia, numa situação penosa, passa devagar.
Uma coisa, porém, é certa: o tempo, envolto em seus mistérios, é dono de uma voz mansa, de um toque gentil, de um abraço reconfortante, de uma sabedoria absoluta que nos envolve e nos alcança a todos.
Voltemos os olhos aos nossos corações: quantas feridas o tempo já cicatrizou? Quantas mágoas foram por ele diluídas nas brumas do ontem? Quanta sabedoria adquirimos por conta da cinza das horas?
Muito devemos a ele. O tempo. Silencioso tempo. Impassível tempo. Generoso tempo.

* * *
O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor. Embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento. Sem medida que o conheça, o tempo é, contudo, nosso bem de maior grandeza: não tem começo, não tem fim.
Rico não é o homem que coleciona e se pesa no amontoado de moedas, e nem aquele que se estende, mãos e braços, em terras largas.
Rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso.
Não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o com sua sabedoria para receber dele os favores.
Somente a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas.
Não devemos, contudo, retrair-nos no trato do tempo, bastando que sejamos humildes e dóceis diante de sua vontade.
O tempo sabe ser bom. O tempo é largo, o tempo é grande, é generoso, é farto. É sempre abundante em suas entregas. Diminui nossas aflições, dilui a tensão dos preocupados, suspende a dor dos torturados.
Traz a luz aos que vivem nas trevas, o ânimo aos indiferentes, o conforto aos que se lamentam, a alegria aos homens tristes, o consolo aos desamparados.
Também a serenidade aos inquietos, o repouso aos sem sossego, a paz aos intranquilos, a umidade às almas secas.

* * *

O tempo é manancial de sabedoria que flui por entre nossas existências.
Nas incertezas do caminho, nos momentos de angústia, nas aflições da jornada, confiemos nele, que tem a medida de todas as coisas e o consolo para todas as lágrimas.
Jamais nos permitamos acreditar que não há tempo. Fechemos os olhos, ouçamos sua voz...
Lá ele está: o tempo de um abraço, de um sorriso, de um ato de caridade, de uma mudança de vida. O tempo para a família, para os amigos, para nós mesmos, para Deus.
Sempre há tempo.




                                                                    Redação do Momento Espírita